Em que momento da maternidade nós viramos nossos pais?
Me peguei vivendo exatamente o que as avós dos meus filhos já viveram
Lembro-me que, quando cheguei à família do meu, hoje, marido, me assustei com o fato de que meus sogros não iam ao cinema há 28 anos, como foi contado casualmente em um almoço de domingo. Como assim? Quase três décadas sem se sentar no escurinho, dividir uma pipoca cheia de manteiga, ver trailers, programar próximos filmes, isso sem falar que depois do longa; ainda tem a discussão da atuação dos atores, o que faltou, o que sobrou...
Em dezembro, eu e meu marido vamos completar três anos sem ir ao cinema. E nem estou falando da pandemia, porque, mesmo se não houvesse o risco de contaminação pelo coronavírus, eu não estaria assistindo a algum lançamento.
Tudo bem que agora a gente tem plataformas e serviços de streaming que trabalham com lançamentos que vencem Oscar. Mas nem assim eu consigo assistir. Hoje entendo os meus sogros. Eles tiveram três, eu só tenho dois filhos. E, coincidentemente, seguimos o mesmo caminho: a diferença do meu marido para o irmão é de 1 ano e 1 mês, quase igual aqui, entre os meus, o que os separa são 1 ano e 3 meses.
O cinema foi mesmo um exemplo do quanto a gente deixa de acompanhar lançamentos, papos e as novidades. Depois que abriu o Sam's Club em Campo Grande, nem mesmo uma sessão bem bacana da Carter's conseguiu me atrair ao local.
A verdade é que, em algum momento da maternidade, a gente passa a ter a vida que nossos pais tiveram e se pega repetindo frases que até ontem era a gente quem ouvia. Isso faz com que a gente entenda muito da trajetória deles. Também nos faz respeitar e agradecer por eles terem aberto mão de tanta coisa por nós.
O Otto pode ser a "casquinha" do papai, mas o "recheio" é da mamãe. Explicando: ele até pode ser a cara do pai, mas a personalidade dele todinha parece com a minha. Há quem diga que eu ainda era um pouquinho "pior". Avoado, criativo, tagarela, tudo vira brincadeira nas mãos dele, que tem um argumento para qualquer questionamento na ponta da língua, no alto dos seus quase 3 anos de idade. Junto disso vem o fato de nunca saber onde está o copinho de água quando ele pede "água de coco, pú favoi, mamãe". E lá vou eu rezar a missa que eu ouvi minha vida inteira: "Cadê seu copo, Otto? Você tem que cuidar das suas coisas, deixa tudo espalhado por aí e não sabe onde está nada, aí perde..."
No café da manhã de hoje - sim, escrevo as colunas sempre aos domingos de manhã, por isso às vezes falha uma semana -, eu e meu marido não conseguimos comer sozinhos. A receita era "pão de queijo de tapioca", um dos primeiros "pratos", por assim dizer, que o Guilherme fez pra mim quando começamos a namorar. Claro que tivemos "companhia" nas mordidas, mesmo após os dois pequenos já terem feito suas refeições matinais. A gente também nunca mais vai comer nada sem dividir. E está tudo bem. Até hoje, se minha mãe comer comigo, ela me deixa "beliscar" e pegar o último pedaço. Tô preparada para que isso também aconteça.
Ah, quanto ao cinema, já me contento de conseguir acompanhar algumas séries, mesmo que seja assistindo a metade de um episódio de cada vez.
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