Filhas terminam livro que por 69 anos Ari sonhou deixar de herança

Ari de Oliveira Silva tinha o sonho de escrever um livro para relatar as histórias de sua família e deixar registrado para as futuras gerações. Ele deu início à escrita durante a pandemia, mas morreu antes terminar. Um ano depois, esposa e filhas cumpriram a missão de finalizar a obra e presentear quem ficou.

“A Saga da Família Oliveira & Silva” ficou pronto em julho e teve lançamento em Sonora, a 360 quilômetros de Campo Grande, durante jantar para a entrega dos livros aos familiares e amigos próximos.

Participaram da entrega os irmãos e sobrinhos que moram em Sonora, irmã e primos que moram em Minas Gerais e Goiás, até familiares de Cuiabá e Rondonópolis.

“Foi uma festa, no sentido literal da palavra mesmo. Durante a entrega dos livros as lágrimas foram inevitáveis, mas depois fizemos como meu pai sempre gostou e aproveitamos para prosear e aproveitar as músicas”, conta a bancária Lidiane Maria de Oliveira Capriata, 43 anos, filha de Ari.

Ela, a irmã Laiane Oliveira Silva, de 40 anos, e a mãe Maria Lucinda Silva de Oliveira, de 70 anos, foram quem finalizaram o livro de Ari. Na entrega, alguns exemplares também foram disponibilizados para a venda e o valor integralmente doado para o Hospital do Amor.

O livro traz memórias de Ari desde o seu nascimento “nas Minas Gerais” até sua vida adulta no Mato Grosso do Sul.

De um jeito descontraído, Ari narrou acontecimentos mais marcantes de sua vida, como era o trabalho dos seus avós e dos seus pais, como foi o nascimento dos seus irmãos, filhos e netos, as dificuldades que tiveram e claro, as conquistas.

Além disso, ele reuniu fotos dos familiares e informações como nomes, local e data de nascimento.

O projeto é de longa data, mas foi de março a dezembro de 2020, durante a pandemia, que ele escreveu o livro, relatando a trajetória da família, que ele tinha imensa admiração.

Mas Ari vinha lutando contra um câncer metastático há anos, e teve uma infecção generalizada que o levou ao falecimento em 10 de maio de 2021.

Decididas a realizar o sonho do pai, irmãs se surpreenderam com a escrita e reviveram as emoções de Ari.

“Meu pai tinha uma memória invejável, não se esquecia dos compromissos, muito menos dos acontecimentos. Ao ler tudo o que ele escreveu nos surpreendeu como ele se recordava precisamente dos fatos e das datas sem ao menos consultar anotações”, lembra Lidiane.

A esposa também pôde relembrar a trajetória de vida do casal. Ela ficou com a missão de entrar em contato com os familiares na busca de informações e fotos, resgatando laços por vezes enfraquecidos pelo tempo e a distância.

Laiane, já tinha começado a fazer a revisão da escrita com o pai e juntos eles deram boas risadas, chegando a parecer que a dor causada pela doença e a despedida não estava mais ali.

“Ele resumiu a história de sua vida e foi uma satisfação confirmar pelos seus relatos o quanto ele foi uma pessoa especial; sempre muito responsável, chegou a deixar de lado os seus sonhos para ajudar os seus pais a cuidar dos irmãos e foi, aos poucos concretizando os seus projetos, como o de fazer uma faculdade, sonho realizado no ano de 2010, aos 57 anos”, lembra Laiane.

A sua simpatia e firmeza de decisões, assim como o seu amor pela família, esposa, filhas e netos estão todas registradas no seu livro. “Meu pai sempre gostou de tirar fotografias para deixar como lembrança, gostava de participar das festas e eventos de familiares e amigos em que era convidado, então o livro é recheado de fotos, o que nos motiva ainda mais a ler e reler a obra dele”.

Em Sonora, Ari foi funcionário de empresa privada, servidor público, secretário de finanças, chefe de gabinete, Vereador e até relator da Lei Orgânica do Município, além de outras atividades, como ele disse, foi até motorista da ambulância nas horas vagas. Depois ele se mudou para o Distrito de Quebra Coco, em Sidrolândia e ao se aposentar, veio para Campo Grande.

Ari se foi quando a filha Laiane estava na metade de sua segunda gestação. Ele não chegou a conhecer a Milena, a netinha, apenas soube que seria uma menina e o nome dela ele levou em um bilhetinho que a filha colocou no bolso do seu paletó no dia do funeral.

“Como ele dizia: “as curvas da estrada da vida são invisíveis”. Ele seguiu a estrada dele e nós ainda estamos buscando encontrar o nosso caminho sem a sua presença física”, destacam Laiane e Lidiane.

Quem tiver interesse em adquirir, ainda tem exemplares disponíveis para a venda no site da Life Editora (clique aqui).

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