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Em Pauta

Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 02/12/2024 07:00
Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

Os estudiosos marxistas criaram o mito de que o radicalismo surgiu no Brasil com os anarquistas de São Paulo, no inicio do século passado. É um mito. O radicalismo aparece muito antes, no Rio de Janeiro. Em 1.860, liderados por Saldanha Marinho e Francisco Otaviano, saíram às ruas do Rio de Janeiro “arengando os votantes”, clamando aos eleitores, e agitando lenços brancos transformados em símbolo da campanha radical. Foi a primeira experiência de algo parecido com um comício político na história do país. Mas, calma, eles nada tinham de anarquistas, comunistas ou socialistas, eram liberais. Na concepção política inovadora e nas profissões. Eram advogados, jornalistas e médicos. Um deles, Bernardino Pamplona, era fazendeiro paulista.


Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

A guerra impediu o avanço dos radicais.

A guerra contra os guaranis de Solano Lopez causou um retrocesso no movimento radical. Eles avançavam, especialmente por terem conquistado o voto distrital, infringindo assim, derrotas a filhos de tradicionais nobres conservadores. A situação do país agravou-se com a traumática derrota dos aliados em Curupaiti em setembro de 1.866. O desastre paralisou as atividades bélicas durante um ano, enquanto se agravava o desentendimento entre os chefes militares brasileiros entre si e com os chefes aliados. Virou o caos. Caxias, um conservador sem militância alguma, tinha recusado o posto de chefe das tropas brasileiras no inicio da guerra. Só aceitou após receber um pacote de mudanças que destituía o almirante Tamandaré, comandante da “esquadra”, como chamavam a Marinha. Tamandaré era vinculado aos liberais. De onde se vê que as desavenças entre marinheiros e soldados do exército é muito antiga.


Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

O Brasil dormia sobre um vulcão.

O primeiro grande estudo sobre a escravidão pertence a um dos radicais. Em 1.866, em três volumes, apareceu o monumental “A escravidão no Brasil, ensaio histórico, jurídico e social“, de Agostinho Marques Perdigão Malheiros. O livro era um erudito arrazoado sobre essa pauta, tão cara aos radicais. Malheiros fazia um apelo à resolução do problema e um alerta para o perigo que representava. Segundo o autor, o país dormia sobre um vulcão. Outro autor que causou comoção foi José de Alencar. Considerado um conservador, o poeta, em suas “Cartas de Erasmo”, agitou o país com o ideário radical.


Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

As reformas radicais.

Cinco deveriam ser as reformas propostas pelos radicais. Todas eram razoavelmente conhecidas. Tratavam de eleições, da policia, do recrutamento militar, da Guarda Nacional e uma novidade: a questão servil. Propunha a liberdade dos bebês negros e a libertação gradual dos escravos. Eles inovaram também com um novo método de fazer politica: as conferências. Outra mudança radical foi falar pela primeira vez à “população laboriosa”, trabalhadores que não eram escravos. É muito importante entender que essa população laboriosa, via de regra, não votava. O voto era exclusividade do que podemos chamar “classe média alta”, ricos e nobres.


Lenços brancos, o surgimento do radicalismo no Brasil

Quem eram os radicais.

Eles eram jovens. Foram conhecidos como uma geração, um grupo de moços, de coração e ideais, que contava com Graciliano Aristides do Prado Pimentel, de 30 anos. Eram obscuros. Além de Aristides, Henrique Limpo de Abreu, Monteiro de Sousa e Francisco Rangel Pestana, todos com menos de 30 anos, formavam aquilo que pode ser denominado a linha de frente radical. Fundaram um jornal chamado “Opinião Liberal“. Havia um caçula entre eles, Rui Barbosa, um jovem de 20 anos, que mais à frente, se tornaria o mais conhecido. Pelo status social, no entanto, não se distinguiam de seus pais e predecessores na política. Foram eles que redigiram o “Manifesto Republicano”, assinado por 47 jovens. Curiosamente, se autoproclamaram “homens do povo”. Outra novidade é que afirmavam que “falavam em nome do povo”. Isso é muito estranho, beira o subversivo, todos, antes deles, “falavam em nome do rei ou de nobres”. Mas homem do povo mesmo só havia Luiz Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama, que fez a primeira conferência radical de São Paulo. Um jornal o definiu como “o verdadeiro homem do povo”.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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