Cansada de golpe, mulherada se une para não ser passada para trás
Associação de Mulheres Terenas Solidárias foi criada por indígenas da Aldeia Bananal
Há dois anos, mulheres terena decidiram se unir para mostrar que, em conjunto, conseguem ajudar a si mesmas e outras indígenas de sua região a não serem passadas para trás. Pensando nisso, depois de serem cobradas a mais do que o devido por advogados e perderem direitos por falta de conhecimento, criaram a Associação de Mulheres Terenas Solidárias.
Morando na Aldeia Bananal, na região de Aquidauana, as mulheres se uniram há pouco mais de dois anos para auxiliar famílias indígenas a conseguirem desde documentação até auxílios oferecidos pelo INSS. Desde então, já ampliaram os serviços voluntários para outras aldeias da Terra Indígena Taunay e Ipegue.
À frente da associação, Danieli Luiz, de 38 anos, conta que depois de sentir as dificuldades na própria pele e ver que sua comunidade continuava com os problemas, resolveu tentar mudar o cenário. “Eu morei em Campo Grande por 17 anos e aprendi muito, mas também sofri com preconceito, desemprego e falta de conhecimento”, ela conta.
Formada em Pedagogia pela UFMS, Danieli se tornou técnica em análises clínicas e hoje é acadêmica de História morando na Bananal. E, usando dos conhecimentos que adquiriu durante a vida, convidou outras mulheres da aldeia para ajudar a difundir as informações.
“A associação nasceu com intenção de juntar um grupo de mulheres que tivessem a mesma ideia de luta, de ser solidária com os problemas sociais que a comunidade enfrenta. Queremos ser um canal para que os direitos da comunidade, das famílias e principalmente das mulheres cheguem até elas”, detalha Danieli.
Entre os principais problemas identificados, a presidente da associação conta que o acesso à Internet e lidar com documentos sempre estão à frente. Consequentemente, quando as mulheres precisam de auxílios como o de maternidade, aposentadoria ou até auxílio social, os problemas começam a aparecer.
“Tivemos casos em que advogados que são indicados pela cidade conseguiram cadastrar as mães e aposentadas nos sistemas do INSS, por exemplo. Mas ao invés de cobrar a porcentagem correta do serviço, eles cobram muito mais”, ela diz.
Vendo isso acontecer, a associação decidiu que iria se dedicar principalmente para ajudar outras indígenas sem custo algum. “Registramos algumas situações assim na nossa comunidade e estamos tentando fazer com que as mulheres e famílias não sejam mais enganadas”.
Até agora, 32 mulheres e suas famílias já estão cadastradas na associação, mas os serviços abrangem um número maior. Danieli conta que realizar o cadastro na plataforma do INSS e ser uma ponte entre as comunidades e a Defensoria Pública é parte da rotina diária.
“Muitas famílias não têm a documentação correta, que é necessária para que busquem seus direitos. Então é um problema que tentamos resolver. Hoje não temos uma sede, mas também estamos em busca disso”, explica a líder.
Além de ajudar com questões documentais e de benefícios, as mulheres da associação também criaram frentes para outros projetos. Reunindo voluntários, elas conseguiram reconstruir casas que foram desmanchadas com temporais e também criaram hortas.
Outra situação detalhada por Danieli é que até em audiências online a associação tem atuado. “Em alguns momentos, algumas senhoras que não entendem bem o português precisam de ajuda. Então conseguimos ser intérpretes delas com autorização do Fórum”.
Sabendo que há muito trabalho pela frente, a presidente da associação completa que as mulheres terena continuam em busca de mais parceiros e modos de conseguirem conquistar os direitos na prática. “É um trabalho muito bom de fazer e aprendemos muito com as demandas, mas sabemos que ainda há muita coisa para aprender e fazer”.
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