Com 20 pedidos de socorro por dia, ainda é certo ficar comprando animais?
Santos (SP) agora tem lei que proíbe venda de animais, mas será que isso emplacaria por aqui?
Algumas ideias de fora parecem uma boa dica para também transformar Campo Grande. Em Santos (SP), por exemplo, foi sancionada lei que proíbe a venda de animais no município. A mudança foi publicada no Diário Oficial neste mês e os estabelecimentos terão seis meses para se adaptar. Já por aqui, nem sinal desse tipo de regulamentação, apesar de algumas entidades defenderem como forma de amenizar o sofrimento de animais que são diariamente abandonados.
Por lá, a prefeitura quer acabar com a concessão e renovação de alvará de licença, localização e funcionamento aos estabelecimentos comerciais que vendam animais. A lei defende que os pets deixem de ser tratados como mercadorias.
Por aqui, enquanto não há lei que proíba a comercialização, animais são vendidos livremente em pet shops, canis e também na internet, reforçando o comércio enquanto há uma quantidade imensa de animais que aguardam adoção ou que aguardam a morte no corredor do abandono das ruas.
Ontem (24), o deputado estadual Lucas de Lima (Solidariedade) apresentou na Assembleia Legislativa o Projeto de Lei 244/2019, que proíbe o comércio físico ou digital de cães e gatos de estimação por pessoas físicas e estabelecimentos comerciais não credenciados, no Estado.
Embora quem compre se disponha a cuidar e amar incondicionalmente um bichinho, quem vende não é tão bom assim. Um exemplo claro disso é o número de denúncias e operações de resgate em canis pelo País, onde os animais permanecem em condições tristes.
Nesta semana, por exemplo, em Campo Grande, 44 cachorros foram encontrados amarrados, sujos e sem comida em uma propriedade da MS-040. O dono do local adestrava os cães para caça e vendia para todo o Brasil por valores entre R$ 500 e R$ 2 mil. Investigadores da Polícia Civil e servidores do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) foram até o local e recolheram os animais.
Opinião - A protetora Laura Garcia Brito, da ONG Fiel Amigo, defende que comércio de bichos é até uma questão de saúde pública, porque se a venda fosse proibida, ficaria mais fácil controlar o número de animais abandonados nas ruas e sujeitos a doenças. “Fortaleceria muito mais a adoção, sem diferenciação de animais pelo preço que se paga”, explica.
Um número que reforça essa necessidade é o de pedidos de resgates. Por dia, a protetora Laura diz que chega a receber 20 pedidos, mesmo condições de resgatar todos os animais. “O meu celular lota todos os dias com mensagem e pedidos de resgate em Campo Grande. É absurdo o número de animais abandonados. Eu não posso mais entrar com uma formiga dentro da minha ONG, todas estão lotadas, mesmo assim, não vemos muitas mudanças em relação a isso”.
Com 10 a 15 pedidos de socorro, a protetora Camila Paz, da ONG Pedacinho do Céu, também concorda que a lei seria positiva para mudar a realidade de animais. “Não parece, mas em Campo Grande tem muita gente que compra animais. Sinto que diminuiria muito a quantidade de animais abandonados”.
Paola Souza, da ONG Guarda Animal, defende que a iniciativa deveria ser em todo o país. “Porque as pessoas iriam parar de comprar animais e adotar. O abandono infelizmente sempre vai ter, tanto de animais de raça quanto de animais sem raça definida. Os que são de raça, sempre são o que mais recebemos de pedido de resgate. Porque quando a pessoa compra, acha linda, fofo, mas nos primeiros problemas que começa a dar, e vê que os custos veterinários que precisa não são nem um pouco barato, abandonam”, descreve.
Outra pauta defendida pelas protetoras é a castração em massa. “Um fêmea abandonada nas ruas chega a parir 10 filhotes, isso aumenta consideravelmente o número de animais nas ruas. Se houvesse uma política eficiente de castração, com certeza amenizaria esse problema”, afirma Camila.
Na visão de Laura, só a castração em massa pode diminuir o abandono. “A proibição com as vendas ajudaria muito, mas a castração em massa é capaz de reduzir todos esses números, uma vez que muitos animais abandonados estão procriando nas ruas e muitas famílias também não tem conhecimento sobre a castração”.
O problema, na visão dela, está na falta de informação e preconceito. “Tem gente que chega ao ponto de ser contra a castração porque o cachorro vai deixar de ser macho ou porque vai ficar calmo demais. São muitas as desculpas para impedir a castração, mas acho que é preciso levar informação a população sobre os efeitos positivos dessa medida”.
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Matéria atualizada às 12h58 do dia 25/09/2019 para acréscimo de informações sobre o projeto apresentado pelo deputado estadual Lucas de Lima.