Foto trouxe memória de quando Lenine vendia pão na carrocinha
Na década de 1960, ele e o primo rodavam o Bairro São Francisco distribuindo pães
A foto no grupo do Facebook desencadeou lembranças que Lenine de Oliveira Rocha, de 71 anos, nunca esqueceu. Na infância, ele e o primo rodavam o Bairro São Francisco entregando pães na carroça puxada por um burrinho.
Lenine não sabe quanto tempo subiu e desceu as ruas da região, que antes era conhecida como ‘Cascuda Pedreira’. Mas, recorda como se fosse ontem que, às vezes, o burrinho atolava no barro e era preciso descer da carroça para continuar a viagem.
O funcionário aposentado do Correios cresceu no bairro onde hoje reside em apartamento. Ao chegar no prédio, Lenine compartilha a primeira recordação da época de entregador. “Aqui em cima onde tem esse outro condomínio era uma chácara. Era o último local onde deixamos pão. A entrega do pão era nesse bairro todo, pegava um pouquinho da Planalto”, fala.
Filho de mineiro, o pai de Lenine (José) veio com os três irmãos da cidade de Muzambinho. Juntos, eles abriram na Capital a padaria Modelo, porém a sociedade foi desfeita e José, o ‘Zé Padeiro’, passou a trabalhar na ferrovia Noroeste.
O envolvimento de Lenine com o negócio da família ocorreu quando o mesmo tinha por volta de 13 anos. Ele comenta como surgiu o convite para entregar os pães. “Quando foi nessa época o meu primo entregava pão e ele me chamou, falou: ‘Primo, vamos lá, me ajuda a entregar’. Eu entregava de graça, saia com o burrinho por aqui tudo, não tinha asfalto, era tudo terra”, conta.
Ao lado do primo, Lenine afirma que ambos se divertiam durante o percurso. “Pra mim e pra ele era uma brincadeira. Antes de sair a gente pegava duas roscas de açúcar, punha na carroça, mas não era para entregar era para comer”, diz.
Após um período, ele parou de entregar os pães, porém retornou ao ofício quando tinha 17 anos. Dessa vez, Lenine fazia o trabalho sem o primo, o burrinho e carroça. A padaria dos tios já não existia e ele prestava serviço para uma senhora. “Eu entregava pão para a dona, mas era numa bicicleta cargueira com um cestão. Eu saia pedalando ali pela Planalto”, relata.
De tantas entregas que fez, Lenine desconfia que chegou a conhecer os sogros anos antes de casar. “Se não me engano, porque não sei até que ponto, entreguei na casa dos meus sogros, da minha esposa”, comenta.
Essas e outras histórias são nítidas na cabeça de Lenine que lembra os detalhes da carrocinha que usava. Apesar de não ter registro fotográfico, a imagem dela está cravada na memória. Segundo ele, a semelhança é a mesma da foto compartilhada no Facebook. “Eu nunca esqueci”, frisa.
De entregador a jogador de futebol, o homem fez de tudo um pouco. A carreira como jogador, conforme ele, não vingou pois na época o incentivo ao esporte não era o mesmo de atualmente. Ainda assim, Lenine guarda com carinho o retrato ao lado do time onde atuava como atacante aos 16 anos.
Eletricista, cobrador, inspetor escolar e por fim funcionário do Correios. O simpático Lenine terminou a vida de trabalhador na empresa onde anos antes tinha entrado ao escrever uma carta. A ligação dele com a empresa foi brevemente interrompida em 1990, porém em 1995 ele retornou e só saiu quando se aposentou em 2009.
Para quem começou a vida na função de entregador, Lenine fala com bom-humor que na empresa fez de tudo menos entrega. “Nunca fiquei na rua, porque na carta coloquei: ‘Você me põe em qualquer lugar, exceto sair na rua’. Depois que passei fui chefe de tudo, fui para o interior, rodei 37 anos no Correios”, conclui.
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