Flávia conheceu a fome de perto e hoje ajuda moradores de rua
Cozinheira venceu as dificuldades e retribui conquistas com a distribuição de marmitas aos moradores de rua
A fome é muito triste, me sinto feliz em saber que consegui matar isso de alguém”, diz a cozinheira.
Quem viu de perto a realidade da falta de comida sabe que qualquer ajuda pode significar tudo. É assim, com pequenos gestos de amor ao próximo e sem julgamentos, que Flávia Noginski, de 44 anos, traz esperança de dias melhores a pessoas em situação de rua que imploram por alimento na porta do pequeno restaurante dela, no bairro Coophamat, em Campo Grande.
O motivo de estarem na rua não importa para Flávia. A ação que, pra ela não merece aplausos, foi desenvolvida após viver na pele a dor da fome. Nascida no sertão do Ceará e criada apenas pela mãe, a mulher experienciou momentos de sofrimento causados pela ausência de dinheiro.
“Morava em Campos Sales, no bairro Monte Castelo. Fui criada pela minha mãe e mais quatro irmãos. Ela trabalhava na roça, fomos tendo umas dificuldades grandes. Hoje, não consigo deixar ninguém passar necessidade. Eu ajudo de alguma forma quando eles chegam até mim”.
Flávia explica que não sabe ao certo a quantidade de moradores que procura o restaurante, mas que em média consegue ajudar 25 pessoas por dia. Tudo se intensificou na pandemia de covid-19.
“Antes, já fazia as doações, mas agora é bem mais. Depois da pandemia, estão vindo até pessoas que não são moradores de rua, pessoas que têm residência, mas falam que não têm condições de comprar comida”.
O cardápio é variado, mas segundo a cozinheira, o menu favorito deles é o frango ao molho. “Eles adoram, alguns já abrem e saem comendo. Eu trabalho com a quantidade ao longo do dia, vai saindo e vamos fazendo mais. Não tem sobra. Faço pra quantidade de cliente que já tenho e pra que eles consigam comer. A fome é muito triste. Isso não impacta no meu orçamento, Deus sempre dá um jeito”.
Flávia se emociona ao falar que criou laços com os homens, isso porque eles são a maioria nas ruas e na porta do local. ”Me sinto feliz em saber que matei a fome de alguém. A situação deles é muito triste, eu até me sensibilizo, chamo muitos de filhos. As pessoas trazem agasalho e cobertor eu passo pra eles”, diz.
Distribuição - Para organizar o recebimento dos alimentos que não serão reaproveitados no restaurante, Flávia combinou que os moradores em vulnerabilidade fossem ao estabelecimento todos os dias, a partir das 14h. "Eu conversei com eles. Pra me ajudar, pedi que trouxessem os próprios potes e eu monto a marmita, ou eu ou meu sobrinho".
História - A mulher saiu do estado nordestino aos 15 anos, morou em São Paulo por 25 anos e chegou à capital sul-mato-grossense há seis. Hoje, ela é dona do Flavia's Restaurante e administra o empreendimento com a família. Ao todo, são oito pessoas, já contando com ela. Na lista, estão filhas, sobrinhos, esposo e irmã.
“Tive um convite de um primo pra vir pra cá, ficamos um ano com ele e montamos um negócio. Eu coordeno e cozinho. Minha prima é meu braço direito”.
Além de promover uma noite nordestina no local, com comidas típicas como a tapioca, baião de dois e cuscuz, outro sonho na vida da cozinheira é adquirir um terreno para ajudar pessoas vulneráveis. ”Queria construir um lugar para que eu possa acolher todos eles”.
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