Preço do café dispara e amarga o orçamento do consumidor campo-grandense
Com o aumento no valor do produto, comerciantes fazem o possível para não dividir a conta com o consumidor
Bebida tradicional na rotina dos brasileiros em qualquer hora do dia, o cafezinho segue registrando altas e amargando o bolso dos consumidores neste início de 2022. Levantamento do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apontou uma alta de 64,73% no preço da bebida desde janeiro de 2021.
A alta inédita para o produto não poupou os apreciadores da bebida em casa, nas ruas ou em padarias. Mesmo com os sucessivos reajustes no decorrer do ano passado, alguns vendedores evitaram dividir a conta com o consumidor.
O ambulante Alexandre Centurião, 58 anos, vende o cafezinho na região central há mais de 3 anos. O vendedor utiliza cerca de 4 quilos do produto mensalmente e mesmo com a disparada no preço, manteve o valor em 1 real por 50ml do precioso líquido.
“Apesar da alta, continuo vendendo pelo mesmo preço, mas tenho que equilibrar bem as medidas para não ter prejuízo. O cafezinho anteriormente era o chamariz dos comércios, davam até como cortesia, mas em alguns lugares, até cortaram devido ao alto preço. Enquanto eu conseguir, vou manter o valor”, afirma o vendedor.
O casal Flaviana Gomes e Silvio Pereira não costumam consumir café na rua, por isso, não conseguem mensurar o aumento praticado pelos comerciantes, mas em casa, consomem bastante e sentiram no bolso os aumentos.
“Em casa, não pode faltar, pelo menos 2 vezes ao dia passa o cafezinho. Não faz muito tempo, paguei 13 reais no pacote de meio quilo, agora, encontramos por 18, mas não tem como deixar de consumir”, conta Flaviana. “De manhã, o café é essencial para começar bem o dia”, completa Silvio.
Ressabiado em apresentar o sobrenome para a reportagem, o senhor Adelino, que há 12 anos vende salgados e café em uma banca na Rua Dom Aquino, conta que usa sua experiência para não perder os consumidores, mesmo com a alta no valor do produto. “O pó, eu compro no Mercadão Municipal a 36 reais o quilo, mas há menos de um ano, pagava metade do preço. Então, trabalho com um café superior e coado na hora, porque é preferência do campo-grandense. Aqui, o café não fica na garrafa, é uma dose a cada cliente”, conta o comerciante, que vende o cafezinho a R$ 1,50.
Mesmo com aumento observado em todo o Brasil, o cafezinho de rua em Campo Grande ainda está mais em conta do que em outros lugares do País. A carioca Catarina Aparecida Silva, 59 anos, que está na capital para visitar a filha, até se surpreendeu em encontrar o líquido a R$ 1 real na Praça Ary Coelho. “Em Mangaratiba, onde moro, o mesmo volume está pelo menos 2 reais e na estrada encontrei até de 5 reais. Também senti o aumento na gôndola dos supermercados, mas hoje, está tudo muito caro, daqui a pouco, pobre não vai mais poder comer carne, nem tomar café”, disparou a aposentada.
Gerente da panificadora Pão & Tal, uma das mais tradicionais de Campo Grande, Seuma Luiza Carvalho, conhecida por todos como “Amada”, conta que até o momento, o estabelecimento conseguiu segurar a sequência de reajustes, mas que em breve, será obrigado a repassar uma porcentagem do valor para o consumidor.
“O fluxo é bem grande e temos uma variedade de café, arábica, expresso e passado na hora, na mesa do cliente. Há seis meses, estamos conseguindo manter os preços, pois nosso fornecedor tinha o produto em estoque, mas se continuar assim nos próximos dias, não vamos conseguir segurar os aumentos”, alerta a gerente.
A casa trabalha com variedades de cafés para consumo no local, que variam de R$ 5,99 a R$ 9,50, mas mesmo com os sucessivos aumentos e o grande fluxo de cliente, a panificadora não abriu mão de oferecer cafezinho como cortesia para os clientes. “Quem não gosta de um cheirinho de café? A cortesia com ou sem açúcar para quem passa pelo local sempre vai ser mantida, independente do preço. É uma tradição da casa”, garante Amada.
Queda da safra justifica disparada - De acordo com edição do Boletim de Safra do Café de 2021, a produção do produto sofreu redução de 24,4% no ano passado em relação à safra de 2020, registrando queda recorde para a cultura no País. A justificativa seria um efeito chamado "bienalidade", que é a oscilação da produção.
“Romário e Bebeto” das padarias - O açúcar refinado, fiel companheiro do cafezinho, foi outro item que impactou o orçamento dos consumidores e deixou o café da manhã indigesto, pelo menos, financeiramente. Segundo levantamento do IPCA, o produto sofreu elevação de 47,87% nos últimos 12 meses. Como justificativa para o aumento, o IBGE informou que a alta no açúcar foi influenciada por uma oferta menor do produto no mercado e pela competição pela matéria-prima para a produção do etanol.