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Direto das Ruas

Com aparelho de R$ 2,8 milhões inoperante, paciente fica sem exame

Equipamento faz cateterismo para diagnósticos cardiovasculares no Hospital Regional do Estado

Cassia Modena | 04/05/2023 11:31
Com histórico de dois infartos, paciente aguarda há 12 dias fazer cateterismo (Foto: Direto das Ruas)
Com histórico de dois infartos, paciente aguarda há 12 dias fazer cateterismo (Foto: Direto das Ruas)

Referência no Estado, o atendimento no setor de cardiologia do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul atualmente demanda espera e vai e vem até outros hospitais de Campo Grande. O motivo é a demora na instalação completa de um angiógrafo de ponta, que fará exames de cateterismo – essencial para diagnósticos relacionados à saúde do coração e vasos sanguíneos.

Sem poder receber alta até ser examinado, um paciente de 62 anos completou 12 dias de internação nesta quinta-feira (4). Seu quadro clínico requer cuidados, já que tem histórico de dois infartos e chegou ao hospital sentindo fortes dores no peito, com suspeita de isquemia.

"Ele pode sofrer um novo infarto. Precisamos fazer o cateterismo logo para saber como está a outra válvula do coração", afirma a filha dele, que prefere não se identificar e não identificar o pai.

Com o paciente exposto ao ambiente hospitalar durante o período prolongado de internação, ela teme o pior. "Ficamos sabendo que uma pessoa internada no mesmo quarto teve o diagnóstico de tuberculose após ser liberado. Se pegar infecção, o estado de saúde do meu pai pode piorar", cogita a filha.

Da Alemanha - O angiógrafo é o aparelho que, por meio da inserção de um cateter em uma parte do corpo, consegue captar imagens internas e analisar o funcionamento do coração. O que está no Hospital Regional custou R$ 2.870.000,00, conforme consta em contrato disponível no Portal da Transparência do governo estadual.

Em nota, o hospital justificou que o equipamento está "com toda infraestrutura pronta, aguardando apenas a instalação do software" e justifica a demora: "No entanto, é importante destacar que o equipamento, bem como seu software são importados da Alemanha, instalados pela empresa proveniente do mesmo país que segue uma extensa agenda de instalação em diversos hospitais pelo mundo", pontua.

"Pacientes com indicação para esse procedimento recebem todo o suporte necessário em unidade coronariana ou no andar de cardiologia. A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) tem colaborado com o encaminhamento desses pacientes para a Santa Casa de Campo Grande", finaliza a nota.

O angiógrafo foi adquirido da multinacional alemã Siemens Healthcare, com recurso de emenda parlamentar. A compra foi feita em 2022 e o equipamento foi entregue dentro do prazo. "Entretanto, o contrato de compra e o recurso não contemplaram a instalação completa. O equipamento é uma estrutura complexa e o processo de instalação é demorado", complementou a assessoria de imprensa do hospital.

A empresa agendou para 8 de maio, a próxima segunda-feira, a ida do técnico responsável pela instalação até o Hospital Regional. A partir da data, ele terá uma semana para realizar testes e demais procedimentos necessários para deixar o equipamento pronto para uso.

Outros hospitais - Ainda segundo o relato inicial da reportagem, aqueles que recebem encaminhamento para realizar o cateterismo em outros hospitais não estão tendo sucesso. "Ouvi falar que tem gente tentando há quase um mês", disse a filha do paciente internado há 12 dias.

Questionados pelo Campo Grande News se estão aceitando pacientes encaminhados para fazerem o exame, outros dois hospitais que podem realizá-lo via SUS (Sistema Único de Saúde) em Campo Grande informaram nesta quarta-feira (3) que não.

Em um deles, Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, é porque o equipamento está estragado. "Já foram feitos os trâmites administrativos para a intervenção corretiva e a previsão de chegada dos tubos de raio-x novos é esta quinta-feira (4). A troca está prevista para ocorrer entre os dias 8 e 12 de maio", informou via assessoria de imprensa.

Já a Santa Casa declarou seu serviço de hemodinâmica – que realiza os diagnósticos de doenças ligadas ao coração e vasos sanguíneos – como o único em funcionamento na Capital.

O hospital também comunicou que participou de uma reunião há 20 dias com representantes do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, do Hospital Universitário e da Sesau sobre problemas relacionados aos equipamentos de hemodinâmica nessas outras unidades. Ficou definido que a Santa Casa absorveria as demandas, no entanto, o acordo está suspenso.

"O acordo seria de contratação e remuneração diferenciada e que a destinação dos pacientes seria via ambulatório, isso com o apoio da Sesau. Todavia, ao dar início ao fluxo de pacientes, o processo não estava em conformidade com o que havia sido combinado. Dessa forma, foi suspensa a ação e ainda está em processo de negociação adequadamente", explicou em nota a Santa Casa.

"Vale destacar que a Santa Casa, todavia, não se encontra ocioso atendendo mais de 20 pacientes por dia", complementou o Hospital sobre o cateterismo.

Problema crônico - A Santa Casa já havia sido acionada no fim do ano passado para ajudar as instituições de saúde a enfrentar outra dificuldade relacionada aos exames de cateterismo, que era a compra dos contrastes injetados nos pacientes que fazem o procedimento. Em uma matéria publicada em fevereiro, o Campo Grande News mostrou que a questão é crônica, inclusive.

A instituição destacou na nota enviada na quarta-feira que prestou auxílio quanto a essa outra questão. "A Santa Casa se dispôs a auxiliar as instituições nos mesmos moldes do que ocorreu no fim de 2022, quando a situação era similar", finalizou.

Direto das Ruas - O relato sobre a espera pelo cateterismo no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul chegou no Direto das Ruas, o canal de interação dos leitores com o Campo Grande News.

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