Sem dinheiro suficiente para incentivar cultura, bons projetos acabam na gaveta
Com tentativas de emplacar, sentimento de grupo teatral é de tamanha frustração, que este ano a companhia nem submeteu projeto

A história que o Lado B se propõe a contar é a daqueles que fazem a cultura de Campo Grande. Gente que dança, atua, canta e compõe, que de boa vontade e bom trabalho está cheio, mas esbarra na falta de recurso destinado ao meio artístico.
O personagem que ilustra esta realidade é Mário Filho, diretor do Prisma Grupo de Teatro, daqui da Capital. Desde 1995 atuando nos palcos da cidade com elenco profissional o grupo nunca foi contemplado com verba de fomento à cultura, repassada através de editais do FMIC (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura) e Fundo de Incentivo ao Teatro, mesmo tendo projetos inscritos por dois anos seguidos.
“Nas duas vezes o valor sempre foi o motivo, eles acham que está muito alto, então pedem para reduzir ou não aprovam”, explica.
Em todos esses 16 anos o Prisma sobrevive do dinheiro do próprio bolso, às vezes compensado pela bilheteria das apresentações, que cobrem apenas os gastos da produção. “Aí o ator acaba trabalhando de graça”, acrescenta.
Produções como “O Fantasma da Ópera”, que incluía três cenários e o figurino de época, assim como “Drácula” e “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque foram pagas com o dinheiro do grupo.
“O mínimo para uma produção dessas é R$ 7 mil R$ 8 mil, e o Fundo não atende esses valores”, coloca Mário.
O valor destinado ao FMIC é de R$ 250 mil por ano a ser dividido entre os projetos aprovados, já específico ao teatro, a verba é ainda menor, de apenas R$ 136 mil por ano, o que acaba deixando bons projetos na gaveta.
Com tentativas de emplacar projetos que não deram certo o sentimento é de tamanha frustração, que este ano a companhia nem submeteu projeto. Em geral o valor destinado às produções é muito pequeno para a quantidade de grupos de teatro.
Mário relata que os que são aprovados ficam no valor de R$ 1,5 mil R$ 2 mil, o que para quem faz teatro é irrisório, defende.

O Lado B encontrou Mário justamente no movimento feito para pedir uma fatia maior de do orçamento municipal para a cultura, dentro show-manifesto batizado de “A Imaginação Move a Cidade – 1% para a Cultura, na Praça do Rádio que reuniu música, dança e teatro de graça.
“A prefeitura fala que já repassa 1%, só que esse percentual tem embasado o valor de obras onde deveria ser o fomento, mas prédio não é fomento à cultura”, argumenta.
O que é muito colocado pelos artistas é o Centro Cultural Belas Artes, ainda em construção no bairro Cabreúva. “Construir prédios lindos se não tem quem faz acontecer é fazer um elefante branco. Quanta coisa não daria para fazer em termos de produção se o repasse para o fomento fosse 1%”, acredita o diretor.
Na bagagem o Prisma carrega peças teatrais conceituadas e o primeiro musical sul-mato-grossense que ficou em cartaz durante dois anos.
“O Vida Plástica ficou dois anos em cartaz sem R$ 1 do dinheiro público”, diz Mário.
“Tenho orgulho até hoje, sem nenhum tipo de recurso, em 2009, nós ganhamos quatro prêmios no 28º Festival Sul-mato-grossense de Teatro, na categoria adulto, tenho os troféus até hoje”, conta.
Sem ter como contar apenas com o valor da venda dos ingressos, o grupo acabou por fechar apresentações teatrais com muitas escolas para garantir parte do retorno financeiro gasto na produção.
O grupo se prepara agora para subir ao palco no próximo dia 22, com a peça “O Mágico de Oz”, no Aracy Balabanian.
Quem fizer a comparação entre um grupo que apresenta a mesma peça, mas com incentivos de peso envolvendo verba federal e iniciativa privada, vai ver menos troca de cenário e figurino, mas interpretação de primeira.
“É pobre porque faz com recurso pequeno que é o que a gente tem, mas pela qualidade dos artistas não pode falar que é pobre, porque são excelentes”, afirma categoricamente Mário.
Para quem produz teatro em Campo Grande com o mesmo esforço e dedicação que atua no palco, a destinação de uma fatia maior do orçamento municipal para a cultura é a garantia de produções maiores e ainda melhores.
“Tem produções lindas e grupos legais, imagina como ficaria com repasse maior, mas o que barra ou é a burocracia ou o valor e isso é frustrante, desanima quem faz arte”, encerra Mário.