A escola como a gente conheceu não vai mais existir pós quarentena
"Professores e a arte de se reinventar" é o texto assinado pela professora Erika Costa, mestre em Educação.
A situação em que o coronavírus colocou pais e mestres despertou na professora Erika Costa, de 47 anos, a necessidade de escrever. Por presenciar a dedicação de tantos colegas se reinventando e se adequando ao processo de ensino e aprendizagem, ela busca nas palavras de Paulo Freire, Mário Sérgio Cortella e Lewis Carroll referências que enaltecem e ao mesmo expressam gratidão aos professores que seguem a palavra de ordem nesta pandemia: reinvenção.
Dos 47 anos de vida, Erika dedicou os últimos 23 à Pedagogia, tem quatro especializações, além de mestrado em Educação e outra graduação em Letras. É ela quem assina este texto.
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Professores e a arte de se reinventar
Ninguém começa a ser professor numa certa terça-
feira às 4 horas da tarde... Ninguém nasce
professor ou é marcado para ser professor. A gente
se forma como educador permanentemente na
prática e na reflexão sobre a prática.
Paulo Freire (1991. p. 58).
Por meio das palavras de Paulo Freire que mesmo tendo sido escritas há décadas, ouso convidá-los a refletir sobre o papel da educação e dos educadores neste período em que estamos (sobre)vivendo.
Certa feita, li um trecho de um livro que dizia que professores existem aos milhares e que qualquer um pode ser professor e mesmo gostando muito do autor, hoje discordo de tal afirmação.
Sim, professores existem aos milhares, mas ser professor, neste período de suspensão de aulas presenciais não é tarefa fácil para qualquer indivíduo.
O que presenciei e tenho vivido, é uma mudança na postura da escola que precisou em questão de dias se reinventar e de sua equipe pedagógica que passou a desenvolver funções talvez antes nunca imaginadas. Neste momento delicado e atípico, as escolas desenvolveram uma rotina de estudos focada no bem-estar físico e emocional dos alunos e das famílias; pois além de incentivar que estes permaneçam em casa para sua segurança, oferecem diferentes atividades produtivas e atraentes para que mantenham a rotina de estudos durante esse período.
As escolas e os professores tem errado? Sim, mas sempre buscando por meio de alguns equívocos cometidos, acertar. Sempre em busca da excelência para manter o ritmo de aprendizagem de seus alunos e garantir que o processo de aprendizagem seja efetivo e produtivo.
Acredito que a palavra de ordem seja “Reinvenção”.
Estamos nos reinventando a cada dia, por meio das tecnologias digitais, das brincadeiras, dos diálogos, das atividades elaboradas para que o aluno que se encontra do outro lado da tela do computador ou do celular possa entender o que está proposto, dos vídeos gravados com explicações da resolução de exercícios, das histórias contadas e cantadas, das aulas de ballet, das transmissões on line e tantas outras propostas que passaram a fazer parte do processo de educar.
Toda esta tecnologia que há muito vinha distanciando as pessoas, agora, mais do que nunca, tem aproximado e facilitado os processos, pois conta com um “ingrediente” a mais nesta receita deliciosa que é o ato de educar: O amor.
Não este amor fantasioso que encontramos nos finais felizes das histórias que contamos, mas o amor verdadeiro destes gigantes que buscam ultrapassar seus limites e suas dificuldades para oportunizar educação de qualidade aos seus alunos.
Mesmo sem abraços, beijos e carinhos afetuosos, o amor pela profissão e pelos alunos está claramente demonstrado na emoção da voz embargada da professora no vídeo gravado para dizer que está com saudades e que espera que este período seja logo superado, na atividade preparada com muito empenho e pensada em qual estratégia seria utilizada para minimizar o impacto da distância. O amor está nos detalhes da entrega e do fazer a diferença na vida dos alunos, mesmo que por detrás da tela de um computador ou do celular.
O mais interessante de todo este processo é que a partir desta experiência, dar aulas será algo diferente e estas inovações que se tornaram rotina e necessárias para estes professores, com certeza, serão implementadas numa nova proposta dentro sala de aula; afinal, como afirma Mario Sergio Cortella: “A motivação é uma porta que se abre por dentro”. E os professores estão dando um show de demonstração de motivação e engajamento.
E lá do doutro lado da tela? E a família?
Também parte fundamental neste processo, não para serem os novos professores de seus filhos, mas para incentivar, auxiliar, cobrar (quando necessário). Assim como a escola e professores precisaram se reinventar da noite para o dia, o papel da família também precisou ser reinventado para que esta relação de troca de experiências e aprendizado efetivamente aconteça, com a parceria efetiva entre estes.
Em nome da escola e dos professores, agradeço a efetiva e tão importante participação das famílias neste novo cenário educacional em que nos encontramos. O papel das famílias é peça fundamental neste processo. Muito obrigada!
Aos meus colegas professores, coordenadores, diretores e todos aqueles que direta ou indiretamente estão se empenhando para que a engrenagem desta grande máquina que é a educação, continue funcionando; ora precisando ser lubrificada, ora consertada, mas que nunca pára, mesmo diante de grandes desafios... Quero reiterar meu respeito, carinho e admiração pela bravura, coragem e dedicação.
Encerro com uma frase do livro extraído do filme Alice no país das maravilhas: “Só podemos alcançar o impossível
Se acreditarmos que é possível ”
A vocês professores que são mestres na arte de acreditar e se reinventar, os meus sinceros agradecimentos.
Um beijo carinhoso,
Erika Costa
Mestre em Educação
Coordenadora Pedagógica do Colégio ABC/CBA
Coordenadora Dos Cursos EAD e Professora do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande.
Referências
CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000.
CORTELLA, M. S. Por que fazemos o que fazemos? São Paulo: Planeta, 2016.
FREIRE, P. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.