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Comportamento

Amor dos avós ajudam universitária a lidar com Síndrome de Borderline

No mês da conscientização do Transtorno de Personalidade Borderline, Amanda compartilha sua história

Bárbara Cavalcanti | 30/05/2021 09:00
Amanda bebê com os avós, Motoyuki e Asako Koba. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda bebê com os avós, Motoyuki e Asako Koba. (Foto: Arquivo Pessoal)

A universitária Amanda Sayuri Koba Pires, de 22 anos, foi diagnosticada ano passado com Síndrome de Borderline, ou Transtorno de Personalidade Borderline. Essa síndrome é um pouco mais rara, e de acordo com a psicóloga Luciana Velasques, apenas 6% da população tem diagnóstico de Borderline, sendo a maioria mulheres.

A característica principal é a instabilidade emocional, que se manifesta inclusive por meio de comportamento agressivo e impulsivo. “Como a instabilidade emocional é muito intensa, os pacientes costumam ter dificuldades em relacionamentos pessoais. Por isso, as pessoas costumam enfrentar períodos de solidão, e podem adotar comportamentos de risco, como uso de drogas, automutilação e tentativa de suicídio”, explica Luciana. Mas agressividade é apenas um dos sintomas e é necessário avaliação médica para chegar a um diagnóstico, que no Brasil acontece apenas após os 18 anos. “Não tem cura, mas é possível ter tratamento, suavizando bastante os sintomas”, detalha.

Antes do diagnóstico, Amanda passou algumas dificuldades por causa da dificuldade de saber como lidar com os próprios sentimentos. Ela encontrou alívio depois de saber o que era a Borderline e como lidar, mas é com a ajuda dos avós que consegue ter forças para lidar com o transtorno. Sua história ela conta ao Lado B no Voz da Experiência.

Durante a infância, eu sempre sofri com abusos. Mas foi na adolescência, quando eu tinha 12 anos, que eu comecei a sentir realmente os primeiros sintomas da Bordeline, que na época eu não sabia ainda. Eu tinha muitos surtos e desde muito cedo, comecei a me refugiar nas drogas. Com 15 anos foi a primeira vez que eu fui na psiquiatra. Ela tinha até me receitado o primeiro remédio, que é o que eu até o que eu tomo hoje. E na época me ajudou muito, eu fiquei uns três meses com essa medicação e me ajudou muito, só que por falta de dinheiro que eu acabei parando.

Amanda durante a infância. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda durante a infância. (Foto: Arquivo Pessoal)

O meu “refúgio” então voltaram a ser as drogas e as bebidas. Com 18 anos eu fui de novo no médico e fui diagnosticada com ansiedade. Mas a medicação de ansiedade não me ajudava muito, não ajudava tanto com o que eu realmente sentia. O remédio me deixava calma, mas os surtos continuavam. Eu continuava triste, continuava xingando, continuava com os surtos.

Foi na pandemia que eu descobri que eu era Borderline. Eu fiquei dez meses isolada com os meus avós. Eu comecei a ter muitos surtos, qualquer coisa mínima me estressava. Por exemplo, meu avô não fechava direito um potinho na geladeira, isso já me desestabilizava, era muito assim, qualquer coisa no mesmo dia, ou eu ficava triste, ou eu ficava muito brava, ou muito feliz, tudo do dia eram muitas emoções de uma vez.

Qualquer coisa eu brigava com meu avô, minha avó, eu descontava neles, era porque eu estava surtada. E chegou um tempo que eu falei: “Não dá, não tá dando”. E eu sentia muita culpa. Eu surtava mas não conseguia controlar, e a culpa depois era a pior coisa. Então eu pensei que eu preciso pedir ajuda, porque eu estava machucando muito as pessoas ao meu redor. Eu implorei para ir para um psiquiatra.

Foi quando eu encontrei um profissional mais em conta, tratamentos assim são infelizmente muito caros. Então eu consegui explicar tudo, e depois de algumas sessões, ele me diagnosticou com Borderline. E pra mim foi um alívio quando ele falou que eu era Borderline. Meus surtos eram muito feios, eu era desestabilizada. Então quando eu recebi meu diagnóstico, eu foi um alívio pra mim.

Eu cheguei de namorar um psicólogo, então eu acabei ouvindo sobre Borderline, mas não tinha muito conhecimento de nada não. Eu só tinha escutado que era algo relacionado à instabilidade emocional. No dia do meu diagnóstico, eu já fui atrás de tudo, vi vídeos, fui pesquisar, porque eu queria entender o que eu era. Acho que depois que eu entendi o que era Borderline, as coisas para mim ficaram ok, mais calmas.

Eu não posso falar que eu estou bem, bem, bem, 100%, porque foi tudo muito recente, mas melhorou bastante. Agora eu preciso de terapia, porque eu preciso entender melhor minha síndrome. Porque não tem cura, é um transtorno de personalidade, não tem um remédio para personalidade, a gente aprende a lidar com isso, mas ainda é muito instável. Borderline é isso, é estar sempre no limite, qualquer coisa eu fico no limite. E então, o primeiro passo é isso da gente tentar entender a personalidade.

Eu sempre tento muito me cansar. É como se minha cabeça fosse muito cheia de coisas, então tento todos os dias fazer exercícios, yoga, meditação, porque eu tento ao máximo me acalmar, qualquer coisa pode me dar um baque. É difícil segurar, não vou falar que é fácil. Na hora que eu estou em surto, eu tento muito pensar que é a Borderline, porque a Síndrome também me dá muita paranóia, às vezes eu acho que na minha cabeça é uma coisa, que na verdade não é. Mas é difícil, muito difícil.

A universitária Amanda, aos 22 anos. Hoje, ela aprende todos os dias como lidar com a Borderline. (Foto: Arquivo Pessoal)
A universitária Amanda, aos 22 anos. Hoje, ela aprende todos os dias como lidar com a Borderline. (Foto: Arquivo Pessoal)

Meus amigos sabem que eu sou Borderline, então eles conseguem têm muita paciência comigo, porque às vezes eu falo algumas coisas quando eu estou incomodada, porque eu não consigo segurar. Meu psiquiatra fala que a gente não tem “freio”, é uma coisa neurológica. É difícil, mas eu tento me lembrar que é o Borderline. Eu tento respirar, respirar muito.

Eu fui criada pelos meus avós. Minha mãe está no Japão, e nossa relação é um pouco mais difícil, porque ela tem a cabeça um pouco mais fechada pro Borderline. Então da parte dela, eu nunca recebi ajuda nesse sentido. Foram meus avós que estiveram comigo em todos os meus surtos.

Como eram surtos muito feios, com o tempo eles quiseram me ajudar. Eu era muito agressiva, mas sempre depois vinha a culpa e eu sofria muito. A culpa depois acabava comigo. Eu sentia muita culpa, chorava muito, ficava muito arrependida e eles viam que eu sofria, então começaram a me ajudar. Com o tempo, eu fui me abrindo pra eles, eu demorei pra conseguir falar sobre os abusos e as drogas. Depois do diagnóstico, eu queria mostrar pra eles que aquilo não era eu. E eles querem aprender, eles assistem os vídeos que eu mostro.

Eu sinto muita culpa, um vazio muito grande, é uma coisa muito tensa. E um dos sintomas da Borderline é que a gente tem muito medo do abandono e eu tenho muito medo de perder meus avós. Então eu fico muito com isso, com esse medo de perder meus avós, essa culpa e o medo de perdê-los.

Amanda, agora adulta, com os avós. "Eles me dão força", é o que ela expressa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda, agora adulta, com os avós. "Eles me dão força", é o que ela expressa. (Foto: Arquivo Pessoal)

Eles me ajudaram muito, me ajudam muito até hoje, me entendem e depois do diagnóstico, eles começaram a aprender comigo. Eles sempre falam: “Olha, cuida da cabeça”. E eles têm todo esse esforço de querer que eu esteja bem. E é assim que eu consigo fazer as coisas. E querendo ou não é um transtorno muito difícil. Tem dias que eu tenho vontade de largar tudo. Mas é com o apoio deles que eu tenho forças pra continuar, mesmo quando está tudo difícil. A gente conversa todos os dias, eu tenho esse medo de perder eles todos os dias.

Nas redes sociais, eu estou em um grupo só com outras pessoas que são Borderline também. É muita “bad”, mas eu acho legal compartilhar que eu faço faculdade, que dá para fazer as coisas. Eu quero inspirar outras pessoas assim como eu que dá pra fazer. É difícil, mas é possível".

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