Em Campo Grande, a Palestina vive por meio do coração de Ashjan
Corumbaense de nascimento, filhas de palestinos, Ashjan carrega consigo o orgulho e drama dos laços palestinos
Apesar da distância geográfica, um pedacinho da Palestina reside em Campo Grande, principalmente no coração da psicóloga Ashjan Sadique, de 37 anos. Corumbaense de nascimento, filhas de palestinos, ela mora há pouco mais de dois meses na Capital.
É daqui Ashjan, também membro da FEPAL (Federação Árabe Palestina), acompanhou o acirramento do ânimos entre o estado de Israel (maioria judaica) território palestino (maioria mulçumana).
Quem não viu em algum jornal no último mês uma notícia sobre ataques com mísseis de ambos os lados, prédios derrubados e o pior, civis mortos, principalmente do lado palestino.
A família de Ashjan que ainda reside na Palestina mora na Cisjordânia, relativamente longe do conflito, que agora está cessado. Os pais da psicicóloga moram em Corumbá. O pai veio primeiro, em 1968, já a mãe veio em seguida, em 1972, os dois foram precedidos pelo avô paterno dela, que chegou no Brasil em 1955.
"Era muito comum a comunidade árabe se instalar na fronteira, por conta dos documentos, vistos, essas coisas"
A vinda dos pais de Ashjan para o Brasil tem a ver com esse contexto, segundo ela, de deterioração territorial e violação de direitos por parte do sionismo, que é um movimento político que acredita na necessidade de um estado judeu.
"Meu pai por exemplo viveu a Guerra dos 6 Dias (1967). Ele conta que davam armas sem balas pra eles lutarem, uma disparidade de forças muito", conta Ashjan.
Ashjan já esteve algumas vezes na Palestina, na última em 2011. Ela se orgulha da cultura de seu povo, inclusive nos recebeu usando um vestido tradicional palestino, usado em festas e ocasiões especiais.
"Na minha família a gente usa principalmente em casamentos".
Ashjan conta que despertou o olhar político para a questão palestina durante sua vida acadêmica. "A gente não falava muito disso em casa, nós vivíamos a Palestina por meio da cultura, da comida, da música, mas nunca foi falado dentro de casa".
Ela conta que, inclusive, a mãe ficou preocupada quando começou a falar abertamente sobre o conflito Israel/Palestina. "Eu faço muitas lives sobre o assunto, posto coisas nas minhas redes sociais".
Mesmo com toda a ligação com a Palestina e com os costumes, Ashjan jura que olha tudo de uma perspectiva histórica, sem levar em conta a religião, que no fundo está intrinsecamente atrelado ao conflito, principalmente por iniciativa de Israel, que se autoproclama um estado judaico, não fazendo diferenciação, portanto, entre estado e religião.
"Minhas análises são laicas. Parto de um contexto histórico, social, economico. Não sou antijudaica, antissemita, sou antisionista, isso sim".
O estigma carregado pelo povo mulçuano também incomoda. "Em algumas lives as pessoas riem, dizem que vamos explodir tudo, fazendo uma alusão ao terrorismo".
Para além do conflito, Ashjan conta com uma série de livros de autores palestinos. Também com adereços típicos, bandeiras, que se misturam com, por exemplo, um berimbau na parede, uma mistura clara de culturas.
"Não viveria na Palestina, sou Brasileira, mas minhas raízes estão lá".
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