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Comportamento

Foto trouxe memória de quando Lenine vendia pão na carrocinha

Na década de 1960, ele e o primo rodavam o Bairro São Francisco distribuindo pães

Jéssica Fernandes | 22/10/2022 07:40
Imagem em rede social levou Lenine a recordar tempo de entregador. (Foto: Reprodução/ Facebook)
Imagem em rede social levou Lenine a recordar tempo de entregador. (Foto: Reprodução/ Facebook)

A foto no grupo do Facebook desencadeou lembranças que Lenine de Oliveira Rocha, de 71 anos, nunca esqueceu. Na infância, ele e o primo rodavam o Bairro São Francisco entregando pães na carroça puxada por um burrinho.

Lenine não sabe quanto tempo subiu e desceu as ruas da região, que antes era conhecida como ‘Cascuda Pedreira’. Mas, recorda como se fosse ontem que, às vezes, o burrinho atolava no barro e era preciso descer da carroça para continuar a viagem.

O funcionário aposentado do Correios cresceu no bairro onde hoje reside em apartamento. Ao chegar no prédio, Lenine compartilha a primeira recordação da época de entregador. “Aqui em cima onde tem esse outro condomínio era uma chácara. Era o último local onde deixamos pão. A entrega do pão era nesse bairro todo, pegava um pouquinho da Planalto”, fala.

Lenine de Oliveira recorda infância ao lado do primo entregando pães. (Foto: Paulo Francis)
Lenine de Oliveira recorda infância ao lado do primo entregando pães. (Foto: Paulo Francis)

Filho de mineiro, o pai de Lenine (José)  veio com os três irmãos da cidade de Muzambinho. Juntos, eles abriram na Capital a padaria Modelo, porém a sociedade foi desfeita e José, o ‘Zé Padeiro’, passou a trabalhar na ferrovia Noroeste.

O envolvimento de Lenine com o negócio da família ocorreu quando o mesmo tinha por volta de 13 anos. Ele comenta como surgiu o convite para entregar os pães. “Quando foi nessa época o meu primo entregava pão e ele me chamou, falou: ‘Primo, vamos lá, me ajuda a entregar’. Eu entregava de graça, saia com o burrinho por aqui tudo, não tinha asfalto, era tudo terra”, conta.

Ao lado do primo, Lenine afirma que ambos se divertiam durante o percurso. “Pra mim e pra ele era uma brincadeira. Antes de sair a gente pegava duas roscas de açúcar, punha na carroça, mas não era para entregar era para comer”, diz.

Primeiro à direta, Lenine pousa agachado ao lado do time. (Foto: Paulo Francis)
Primeiro à direta, Lenine pousa agachado ao lado do time. (Foto: Paulo Francis)

Após um período, ele parou de entregar os pães, porém retornou ao ofício quando tinha 17 anos. Dessa vez, Lenine fazia o trabalho sem o primo, o burrinho e carroça. A padaria dos tios já não existia e ele prestava serviço para uma senhora. “Eu entregava pão para a dona, mas era numa bicicleta cargueira com um cestão. Eu saia pedalando ali pela Planalto”, relata.

De tantas entregas que fez, Lenine desconfia que chegou a conhecer os sogros anos antes de casar. “Se não me engano, porque não sei até que ponto, entreguei na casa dos meus sogros, da minha esposa”, comenta.

Essas e outras histórias são nítidas na cabeça de Lenine que lembra os detalhes da carrocinha que usava. Apesar de não ter registro fotográfico, a imagem dela está cravada na memória. Segundo ele, a semelhança é a mesma da foto compartilhada no Facebook. “Eu nunca esqueci”, frisa.

Funcionário aposentado dos Correios, ele aponta para imagem no retrato. (Foto: Paulo Francis)
Funcionário aposentado dos Correios, ele aponta para imagem no retrato. (Foto: Paulo Francis)

De entregador a jogador de futebol, o homem fez de tudo um pouco. A carreira como jogador, conforme ele, não vingou pois na época o incentivo ao esporte não era o mesmo de atualmente. Ainda assim, Lenine guarda com carinho o retrato ao lado do time onde atuava como atacante aos 16 anos.

Eletricista, cobrador, inspetor escolar e por fim funcionário do Correios. O simpático Lenine terminou a vida de trabalhador na empresa onde anos antes tinha entrado ao escrever uma carta. A ligação dele com a empresa foi brevemente interrompida em 1990, porém em 1995 ele retornou e só saiu quando se aposentou em 2009.

Para quem começou a vida na função de entregador, Lenine fala com bom-humor que na empresa fez de tudo menos entrega. “Nunca fiquei na rua, porque na carta coloquei: ‘Você me põe em qualquer lugar, exceto sair na rua’. Depois que passei fui chefe de tudo, fui para o interior, rodei 37 anos no Correios”, conclui.

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