Bonito recebe poesia de Manoel de Barros nas ruas, túnel e até em lounge
Bonito está tomado pelas poesias de Manoel de Barros. “Justíssima homenagem a um dos maiores poetas do mundo”, anuncia um dos painéis posicionados na entrada da cidade, que fica a cerca de 300 quilômetros de Campo Grande.
Um dos acessos à praça da Liberdade, centro das atrações, é pelo túnel “nas nuvens com Manoel de Barros”, uma estrutura de 4,50 metros de altura por 7,0 de largura que traz, a cada 5 metros, módulos com impressão de poemas.
“Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina. No osso da fala dos loucos tem lírios”, diz a primeira das 20 placas que compõe o espaço. A impressão ao visitante é de estar, literalmente, dentro das obras do poeta.
O jogo de luzes e a decoração de flocos que lembram nuvens tornam a viagem ainda mais encantadora. Um verdadeiro passeio à obra de Manoel Wenceslau Leite de Barros, que nasceu em Cuiabá (MT), no Beco da Marinha, em 19 de dezembro de 1916, há 96 anos.
Mesmo que não costuma ler os poemas de Manoel se encantou não só com o túnel bem decorado, mas com as palavras simples do senhor que transforma a vida e o viver em poesia.
“Remete à minha infância porque eu morei no Pantanal”, comentou a funcionária pública Tania Netto, de 40 anos, que destacou a poesia do segundo painel: “Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo”.
A amiga, Milene Loureiro, de 42 anos, disse que não é possível sair dali como entrou. “A gente sai com outra visão”, disse. “As palavras sempre mexem com a gente”, completa Tania.
O túnel “Nas nuvens com Manoel de Barros” é assinado pelo cenógrafo José Carlos Serroni que criou o espaço com a proposta de não deixar o visitante passar imune às atrações.
Louge - Na rua Pilad Rebuá foi montado um lounge, também em homenagem ao poeta. Na entrada, um livro gigante traz informações sobre a vida e obra de Manoel de Barros.
O espaço é composto por sofás plantas e poemas distribuídos em cestas. Na entrada, um painel exibe o “Auto-Retrato Falado”:
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
estar entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
que fui salvo.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
(Manoel de Barros)