Após 1 semana, piquenique inaugura arte na rua, com crochê, tintas e cerâmica
Inauguração do mural também teve brincadeiras da infância na esquina de uma das principais avenidas da cidade
O frio da noite de sábado não espantou crianças e adultos dispostos a fazer um piquenique na Orla Ferroviária, no cruzamento da Avenida Mato Grosso com Calógeras. O programa ao livre marcou a inauguração de um mural temático feito por vários artistas para levar cor e alegria a um dos cantos históricos da cidade.
A parede colorida agora vista de longe faz interação da cultura japonesa com a pantaneira. Tsuros e garças são amigas na pintura entrelaçada com crochês, tecidos e cerâmicas que foram colocadas na parede.
De olho na arte urbana e na ideia de levar cultura aos espaços públicos da cidade, a ideia é uma iniciativa do artista plástico Guido Drummond, que mora em uma residência histórica ao lado e está sempre transformando os muros através da arte.
Participando da ação colorida, Ramona Rodrigues, decidiu inaugurar o mural com brincadeiras da infância do projeto “Brincantes”, que há alguns anos roda praças, parques e locais públicos da cidade levando brincadeiras, cantigas de roda e jogos tradicionais que fazem adultos voltarem à infância e crianças conectadas descobrirem um novo mundo.
“Mais do que bonito, o projeto do Guido fortalece o encontro de famílias para brincar. As brincadeiras no nosso dia a dia transformam. E eu quis fazer esse piquenique para ocupar um espaço que é nosso e tornar a brincadeira tradicional”.
Poucas pessoas participaram, mas quem topou tirou a manta e as comidinhas da cestinha para curtir o frio e o colorido até às 22h. Crianças fizeram os próprios brinquedos, além de estenderam frases corridas no pergolado.
A artista visual Angela Silva, de 62 anos, estava encantada. Ela foi uma das artistas que pintou um tsuru no mural. “Essa liberdade de fazer é arte é muito importante. A gente vive tempos sombrios para nossa cultura, então ter a oportunidade de pintar e compartilhar nossa arte com outros artistas em um local público é muito fortalecedor. Tomara que isso não seja único, que tome a cidade”.
O escritor João Henrique de Miranda Sá, de 48 anos, esteve presente entregando poesias feitas à mão, ali mesmo, durante o momento de brincadeiras. A atividade é uma rotina na vida do escritor que um dia trocou os desaforos por palavras que são capazes de sensibilizar até os durões. “Tudo começou quando eu tive um desentendimento e, no lugar de todo ódio, decidi entregar a uma pessoa uma poesia escrita numa folha de papel. Aquilo me transformou e acredito que transformou a pessoa também, desde então passei a fazer isso”, conta.
Amigo de Ramona ele foi convidado para o piquenique e saiu esperançoso com as cores do novo mural. “Eu torço sempre para que isso cresça, os artistas demoraram quase uma semana para terminar essa pintura, mas a interação social é o que conta, a vontade de dar vida a um lugar que, às vezes, fica esquecido por falta de olhar”.
O mural é aberto ao público na Avenida Calógeras esquina com a Mato Grosso, em frente ao Hotel Gaspar.
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