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Em Pauta

Na política, saem católicos, entram evangélicos. Como isso aconteceu?

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 25/10/2024 08:00
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As duas candidatas à prefeitura de C.Grande são evangélicas. O prefeito anterior, M. Trad, migrou do catolicismo para o evangelismo, assim que percebeu as vantagens eleitorais de professar essa religião. São apenas alguns poucos exemplos. Pablo Marçal, o furacão que quase devastou a tradicional politica de São Paulo, está trazendo para o Brasil um movimento que denomina “QGR - Quartel General Religioso”, um racha no meio evangélico antigo denominado “Quakers” que, dentre outras mudanças, condena o dízimo. Há muitos mais. Como isso tudo começou?


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Uma criança doente recorre à Bíblia.

O texano Kenneth Hagin, nascido em 1.917, era uma criança doente. Desde os nove anos, ficou confinado na casa do avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e preso a uma cama, tinha poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Em 1.934, Hagin teve algo que chama de “uma revelação”. Compreendeu repentinamente o significado de uma passagem no Evangelho que diz: “Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste, e será assim convosco”. Hagins então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela cura e levantou-se da cama. A mensagem que Hagins popularizou por meio de mais de cem livros era clara: Deus é capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. É assim que os devotos creem que não lhes faltará saúde e nem dinheiro.


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A explosão evangélica.

Um em cada seis brasileiros são evangélicos. Por enquanto. Todos os estudiosos acreditam que o evangelismo crescerá ainda mais no Brasil. É a doutrina da prosperidade conquistando cada vez mais adeptos. No começo, foi praticamente ignorada pelas classes médias. Os templos evangélicos surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das grandes cidades. Mas, há meio século, os evangélicos tem a religião que mais cresce no país. Há notícias incríveis de seu poder. Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para eles. As pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Mas a chegada do evangelismo tem mais de 400 anos de atraso no Brasil. É fruto da reforma protestante que varreu a Europa no século XVI.


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Evangélico é igual protestante?

Evangélico, é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestante, por mais que eles não aceitem. As duas palavras são sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1.517, quando o Brasil ainda não tinha portugueses e espanhóis. Lutero estava enfurecido com o comportamento dos padres, que, segundo ele, tinham virado corretores imobiliários do céu. Comercializavam “indulgencias”- vagas no Paraíso para quem pagasse. Era um céu só para ricos. Pobres, só podiam ir para o inferno. Luto abriu a primeira fenda no até então indevassável poder papal sobre as almas do Ocidente. A ele se seguiram muitos outros. O suíço João Calvino é o mais importante. Também surgiram rachas, do racha, do racha…. uma sucessão incrível de novas correntes evangélicas.


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O primeiro culto evangélico no Brasil.

O Brasil português passou quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os calvinistas franceses, que invadiram o Rio de Janeiro e os que tomaram as terras pernambucanas. O primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado pelos franceses no Rio de Janeiro em 1.557, só 57 anos depois da missa católica inaugural na Bahia. Era proibido realizar cultos de qualquer religião que não o catolicismo no Brasil dos portugueses. A liberdade religiosa demoraria mais de 300 anos. Veio com a independência, na Constituição de 1.824. Mas impunha restrições absurdas. Por exemplo: era proibido realizar cultos em locais que não tivessem “aparência exterior de templo”. No mesmo ano, alemães fundaram a primeira comunidade luterana no Brasil. Logo depois, chegaram os metodistas, dispostos a pregar nas ruas para salvar almas. Caíram nas graças da elite intelectual republicana, impressionada com a “ética protestante”. Essa elite passou a defender a presença dos metodistas como condição para a modernização do pais.


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E chegou o pentecostalismo….

Mas os protestantes que prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a ética europeia preconizada por Weber. No início do século XX, a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil , inaugurada pelo italiano Luigi Francescon, em 1.910, e a Assembleia de Deus, aberta um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Começava a primeira onda do pentecostalismo tupiniquim. O movimento era desaprovado tanto pelos católicos como pelos protestantes históricos. Ambos criticavam a exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo. O mais notável desses poderes é a capacidade de curar doenças. Daí as cenas de aleijados abandonando muletas e cegos enxergando. Os antigos protestantes sempre foram formais e contidos.

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