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Em Pauta

Na falta de medicamentos, o ipê-amarelo era “para-tudo”

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 29/09/2024 13:55
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Estamos em uma fazenda, entre Maracaju e Rio Brilhante, no inicio do século passado. Nela, havia uma casa grande, as famílias da região tinham mais de dez filhos. A fazenda mais próxima ficava a 50 quilômetros de distância e era bem semelhante a que estamos visitando. Criavam milhares de vacas, mas eram “pobres fazendeiros ricos”. Tinham um vasto patrimônio, mas nada havia para comprar. Apenas sal e arame, vinham de fora da região. Era uma região despovoada, não havia índios, brancos, negros….ninguém. Bandidos brancos e indígenas atacavam. Poucas fazendas voltaram para seus donos originais após a guerra do louco Solano Lopes. Quem adoecia dava um passo importante para a morte. Não havia médicos e nem medicamentos.


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Te benzo, te curo, com bosta de burro.

O primeiro médico a chegar no Mato Grosso do Sul será Vespasiano Martins, filho dessa região. Vespasiano, todavia, não praticou medicina nessas redondezas, trabalhou em C.Grande. A reduzida corporação medica brasileira se concentrava no Rio de Janeiro e em Salvador. O nosso “sertão “era considerado pobre e isolado em relação a tantos outros “sertões”. Se pautava por uma economia de subsistência. Essa pobreza se refletia também na saúde, sem médicos, sem boticas (farmácias) e sem boticários. Restavam as benzeções….”Te benzo, te curo, com bosta de burro”, era a mais exercida “prática médica“.


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Um mundo de crendices.

Enfrentavam as pestes e doenças utilizando elementos da flora e da fauna, saberes inventados, mezinhices, benzeções e superstições religiosas. A fé e a medicina estavam irmanadas. Muitas doenças eram desconhecidas. Quase todas recebiam o “diagnostico” de “incuráveis”.


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Ferro incandescente no peito.

Quem dispunha de algum dinheiro nessa região, ia a Concepción, no Paraguai, para tratar de doenças mortais conhecidas. Um dos tratamento mais cruéis que temos noticia era por lá praticado para tratar tuberculose, conhecida como “tísica”. Consistia em dolorosas aplicações de ferro incandescente no peito. Raros pacientes sobreviviam à dor.


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Na falta de leite materno, usavam mingau esquisito.

Conhecemos os cuidados que os bebês recebiam quando a mãe não tinha leite. Crescia a criança à base de mingau de raspa de mandioca, farinha de milho e mel.


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Ipê-amarelo era “para-tudo”.

Muito conhecida e usada para diversas finalidades era a planta “para-tudo”. Usavam uma infusão ou xarope da casca dessa árvore. E era, realmente, para-tudo. Valia para gripe, resfriado, bronquite, tosse, inflamações em geral, problemas estomacais, vermes, diabetes e em qualquer febre. O para-tudo é nosso conhecido e idolatrado ipê-amarelo (Tabebuia áurea).

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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