Há 48 anos, picolezeiro reza 3 vezes ao dia para "menina santa" morta no Amambaí
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Se seu Francisco passar por ali três vezes, serão as mesmas três vezes em que o boné sai da cabeça e as mãos fazem o sinal da cruz. O picolezeiro até para a buzina ao se aproximar da capela feita à Santa Carminha. A história da menina, ele sabe de cor, dos contos narrados a ele anos atrás, pelos próprios fundadores da cidade de Campo Grande.
Carminha era criança ainda quando foi violentada e morta. O corpo foi encontrado em estado de decomposição onde hoje a placa indica "Santa Carminha", na Rua Joaquim Nabuco, próximo à antiga rodoviária, no bairro Amambaí. "Mataram ela em 1919, nesse tempo não tinha nada aqui. Era tudo mato, acabava lá perto da Joaquim Murtinho", conta o picolezeiro Francisco Pedro Mendonça, de 65 anos.
O que lhe contaram foi que depois de encontrado o corpo, quem "mandava" na cidade, à época o coronel Sebastião Lima mandou que dessem um jeito no autor, morto onde hoje é a Praça Ari Coelho.
"Só sei que eu conheço essa capela tem 48 anos. Ela morreu numa situação bem triste, o que fez com que ela fizesse milagres. Todos os dias que eu passo, eu paro aqui. Se eu passar trê vezes, nas três eu vou rezar", conta.
Antigamente era só a cruz com o nome e o espaço fechado com arame. Seu Francisco lembra que a construção da capela se deu em 1974. "Um senhor fez uma promessa, se ele alcançasse a situação, fazia uma capelinha e fez. Enterrada ela está aqui mesmo, porque o corpo já estava podre", explica.
Para a menina chamada de Santa, o picolezeiro já pediu de tudo e também conta ter sido muito atendido. "Problema de saúde, problema financeiro. Primeiro é Deus, depois é ela, Santa Carminha".
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Nos registros de histórias de Edson Contar, nos anos 50 que a história da menina teve o auge. "Foi uma lenda na cidade, aquela época muito pequena, então tudo o que acontecia, todo mundo ficava sabendo", conta. O status de santa atribuído à ela foi passado de boca em boca. "Um que ia lá, rezava, tinha atendido alguma coisa, achava que era por conta dela e passava para outro", narra o historiador.
Nas décadas passadas, o local recebia, além de flores e velas, muitos brinquedos. A história escrita mesmo não se tem. Parte dela foi relatada numa matéria escrita por Américo Calheiros e que depois virou capítulo do livro "Memórias de Jornal".
"Ela é popularmente conhecida como santa, foi morta por um homem e aqui a população começou a acender velas e fazer pedidos. Por verdade ou coincidência, alguns pedidos foram atendidos, criando essa áurea em volta dela".
Para seu Francisco, pouco importa o que diz o escrito, a verdade é que se três vezes ele passar ali, das três vai rezar à Santa Carminha.