Referência nas artes cênicas, ator Jair Damasceno morre aos 73 anos
Com 50 anos de carreira, artista lutou durante um ano contra um melanoma raro no estômago
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Faleceu, na tarde de ontem (3) um dos maiores artistas do estado de Mato Grosso do Sul, Jair Balieiro Damasceno. De acordo com Sérgio Carvalho, jornalista e amigo de longa data de Jair, que inclusive o acompanhou durante o tratamento, ele esteve internado há cinco dias no Hospital de Câncer Alfredo Abrão. O sepultamento acontece hoje (4) em cerimônia reservada.
Ele tinha sido diagnosticado com um tipo raro de melanoma interno na região do abdômen há pouco mais de um ano e chegou a ficar dois meses sendo tratado em casa. De acordo com Sérgio, Jair revelou apenas inicialmente ao amigo. “Me chamou em sua casa porque precisava “de um amigo com coragem”. Era 5 de abril de 2020, plena pandemia, e mantivemos a informação restrita durante um bom tempo. Depois acrescentamos outros amigos na rede de apoio”, explica.
Conforma a doença avançava, a casa de Jair se transformava para lhe prestar toda assistência por lá mesmo. Jair conversou com o Lado B no final do mês de maio. Na ocasião, ele expressou que tinha tomado a decisão de transferir o tratamento para a própria residência para ficar em casa.
“Pra mim é importante o respeito que eu tenho pelo que estou fazendo, pelo que está acontecendo, pela minha escolha. Isso pode ser uma banalidade para algumas pessoas e pra outras não, mas foi a minha escolha, respeitada por equipe médica, e é assim que eu estou agindo, de acordo com a minha própria vontade”, expressou.
Ainda de acordo com Sérgio, todo o tempo se procurava adaptar a residência às necessidades dele. “Toda a condução foi dele. Eu o auxiliava, com humor. Já de cama, sem poder caminhar, preferia dormir sozinho. Adaptei um pedaço de bambu para ele desligar a luz do quarto, antes de dormir”, ainda detalha Sérgio.
Durante o período em casa, Jair teve acompanhamento de enfermagem e a Assistência do SAD (Serviço de Assistência Domiciliar do Hospital do Câncer Alfredo Abrão). A equipe que lhe acompanhou era composta de seis profissionais.
Jair nasceu em Tefé, Amazonas, em 8 de junho de 1948. O interesse pela arte teve início no ambiente familiar, especificamente, pelo pai amante de poesias e mãe que tocava violão, cantava e dançava. Conheceu o teatro em Manaus e consolidou a carreira artística em Mato Grosso do Sul.
Seu legado inclui ter sido o primeiro bailarino de balé da Capital, além da resistência artística durante o regime militar entre 1964 a 1985. Jair também apresentou o primeiro nu em cena com a peça “Sangue Elétrico”. Também estabeleceu o Laboratório de Criação e Expressão.
O seu último trabalho foi a peça “Ensaio sobre a Lua”, que estreou em 12 e 13 de outubro de 2019 no teatro Circo do Mato. Na ocasião, Jair celebrou 48 anos de atuação como artista brasileiro.
“Eu não teria muito significado como pessoa se não tivesse conhecido a arte. Fazer teatro é fundamental para que eu esteja vivo e consiga entender um pouco de mim, do mundo, das coisas que acontecem em geral e se elas são boas ou não. Me formo através dele, da dança, da música, é um aprendizado. Espero que as pessoas em geral, não só os artistas, possam entender a arte como fundamental, como uma necessidade. A luta pelo teatro é uma luta pela vida”, refletiu em entrevista ao Campo Grande News em 2019.
Ontem (03), no fim da noite, inúmeras homenagens começaram a circular nas redes sociais para o artista que mudou a vida de diferentes gerações através da arte.
"Certeza maior, é que ficaremos mais pobres com sua ausência física. Tenho convicção que você elaborou uma belíssima coreografia para esse momento, que irá reverberar em nossos corações e no daqueles que te antecederam à partida", publicou o amigo Adriano de Oliveira.
Ele deixa grande círculo de amigos e admiradores, além da família, composta pelo pai de 102 anos, mãe, irmãos e sobrinhos.
O sepultamento será hoje (04), às 10h30, no Cemitério Park Monte das Oliveiras.
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