Mercearia aos moldes antigos, mas sem fiado
Entrar na Mercearia São José é lembrar do primeiro comércio deste tipo que vi nesta vida. As prateleiras de madeira, o balcão azul... Tudo com mais de 50 anos. Do dono original, o ponto foi passado de portas fechada, do prédio aos móveis.
O atual proprietário mantém o comércio há cerca de 30 anos, estima, mas não sabe nem de longe há quanto tempo o prédio serve de mercearia no bairro.
De pouca conversa e ar desconfiado, ele diz se chamar Jeremias. Aos 63 anos, rodeado por prateleiras quase vazias, o senhor de cabeça branca, a espera da aposentadoria, diz não ter interesse em reformar o prédio, bem descascado pela idade.
“Daqui dois anos me aposento e quero vender isso aqui. Não é algo que eu ganhe dinheiro. É uma forma só de ocupar a cabeça, deixar a depressão longe”, explica o senhor que vive da renda de imóveis alugados pela cidade.
Realmente, não há uma variedade de produtos na loja e muita coisa deixou de ser reposta com o passar dos anos.
Garrafões de vinho antes oferecidos à clientela, agora só servem de decoração, vazios.
Há vassouras, álcool, cigarro, algum produto de limpeza e poucos alimentos. Só para “quebrar um galho”, diz o dono.
Sobre o balcão principal, algumas revistas exibem produtos da Avon e Natura. “São coisas da minha mulher”, comenta. Nada de caixa registradora, ou computador. Nem cadernetas para pendurar o valor da compra. “Só vendo à vista, no dinheiro”, justifica.
Os dias começam às 8h e terminam às 18h, com a pausa para o almoço. Clientes são raridade. Mas as paredes ainda têm os desenhos em azul da inauguração. Por isso, o mais interessante mesmo do lugar é o tempo congelado, como se tudo ali ainda estivesse na década de 70, em uma esquina da rua Antônio Mena Gonçalves, na Vila Gomes.
O Lado B agradece qualquer outra informação sobre a história da Mercearia São José.