"Coronofobia" machucou não só a mão, mas a cabeça de Miguel
Termo "coronofobia" tem sido empregado para caracterizar o medo excessivo de contrair o coronavírus
Há alguns meses a mãe de Miguel Lauro Nossa, de 14 anos, resolveu tomar uma decisão: levar o filho ao psicólogo. O motivo: o medo de pegar o coronavírus tinha tomado conta dele e até a mão estava ferida de tanto passar álcool.
Miguel é mais um das milhares de pessoas que sofre de “coronofobia”, termo que está sendo usado por especialistas para caracterizar o medo excessivo de contrair a covid-19.
Sintomas de ansiedade e medo de contrair o vírus da covid têm feito com que pessoas se sintam inseguras em todo e qualquer lugar. Um estudo feito pela National Library of Medicine analisou 500 casos de ansiedade e depressão e certificou que todos estavam ligados à pandemia.
“Eu lembro que meu sentimento quando começou a pandemia era de medo, mas fiquei me cuidando sem essa fobia. Eu percebi que eu estava exagerando quando minha mão estava com alergia de tanto usar álcool. De perguntar se tudo está limpo, medo de pegar nas coisas, lavar o pé e as mãos com frequência e não deixar ninguém entrar na casa com tênis”, explica Miguel.
Segundo a psicóloga Cleoneide Luiz de Almeida Lemes, que atende vários casos em Campo Grande, esse perfil de paciente aumentou muito. “É uma ansiedade generalizada, um medo exagerado de pegar o vírus”.
Ela explica que a “coronofobia” causa sofrimento porque ultrapassa um limite. “Medo todos nós temos, mas a coronofobia se caracteriza por ultrapassar esse limite, de nos atrapalhar enquanto indivíduos”.
Além da ansiedade e angústia, a especialista fala de uma espécie de luto que permeia as pessoas com “coronofobia”. “E não é só luto de perder um ente querido,mas é um luto pelo todo, pelo contexto, é uma tristeza que vai além de um caso específico e concreto”.
Esse foi também o caso do jovem Miguel. “Não só alguma angústia mesmo de pegar o covid, é um medo de ter complicações, e antes tinha medo de pegar e passar pra minha família e alguém ter complicações”.
Miguel desenvolveu uma grave alergia na mão. Além disso até hoje tem dificuldade de tocar em objetos que não tem certeza se foi limpo.
“Eu ainda acho que ele precisa melhorar em alguns aspectos, mesmo depois que eu higienizo ele ainda tem receio de tocar. Passa álcool exageradamente no celular”, pondera a mãe, Ida Garcia
O tratamento de Miguel tem surtido efeito, mas ainda precisa avançar. Para Cleonice, o tratamento passa por uma série de atitudes fora do consultório também.
“É preciso refletir sobre a quantidade de informações que absorvemos sobre o vírus, até que ponto isso nos faz bem. Temos que ser comedidos no consumo no noticiário”.
O apoio de terceiros também é importante. “É preciso que as pessoas ao redor tenham empatia, não desvalorizem esse medo”.
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