Anésia partiu, mas salvou três vidas e deixou história na culinária da cidade
Dona Anésia era cozinheira conhecida na cidade, especialmente, na Feira Central
Aos 67 anos, terminou a história de uma das cozinheiras mais conhecidas da cidade, dona Anésia, que até hoje tem o nome estampado em barraca da Feira Central. Após um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ela partiu no dia 30 agosto e a decisão da família em doar seus órgãos foi uma nova chance para três famílias.
Anésia Tsuyako Okumoto madrugava para bater a massa do salgado e abrir as portas do Bar Brasil, na Avenida Calógeras com Rua 7 de Setembro, em 1966, ao lado dos pais que eram donos do estabelecimento na época. Foi ali que começou sua história com a cozinha e o início de uma paixão que nunca estremeceu.
Dos 15 anos até o casamento, ela aprendeu as receitas da mãe, aperfeiçoou pratos japoneses, mas não mentia para ninguém que um dos seus pratos preferidos era o tradicional arroz com feijão e bife acebolado.
Foi justamente a carne que fez sucesso quando ela e o marido inauguraram o restaurante Texaco, na Rua 26 de Agosto, que durante décadas funcionou nas mãos dela. “Cresci dentro da cozinha e segurando sua saia enquanto cozinhava. Depois ela me ensinou tudo”, conta a filha Patrícia ShimabukuroArikado, de 43 anos, dona de um restaurante japonês tradicional na Rua Maranhão.
Depois Anésia ganhou destaque na Feira Central quando abriu sua primeira barraca. Lá fez sucesso o com o pintado a urucum e o sobá com caldo feito no dia, “com tempero que era só dela, ninguém mais fazia”, garante a filha.
Há quatro anos Anésia quis vender sua barraca e continuar trabalhando ao lado da filha. Mas o nome famoso nunca saiu da fachada porque o novo dono fez questão de manter. “Por ela ser conhecida, ele não quis mudar. Eu fico feliz”.
No restaurante da filha preparava o almoço. Pulava cedo para comprar ingredientes fresquinhos e era criteriosa na hora do preparo. “Alguns pratos ela fazia questão de temperar, tinha um jeito todo especial, era muito caprichosa na cozinha”.
Sem livro de receitas, tudo que ela deixou ficou na memória da filha e do genro, especialmente, o Katsudon, um prato típico no Japão, servido com um pedaço de lombo de porco empanado com farinha panko, Gohan – tradicional arroz japonês - omelete com cebola, molho tarê por cima, nori - a alga- e a cebolinha. “O sabor especial ela dava o gengibre em conserva”.
Somente o marido de Patrícia sabe fazer a receita com fidelidade. “Ela tentou ensinar todo mundo, mas só ele aprendeu do jeitinho que ela gostava, virou o nosso carro chefe do restaurante”.
Anésia era uma mulher forte, a mais velha de 10 irmãos, bem disposta e vivia dias felizes dedicados ao preparo da festinha de aniversário da neta caçula que vai completar um ano de vida.
Adeus – Na última semana de agosto, Anésia foi internada após sofrer um AVC dentro de casa, em plena madrugada. Passou uma semana no hospital, até que os médicos suspenderam os sedativos à espera de estímulos, “mas ela não reagiu”, diz a filha.
Na noite do dia 30, Anésia partiu em silêncio, mas deixou alegria para três pessoas que tiveram chance de receber seus órgãos. Somente o coração de Anésia não está batendo por aí por causa da idade. “Autorizamos a doação de tudo, mas foram doados somente rim, fígado e córneas. O médico ainda me disse que se não fosse pela idade, o coração da minha mãe seria perfeito”.
Anésia deixou dois filhos, três netos e no último domingo, 23 de setembro, recebeu homenagem da banda Curimba durante show na Concha Acústica do Parque das Nações Indígenas. Seu filho, Rodrigo Okumoto, é um dos integrantes da banda sul-mato-grossense.
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