Pelado, perder os dentes...os sonhos são iguais para todos
Está em um carro ou ônibus a caminho de um exame. Chega tarde. Erra o caminho. Olha para os pés e está descalço. Só agora percebe que está pelado. É habitual sonharmos chegando tarde para um exame ou uma prova importante. Com variações, esse é um sonho universal. É igual sonhar que estamos pelados em um lugar com mais pessoas... todas vestidas. Também é comum o sonho da queda de dentes. Ou que estamos caindo. Por que há tanta gente sonhando igual, sonhando que estamos pelados mesmo não sendo nada comum irmos à rua sem calças?
A simulação de ameaças.
Sobre os sonhos continuamos sabendo muito pouco. Mas sabemos que dormir e sonhar tem um papel importante na regulação das emoções e na consolidação da memória. Mas há boas hipóteses. Uma das mais aceitas é de que os sonhos são mecanismos adaptativos. Facilitam ao nosso cérebro a gestão das emoções e nos ajudam a enfrentar situações novas.
Segundo essa teoria - majoritária - de "simulações de situações ameaçantes", quando sonhamos encenamos situações e cenários. Se estamos preocupados com o trabalho, por exemplo, sonhamos que tudo correrá muito mal como uma forma de antecipar nossas reações em caso de fracasso. O despertador tocará? Estaremos preparados a tempo? Saberemos encontrar o lugar? Conseguiremos expressar nossas ideias?
Já o caso do pelado está vinculado ao que denominam de "síndrome do impostor". É o medo irracional de que alguém identifique nossas vitórias como imerecidas e meros frutos do acaso.
Sempre estamos enfrentando medos e preocupações, por isso é mais frequente que os sonhos apareçam em momentos de estresse.
Estão caindo meus dentes!
A teoria da simulação de ameaças também surge com a queda de dentes em nossos sonhos. Há seculos, alguém sonharia que chegou tarde a uma audiência com o rei ao invés de enfrentar um exame. Mas a queda de dentes é, além de universal, atemporal. Essa é uma das imagens que sempre compartilhamos através do tempo.Os sonhos são como ler Shakespeare - a ambientação pode mudar, mas os grandes conflitos são sempre os mesmos. E é essa a explicação que os estudiosos estão dando para a queda de dentes nos sonhos. São sonhos arquetípicos, estão presentes em todas as culturas, em todos os tempos. Projetam nossos medos ancestrais.
Estão me perseguindo!
Em torno de 6% dos adultos têm um pesadelo por mês. Entre 1% e 2% sofre pesadelos frequentes, que podem chegar a ser semanais. Segundo o estudo "Why We Dream" (Por que sonhamos?) o cenário mais comum dos pesadelos são as perseguições, seguidos pelos ataques. Já as emoções mais habituais enquanto sonhamos são: medo, impotência, ansiedade e culpa. Esse fato reforça a teoria ad simulação de ameaças: nos preparamos para situações e cenários difíceis.
Cair e despertar.
Soar que alguém voa ou cai tem outra explicação. Na transição entre o sonho e a vigília podem ocorrer experiência oníricas. Quer dizer, ainda não estamos totalmente despertos e nem dormindo e nos aparecem imagens e sensações dos sonhos. Nesses momentos, podemos perder a sensação táctil de estarmos apoiados sobre um colchão e nosso cérebro interpreta que estamos caindo. Ou que estamos voando.
Não é o único caso em que a fisiologia influencia no conteúdo do sonho. Ter sede pode nos levar a sonhar com o deserto ou com um incêndio. O corpo vai incorporando informações enquanto sonhamos. E é claro, algumas vezes necessitamos sonhar com um banheiro.
O sonho e a criatividade.
Robert Louis Stevenson contava que havia sonhado com a transformação do médico em monstro que levou a seu famoso livro. Mendeleyev sonhou com a organização de sua tabela periódica depois de ter cometido o erro de trabalhar três dias sem dormir. Não é raro que artistas e cientistas tenham encontrado a solução de problemas depois de umas boas horas de sono já que enquanto dormimos nosso cérebro treina para enfrentar diferentes problemas.
Não se trata de nenhum método místico, mas quando dormimos e sonhamos, associamos ideais. Por mais que seja difícil de aceitar, nosso cérebro está mais ativo durante a fase REM do sono (quando sonhamos) que quando estamos despertos. A grande diferença é que desativamos o pensamento racional no sono.