Galinha audaz para romper com o assistencialismo e o machismo
Uma galinha valente. Assim é descrita uma espécie de ave natural do clima inóspito do Corredor Seco da Guatemala. Elas aguentam a fome e até as tormentas, comuns nessa região. Esse era um dos epicentros da fome no mundo. Tinha a mais alta taxa de desnutrição crônica de toda a América Latina. Ali tudo é muito seco e quente. De tempos em tempos, não chove nem uma gota de água devido ao fenômeno climático El Niño. E quando chove é devido a furacões. Tinham grandes florestas com muita água, mangas e abacates. Há 25 anos, as motosserras derrubaram quase todas árvores.
Plantio de árvores e criação de galinhas, o plano do BID.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) criou um plano para desmontar essa dura equação de fome e falta de trabalho na região. A longo prazo, vem trabalhando com as comunidades na plantação de árvores que restaurem os solos esgotados pela seca e, também, forneçam sombra para plantios de feijão, milho e café, plantas que foram adaptadas para viver em altas temperaturas. Com incentivos econômicos para proteger as florestas, homens e mulheres recuperaram 5.000 hectares nos lugares mais necessários para recuperar os escassos recursos de água. Mas salvar as florestas não era uma solução imediata para resolver a fome.
As galinhas de pescoço pelado.
Um grupo de cientistas de uma universidade guatemalteca entrou com o estudo de uma espécie de galinha que vivesse melhor em condições tão adversas. Descobriram, após vários testes, que a galinha de pescoço pelado, uma ave que fora autóctone daquela região e estava desaparecida, era a melhor opção. Agora, trabalham para descobrir o peru autóctone, melhor adaptado. O banco entrou com 60.000 galinhas. Também financiou cursos nas pequenas escolas para que as mulheres aprendessem, em dois meses, sobre os cuidados, a reprodução e as vacinas a serem administradas nas aves. Cada mulher recebeu 10 galinhas e 2 galos de nove meses de idade. Agora, cada mulher conta com a produção de 50 ovos por semana para incrementar as refeições da família e vender o excedente. O assistencialismo no Corredor Seco da Guatemala.
O machismo que mata não uma mulher, mas uma geração inteira de meninas.
Com o esforço feminino na produção de galinhas e ovos, a iniciativa conseguiu que um terço da meninas aumentassem em peso e estatura até 27%. No passado, os raros alimentos eram destinados aos meninos para que pudessem trabalhar no campo, um tipo de machismo cultural muito arraigado. Pouco antes da pandemia, as 6.000 famílias das aldeias já estavam gerando 3,2 milhões de dólares. Antes, não havia geração de renda alguma, viviam da crônica assistência governamental. Atualmente, produzem carne, ovos, feijões, milho, soja e madeira das florestas que plantaram. Há algum governante brasileiro disposto a romper com o assistencialismo? E com o machismo no trabalho? Impossível, o assistencialismo rende votos... perpetua o poder.