De caixão a móvel planejado, Alércio construiu de tudo na vida
Em 1971, ele saiu do interior do Estado para começar na profissão que nunca desejou abandonar
A Marcenaria Fortaleza é cheia de histórias de quem começou no ramo quando ainda era mais menino do que homem. Alércio Gonçalves Fonseca, de 66 anos, saiu do interior para estudar em 1971. Em Campo Grande, ele trabalhou como faxineiro antes de encontrar a ocupação que iria desempenhar pelas próximas décadas.
No Bairro Monte Castelo, ele tem o negócio que leva o nome de uma pessoa por quem sentia muito apreço. A falecida sogra recebeu a homenagem do marceneiro que hoje prefere trabalhar sozinho no lugar que é rodeado de móveis, máquinas antigas, serragem e muita madeira.
Para criar as cristaleiras, estantes, cadeiras e outros móveis, Alércio reaproveita madeiras que um dia foram descartadas. O trabalho de restauração e reciclagem é o que movimenta o cotidiano do profissional. O que para muitos poderia ser lixo, nas mãos de Alércio, ganha novo acabamento e utilidade.
O talento com as peças é refletido em cada detalhe de acabamento, puxadores e superfície de bancos. Antes de ser profissional, ele comenta como foi o início no ramo.
“Comecei como faxineiro limpando a marcenaria do seu Camal Anache na Rua São Paulo com Monte Castelo. Trabalhei uns três anos, levei meus irmãos para trabalhar também. Foi tudo do zero, fui aprendendo e fui ajudar o marceneiro. Dali meu pai comprou uma marcenaria para nós na Rua 25 de Dezembro”, recorda Alércio.
Ao falar do pai, o marceneiro revela que o mesmo foi quem ensinou o básico da carpintaria. Na fazenda, o pai era quem fazia o caixão quando alguém da região falecia. “Meu pai era carpinteiro, fazia caixão de tábua para os defuntos. Quando morria alguém naquela época era ele quem fazia. Eu ajudei meu pai”, diz.
A marcenaria que era sociedade entre ele e os dois irmãos durou tempo o suficiente para cada um decidir abrir o próprio negócio. Sem brigas, eles seguiram “Eu tinha 19 anos quando nos separamos”, fala. Hoje, os irmãos seguem fazendo o trabalho na mesma região que Alércio vive.
A criação da Fortaleza - Levou três anos para o homem terminar a construção do espaço que serve de oficina e garante o sustento da família. Sozinho, Alércio ergueu a oficina que começou embaixo da árvore de abacate. 40 anos depois, ele comenta como se sentiu quando conclui a obra. “Foi muito bom, foi muito gratificante e aí comprei as máquinas tudinho”, fala.
Além dos móveis e ferramentas, o ambiente tem itens que revelam um pouco da vida do marceneiro. Nas paredes, ele pendurou retratos dos dois times pelo qual é apaixonado. O brasão do Corinthians está ao lado do Grêmio, porque é sendo metade corinthiano e gremista que Alércio é feliz.
Na parede também estão fotos de um Alércio mais jovem pescando com a família, jogando bola com os irmãos e conhecendo o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida Numa das imagens, ele está ao lado do cliente com compartilha o mesmo nome. Na ocasião, o marceneiro foi contratado pelo ‘Doutor Alércio’ para fazer um móvel planejado em São Paulo.
Depois de falar sobre a vida, o marceneiro resume tudo com uma reflexão que revela a astúcia de quem conheceu cedo o trabalho.
“A vida é um jogo. Se você trabalhar mal, você não pega freguês, você não pega serviço. Você tem que saber jogar”, finaliza Alércio.
Confira a galeria de imagens:
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