Ciência é imprescindível para o Pantanal
O remédio que usamos, a roupa que vestimos até mesmo o vento que a toca a pele ou bagunça o nosso cabelo. Em tudo a ciência se faz presente. Prova maior disso se encontra no calendário: o próprio ano de 2020 que seja pelo susto da nuvem de gafanhotos em países da América do Sul, aos incêndios no Pantanal brasileiro e, mais ao norte, na Floresta Amazônica ou a pandemia, Covid-19, que há nove meses se instalou por todo o globo. Uma coisa é certa: nunca neste começo de milênio o saber científico se fez tão necessário.
E, talvez, nunca este mesmo conhecimento tenha sido colocado tão em dúvida, em razão de algo nada racional – as fakes news – que dissemina informações falsas sem nenhum baseamento científico. Daí a necessidade de um agente social tão importante nesse cenário do caos: o cientista com suas inúmeras pesquisas. Ele, que assim como um marinheiro em meio a um mar revolto, faz uso do conhecimento e das ferramentas que tem nas mãos para solucionar problemas e traçar rotas de segurança.
Em Mato Grosso do Sul, um exemplo claro disso é o Programa Corredor Azul que tem na ciência ações locais para preservar e aprimorar as interconexões sociais, políticas, ambientais e econômicas de três grandes áreas úmidas (o Pantanal, os Esteros de Iberá e o Delta do Paraná). Biomas que compõem um corredor ecológico ímpar no planeta e, que corta quatro países da América do Sul: Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina.
Um programa implantado em 2017 pela Wetlands International em parceria com a Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal, que já tem demonstrado resultados e que no nome “Corredor Azul”, indica a finalidade do trabalho que é encontrar um caminho mais ecológico, tendo na ciência o melhor guia rumo ao convívio mais harmônico entre homem e natureza.
“Preservar uma área úmida é garantir manutenção de água doce do planeta, o equilíbrio climático e prover serviços ambientais indispensáveis na produção de alimentos e outros benefícios diretamente ligados a sociedade. Há cerca de uma hora da grande metrópole Buenos Aires, o Delta do Paraná, na Argentina, por exemplo, é uma das áreas focais do Programa. Local onde se encontra uma dessas áreas úmidas, que desempenha forte influência sobre a manutenção do microclima ou qualidade do ar na região”, explica a diretora da Wetlands International Brasil e da Mupan, Rafaela Nicola.
Pontos que nos deixam claro que florestas e áreas úmidas são mais interessantes quando estão de pé do que derrubadas ou mesmo reduzidas as cinzas. “A pesquisa tem a capacidade de entender o passado e o presente para projetar o futuro, de modo que possa ajudar os gestores público nas tomadas de decisões. E duas pesquisas que estamos desenvolvendo que podem servir de modelos nisso são: A Avaliação dos Serviços Ecossistemas do Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai e a Pesquisa de Produção do Cenário de uso do Solo”, conta Fábio Roque, professor pesquisador da UFMS e colaborador do Programa Corredor Azul.
A primeira vem para avaliar o quão a natureza promove serviços e/ou benefícios às pessoas no que implica o controle hidrológico, de polinização, sedimentação, estoque de carbono e de peixes. Enquanto a outra está relacionada com uma projeção do que vai acontecer com o Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai, nos próximos anos 30 ou 50 anos, caso nada seja feito em relação ao uso do solo, da água e ao grande número focos incêndios daqui até 2050 ou 2100.
Um trabalho que ao contrário do que muitos pensam não se encontra restrito aos laboratórios, como um Olimpo inacessível. Mas, algo aplicável no dia a dia e ao alcance da sociedade. “Cientistas e população podem trabalhar em projetos colaborativos de coprodução do saber e não só aquela coisa de ‘a ciência diz e as pessoas fazem’. Uma dica é que as pessoas busquem as universidade e organizações, agendem uma visita para conhecer e de que forma podem contribuir”, aponta Fábio.
E, no Pantanal existem redes de pesquisas já estabelecidas que buscam criar esses diálogos com indígenas, quilombolas e comunidades rurais. Dois deles executados no território Indígena Kadiweú, que possui cerca de 538 mil hectares, no município de Porto Murtinho. “Pelo Corredor Azul há o trabalho voltado ao fortalecimento dos brigadistas indígenas, e tem o projeto Noledi, da UFMS, que estuda os efeitos do fogo no Pantanal”, lembra o pesquisador.
Trabalhos que evidenciam que ciência e sociedade não só devem andar juntas como a pesquisa é uma importante aliada na preservação dos recursos naturais e aos meios de produção: economia sustentável. E que apesar de tudo que uma pandemia implica, é importante proteger o orçamento da ciência, sem cortes de verbas públicas. Assim como é mais importante considerar o saber científico do que as correntes de mensagens do Whatsapp. Afinal, seja no tão sonhado retorno do convívio social com a corrida da vacina, até a garantia da manutenção da raça humana no planeta Terra e controle de mudança climática, tudo passa sempre pelo mesmo caminho: a ciência.
(*) por Wetlands International Brasil