Interação entre fauna e flora é vital para recuperar Pantanal
Com mais de um quarto do Pantanal já atingido pelas chamas em 2020, recuperá-lo não será uma das tarefas mais fáceis, mas a própria natureza tem essa resposta, que está em sua biodiversidade.
O Pantanal tem uma dinâmica diferente dos outros biomas, em um período do ano há as secas e outro período há as cheias que deixam boa parte de seu território alagado. Porém este ano foi atípico, com baixas históricas nos rios e seca extrema, como não se via há mais de 40 anos. Além disso, o número de incêndios também é gigantesco, sendo mais de 20 mil focos até o início deste mês.
Por lá existe espécies de plantas adaptadas ao clima seco e até resilientes ao fogo, que têm como características caule e cascas grossas para suportar o calor extremo, típicos em espécies do cerrado. “Mas essa resiliência pode diminuir com o tempo, caso o fogo ocorra a cada ano com maior intensidade”, explica a bióloga Letícia Koutchin. Há também plantas que se adaptam aos alagamentos da região. Algumas dessas espécies só ocorrem ali por conta dessas particularidades do bioma.
Assim como as plantas, há certas espécies de animais que são abundantes na região por conta do clima. Esse é um dos motivos que faz a degradação do Pantanal ser tão preocupante, já que será difícil a recuperação dessas espécies. “Mesmo as espécies adaptáveis podem levar mais tempo para recuperação se a intensidade e frequência do fogo foram grandes”, afirma Letícia.
No entanto, a própria fauna e flora, que são vitais para o bom funcionamento de qualquer bioma, são fatores ecológicos para que essas áreas degradadas se regenerem. Um dos meios para que isso ocorra é a zoocoria, método de dispersão de sementes pela ação de animais.
Muitas dessas áreas deterioradas podem ser recolonizadas através deste método, mas para isso acontecer é necessário que a presença da fauna no local. Ou seja, os animais são extremamente importantes para que se consiga alavancar essa restauração nos anos que veem pela frente.
Para que a recuperação seja efetiva, há a necessidade da interação da fauna e flora, já que uma depende da outra para que haja continuidade. Quando falamos em recuperação de áreas degradadas se pensa muito em plantar mudas de árvores, mas esquecem de levar em consideração quem vai dispersar essas espécies.
“Por isso é importante pesquisar o comportamento dos animais, seus hábitos, como a distância que ele percorre, do que se alimenta, entre outros fatores”, pontua a bióloga.
Ainda, para que isso ocorra no menor tempo possível, temos que cobrar das autoridades maior rigor na prevenção e controle das queimadas, que podem vir a retardar essa restauração e causar mais perdas para o bioma. Só assim iremos conseguir sucesso para a recuperação do Pantanal, que é um bioma complexo e importante para o Brasil e para o mundo.