Haitiano e campo-grandense vencem 10º concurso de Beleza Negra de Campo Grande
Roobens está em Campo Grande há pouco mais de um ano e participou da competição à convite de uma das organizadoras. Luana é militante dos direitos dos negros e nunca havia pensado em participar de competições de beleza até este ano
O concurso Miss e Mister Beleza Negra de Campo Grande agora pode ser considerado tradição contra o preconceito. Ontem, chegou a 10ª edição, sob os olhares de cerca de 80 pessoas no Centro de Convivência do Idoso Vovó Ziza. O evento é organizado pelo cabeleireiro RudiNolasco, que sempre trabalhou com cabelos afros e achava que a beleza negra deveria ser celebrada.
“Vivia cercado de mulheres lindas e nos concursos de beleza elas têm pouca representatividade, então me juntei com amigos para criar um só pra elas. Hoje temos a premiação masculina. Um evento como este serve para quebrar paradigmas, preconceito, empoderar uma causa e melhorar a autoestima de quem está concorrendo”, acredita.
Foram 15 candidatos que participaram da competição, sendo 11 mulheres e 4 homens. Teve desfile em trajes de festa de um por um, onde era apresentado um pequeno perfil deles. Durante os intervalos e contagem de votos houve apresentações de zumba e samba de gafieira.
Entre as mulheres o terceiro lugar foi para Lídia Lopes, a segunda colocada foi Lídia Fernandes e a campeã foi Luana Cavalcanti. Já o terceiro lugar masculino foi para Johnny Souza, o segundo para Mateus Henrique e o campeão foi o haitiano que mora em Campo Grande há um ano e três meses Roobens Chery. Além da competição principal houve premiação de melhor torcida, melhor cabelo, melhor desfile e miss e mister simpatia, tudo que um concurso de beleza pede.
Essa foi a primeira fez que a professora de português Luana, que tem 25 anos, participou de uma competição de beleza. Ela é militante da causa negra e não imaginava sagrar-se campeã. De estatura mediana, cachos vistosos e sorriso largo, ela estava ali mais para dar visibilidade à sua luta do que para competir.
“Nossa sociedade ainda é bastante preconceituosa, sou professora e até na sala de aula passo por situações desagradáveis. Até minha adolescência quis seguir padrões instituídos em nossa sociedade, como alisar o cabelo, e só quando adulta que vi o quão importante é ser nós mesmos, ainda mais quando somos negros”, reflete.
Ela acredita que o concurso ajuda para que todo mundo passe a olhar para eles de outro modo e ver que há beleza na diversidade. “A mulher negra também tem seu espaço, todas que estavam aqui são lindas. Iniciativas como essa com certeza nos ajudam”, avalia.
Roobens era só alegria desde a hora que desfilou no salão do Vovó Ziza. Dono de um sorriso largo e vistoso, mas um pouco tímido ele até se enrolou com o português na hora de fazer o discurso de campeão em cima do palco. Ele tem 22 anos veio para Campo Grande com o intuito de estudar e trabalhar. Frequenta o Ensino Médio, afirma ser um dos melhores de sua classe, e trabalha como gari.
“Fui convidado por uma das organizadoras a participar do concurso e vim, sem pretensão nenhuma. Já tinha concorrido num concurso de beleza no Haiti, mas lá não tinha ganhado”, conta ele sorridente e bastante alegre.
Ele também já passou e ainda passa por situações de preconceito por conta da cor de sua pele e acredita que o concurso ajuda a diminuir o preconceito. “Vim de outro país e sinto que aqui é muito mais forte que lá. Aqui estamos tendo visibilidade, somos importantes também e temos nossos direitos”, conclui.
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