Amigas de infância, Evelyn e Diecy se casaram com o apoio dos pais
Juntas há três anos, elas vivem uma história de amor inspiradora para casais e famílias
Juntas desde a infância, foi na adolescência que Evelyn e Diecy descobriram sentir algo diferente uma pela outra. Mas barradas pelos padrões, só em 2015 elas revelaram que o sentimento de amizade na verdade era amor. Da paixão avassaladora para um casamento surpreendente, o que não falta na história das duas são surpresas e lições sobre respeito quando o assunto é família.
“Diecy sempre fez parte da minha história. Na infância, morávamos em Rio Negro e nossos avós eram vizinhos. Lembro que a gente ficava se espiando pelo muro, porque ela tinha dois anos a mais do que eu”, começa a coordenadora de loja Evelyn Fernanda Santos Oliveira Matos, de 22 anos.
Elas cresceram juntas. Nos álbuns de família estão fotografias dos momentos de brincadeira, de rio e de chuva. Mas o retrato preferido exibe as duas dançando, de óculos, e que hoje fica na parede da sala. “Pra mostrar a nossa sintonia desde a infância”, comenta.
Com o crescimento, as duas se afastaram e mudaram para Campo Grande, mas foram parar na mesma escola. No entanto, era difícil entender o que cada uma sentia. “Eu sabia que era algo diferente, desde pequena, mas eu não entendia o que aquilo significava, pensava que tinha que ser uma amizade”, descreve a auxiliar administrativa Diecy Rillary da Silva Matos, de 24 anos.
O tempo passou e em 2015 o Facebook encorajou Diecy a falar com a amiga. “Oi, lembra-se de mim?” narra Evelyn, que após ler a mensagem sentiu que as palavras mudariam sua vida para sempre. “Depois daquilo, lascou tudo. Porque eu nunca mais parei de pensar nela”, revela.
Na época Evelyn namorava outra pessoa e colocou um fim no relacionamento para viver sua história de amor com Diecy, que também estava disposta a pagar um preço alto pela liberdade, depois de revelar para toda família que estava apaixonada por uma mulher.
“No começou eu fiquei receosa, não queria que ela se assumisse por mim e tinha medo do que os pais dela podiam fazer depois que soubessem de tudo. Mas ela se mostrou disposta, então a pedi em namoro por telefone, em dezembro daquele ano”, conta Evelyn.
A história tomou rumos diferentes e surpreendeu o casal, principalmente, quando Diecy contou para os pais, que são Testemunhas de Jeová e não esconderam a emoção. “Meu pai ficou chocado, talvez um pouco envergonhado, mas não me mandou embora de casa. Preferiu me acolher”, conta Diecy.
Ao contrário de muitas famílias que rejeitam a orientação sexual dos filhos, o pai de Diecy tornou-se um exemplo, mesmo com a rigidez. “Ao invés de me julgar, ele só queria saber se ela era uma mulher para casar. Porque na concepção dele, o primeiro namoro já era para casar e eu disse que sim”, diz.
Dali em diante as duas não esconderam o namoro da família, mas enfrentaram meses de regras impostas pelo pai de Diecy, como a que muitas mulheres viveram no século passado. “O preço alto foi eu só poder ficar 15 minutinhos no portão namorando. Isso durante meses”, conta Evelyn.
Mas ao perceber a resistência da nora, o pai passou a permitir as visitas dentro de casa e os encontros de namoro rendem risadas até hoje. “Ele tem um sofá de três lugares, eu sentava em uma ponta, ele no meio e a Diecy na outra, sem poder se encostar. Quando íamos para o quarto a porta tinha que ficar muito aberta. Foram meses de regras”.
Na época Diecy fazia estágio na Santa Casa de Campo Grande, Evelyn saía todos os dias do trabalho para visitar escondido a namorada, mas nem sempre dava certo. “Eu saía às 16h e ficava até às 22h a espera dela na porta, mas quando o pai dela aparecia de surpresa, eu tinha que me esconder e depois ir embora de ônibus, após ter esperado tudo aquilo. Foi muito difícil”.
Porém, quando confiança tomou conta, o orgulho de Evelyn é falar que até cozinha com a sogra. “Hoje eles me respeitam e fico muito feliz com isso. Converso, cozinho e minha sogra até me chama de nora. Ninguém finge que não somos casadas”, comemora.
As duas compraram um apartamento, noivaram em julho de 2017 e oficializaram a união no civil no último dia 8 de agosto, na presença apenas de amigos, mas com a certeza da benção e apoio da família. “Tanto a minha mãe como os pais da Diecy, eles não foram obrigados a nos aceitar, na verdade eles buscaram entender o nosso amor e descobriram que o que a gente sente uma pela outra é verdade”, diz Evelyn.
Uma luta que, apesar dos momentos felizes, ainda não teve fim. “Temos que provar, todos os dias, que também somos uma família. E que família não precisa de padrão e sim de amor. Essa é única parte ruim da vida, o preconceito não acabou e as pessoas insistem em dizer que relacionamento LGBT é putaria. Mas a gente luta contra isso, porque mesmo novas, eu sei que tudo isso é verdadeiro”.
O lado bom da história é que nada tira o sorriso das duas mulheres que hoje estão felizes e realizadas. “A gente se sente segura uma do lado da outra, se defende, se cuida, sou a maior fã dela. Eu brinco que se ganhasse na loteria, talvez morresse comendo sushi, mas sei que tê-la comigo é melhor coisa do mundo”, declara Evelyn.