Colecionadores cobram museu para contar história do país usando dinheiro
Foi de porta em porta que se conheceram, criaram associação e agora precisam de ajuda para montar museu numismático na Capital
Mais que hobby, colecionadores querem contar história do Brasil através do dinheiro, em Campo Grande. “A numismática é ciência. Com uma moeda a gente pode falar sobre a religião, governo, aristocracia. Pela cunhagem, vemos se a população tinha boa cultura. Dá para saber se gastaram tempo para fazer uma cédula. Aprendemos sobre a civilização de um povo só de olhar”, conta Paulo Eduardo Rezende.
Ele é publicitário e presidente da Anumis MS (Associação Numismática Sul-mato-grossense), criada em 2010 por José Rodrigues Pinto e mais dois amigos. “A ideia foi minha, fiz um almoço em casa e passamos a nos reunir. Era o Roberto Giolo, o Rivail que já faleceu e eu”, diz o fundador do grupo.
Jóse é escritor e revela que começou a colecionar em 1959, após ver uma exposição de dinheiro em São Paulo. Na época, aos 20 anos de idade, tinha apenas seis cédulas, duas de 1 cruzeiro, duas de 2 cruzeiros e duas de 5 cruzeiros. Contudo, hoje sua coleção expandiu e já são mais de quatro mil peças catalogadas. “Tenho cerca de 110 países e de seis continentes em 38 álbuns”.
“Fiquei 20 anos batendo de porta em porta nas casas de Campo Grande, procurando por colecionadores até que encontrei. Colecionar é questão de amor e carinho”, afirma José. Para ele, o amor pelo dinheiro antigo rende novas amizades e fortalece a união. “Criamos amigos. Esses dias ganhei uma moeda de 1690, é assim, quando menos se espera ganha. Tenho moeda com a Efígie de Dom Pedro”.
Atualmente, a associação está localizada no Centro da Capital e conta com mais de 40 participantes. Os associados pagam uma mensalidade e usam o dinheiro para custear o aluguel do imóvel onde guardam suas relíquias. “Não temos fins lucrativos. A gente dá cursos, palestras, ajuda se o professor de história precisar, mas não temos ajuda de nada”, conta o atual presidente do local, Paulo Eduardo Rezende.
O espaço é pequeno para armazenar todo o acervo e atender as necessidades dos associados. Por isso, Paulo pede ajuda para montar um museu numismático em Campo Grande. “É importante ser mostrado ou estar numa exposição permanente. Na escola aprendemos o que passou, mas não sobre quem eram as pessoas estampadas nos dinheiros. Através das coleções podemos mostrar o que vivemos no passado e saber o que pode acontecer no futuro”.
Os colecionadores se reúnem toda terça-feira para conversar, trocar experiências e vender mercadorias. “Aqui é só para os associados, mas se tiver alguém querendo conhecer é só marcar um dia de visita”, falou o presidente do local.
Histórico - Poucas pessoas devem saber, mas para chegar no dinheiro de hoje tivemos que negociar mercadorias através das trocas, pelo “escambo”. O segundo recurso foi a “permuta”, no qual as pessoas tentavam comprar e vender mercadorias pelo mesmo preço. Após, apareceu a barganha e daí por diante.
Conforme Paulo, a gente é fruto da colônia portuguesa. “O Plano Real tem esse nome por conta do ‘Réis’ que é de origem portuguesa. Tivemos uma infinidade de planos no Brasil, sofremos muito com a inflação”, afirmou.
Voltando ao passado, ele lembrou que o dinheiro mais duradouro no Brasil foi o Réis, com mais de 400 anos de circulação. Já na década de 40 surgiu o Cruzeiro, após foi para o Cruzado, porém tempos depois teve o retorno do Cruzeiro. Em seguida, veio o retorno do Cruzado e o Cruzado novamente. Na sequência, surgiu o 2º retorno do Cruzeiro, Cruzeiro Real até o Plano Real, que já completa 25 anos de circulação no país.
“Quando foi lançado o Plano Real, o salário mínimo era R$67. Com uma cédula de R$100, íamos fazer compras e sobrava troco, em 1994. Hoje, comparado com a época, essa nota desvalorizou e equivale a R$16. Devíamos ter a reformulação do dinheiro como antes, com nota de R$500. A inflação é nítida, mas o Brasil está segurando. Isso é o legal da numismática, a gente aprende porque já passamos por essa situação”, explica Paulo.
Novidade - Uma curiosidades explicada por Paulo é sobre o Cruzeiro e o Cruzado. “Tinha uma nota de 500 cruzeiros, mas logo a inflação comeu um ‘0’ e passou a valer 50 cruzados. Esse padrão vai de 1942 a 1967”, revela.
Nos dinheiros já tivemos estampados Dom Pedro II, Santos Dumont com e sem chapéu, ex- presidentes, militares, índios, a série Axé de moedas em comemoração a abolição da escravatura, animais. Contudo, apesar da evolução, até agora apenas duas mulheres tiveram seus rostos gravados nas cédulas brasileiras; a escritora Cecília Meireles e a princesa Isabel. “São figuras históricas, acho que em nenhum livro de história das escolas explica isso”, diz Paulo.
Também tivemos algumas cédulas com figuras que representavam as regiões do país. “Tinha a baiana, o gaúcho. Circulou por seis meses até que vigorou o Plano Real”, contou o presidente da associação.
Desde que entramos no Real já passamos por algumas mudanças nas cédulas e moedas. No começo, tinha a nota de R$10 com um círculo vermelho. “Era comemorativa ao descobrimento do Brasil. Mas, compraram a patente dessa cédula que, apesar de ser boa, quebrava fácil”, comenta.
Em 2010, as cédulas modificaram de tamanho, devido uma série de fatores, como as falsificações. Os colecionadores ainda têm a moeda de 1 centavo Real, coleção das olímpiadas, futebol, aves e outros animais. Num livro eles mostram o primeiro dinheiro impresso no Brasil que circulou em 1810 e tinha apenas um verso informando o valor.
Das moedas mais antigas, está a moeda de cobre de 24 Antes de Cristo, que deve custar cerca de R$50. “Além de coleção é investimento, pois tem moedas de ouro, prata. Tem cédulas de Réis que valem R$70 mil e uma moeda mais recente, do Império do Brasil, no valor de R$3.800. O que influencia no preço é a tiragem, cunhagem”, conclui o presidente da Anumis.
Além das coleções brasileiras, os associados também contam com acervos de outros países.
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