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Comportamento

Ipê que Beto plantou só floriu depois de sua morte, para lembrar de vida

Ipê amarelo e a pitangueira foram plantados por Roberto e pela filha, que esperaram cores por quase 10 anos

Aletheya Alves | 06/10/2022 06:55
Após a morte de Roberto, ipê amarelo resolveu florescer em frente de casa. (Foto: Marithê do Céu)
Após a morte de Roberto, ipê amarelo resolveu florescer em frente de casa. (Foto: Marithê do Céu)

Há quase dez anos, Roberto Carlos Rodrigues e a filha plantaram os pés de ipê e pitanga em casa com esperança de que iriam ver juntos as árvores coloridas por flores e frutos. Nesse tempo, Beto se foi e só três meses depois de sua morte, lembrando que suas folhas continuam vivas, é que o ipê finalmente ficou amarelo e as pitangas encheram o pé.

Quando olhou para o quintal e a frente da casa, onde as árvores habitam, Marithê do Céu, de 30 anos, só conseguia ouvir a voz do pai dizendo que “a paciência é uma virtude, tem que esperar” e chorar de emoção. Em sintonia com a primeira primavera sem Beto no quintal, as árvores resolveram florir lembrando da vida que ficou de quem partiu.

“Acho que eu me apeguei a isso como forma de senti-lo vivo, afinal a morte não existe. E ver as flores amarelas do ipê, as árvores que plantamos juntos cheias de frutas com os passarinhos, que ele sabia de cor qual era só de ouvir o canto, cantando nelas. A poesia nos faz imortais e há poesia em tudo”, conta Marithê.

Hoje, sentindo as novas cores da casa, a fotógrafa conta que Beto fazia sentido em conjunto com cada pedaço do lar. Escolhido por ela como pai há cerca de 15 anos, o homem de quase dois metros de altura também era um gigante em seu jeito de amar, como a filha diz.

Pela primeira vez, pé de pitanga ficou cheio de frutas. (Foto: Marithê do Céu)
Pela primeira vez, pé de pitanga ficou cheio de frutas. (Foto: Marithê do Céu)
Amarelo das flores é nova cor deixada como herança por Beto. (Foto: Marithê do Céu)
Amarelo das flores é nova cor deixada como herança por Beto. (Foto: Marithê do Céu)

Seja ao fazer café ou cuidar das plantas, Marithê narra que o pai era um verdadeiro “agregador”, juntava todo mundo sempre que podia. E, pelo gosto por demonstrar amor, foi deixando sementes de si sem nem perceber.

Retomando a história das árvores, a filha explica que antes de Roberto o quintal era composto por apenas um pé de carambola. “Quando ele veio, a gente começou a plantar de novo as coisas no quintal. Ele sempre gostou disso, já teve horta, então tinha o conhecimento. Já eu sempre gostei de ter fruta no quintal”.

Somando os gostos, os dois começaram a dar novas vidas ao quintal com um pé de alecrim e outro de acerola. Com o tempo, chegaram os pés de pitanga, ipê, amora e goiaba, todos plantados com os pitacos do pai.

Sobre a surpresa de ver a pitangueira cheia e o ipê amarelo, Marithê explica que o cenário foi algo encantador.

“Eu sempre quis ter um ipê na frente de casa. A gente tinha algumas plantas ali, mas uma delas precisou ser arrancada e ficou o espaço vazio. Falei para ele que queria um ipê ali e surgiu a oportunidade de pegarmos a muda e plantar. A partir daí, eu ficava falando que o ipê não ia vingar, vinha chuva e ele se contorcia. E meu pai sempre falando que paciência é uma virtude, que a gente precisa esperar. Então foi uma coincidência linda. O pé de pitanga dava três ou quatro frutas por ano, dessa vez, depois dele ter morrido, é a primeira vez que está tão regado. Acho que é por isso que eu fiquei tão emocionada”, diz Marithê.

Fotógrafa conta que o pai era conhecido por celebrar a vida. (Foto: Arquivo pessoal)
Fotógrafa conta que o pai era conhecido por celebrar a vida. (Foto: Arquivo pessoal)
Agora, cuidado com as plantas passou para as mãos de Rosa, tia de Marithê. (Foto: Marithê do Céu)
Agora, cuidado com as plantas passou para as mãos de Rosa, tia de Marithê. (Foto: Marithê do Céu)

Mantendo a vida, as plantas e os goles

Recente, a partida de Roberto foi súbita e, por isso, os caminhos para manter a vida e as plantas seguem sendo trilhados, como narra Marithê. “Ele teve um infarto fulminante, morreu no quintal que ele tanto amou, na varanda que construiu para confraternizar. Sempre teve muito dele nessa casa, quando morreu tinha ele em tudo e ainda tem. Acho que o exercício do luto é transformar essas pequenas coisas em coisas grandes. Agora, ele não está aqui fisicamente, mas está nessas coisas que plantamos juntos”.

Com isso em mente, a fotógrafa explica que cada parte da família continua cultivando as sementes de Roberto. Seja pelas mãos de sua tia Rose, que regam diariamente todas as plantas, as emoções da mãe que amou e foi tão amada ou transformando os detalhes em poesia, como Marithê faz, cada um tem feito sua parte desde o dia 30 de junho.

E, retomando o que disse no enterro do pai, a fotógrafa completa que apesar de toda dor, é a felicidade ensinada por Beto que permanece. “Eu poderia falar todas as coisas possíveis e bonitas, mas acho que ele foi um cara que levava a vida tão leve que o que veio na minha mente foi o seguinte: meu pai é um cara que gostava de confraternizar, estava sempre com as pessoas que amava. Então, para quem ama meu pai e quer torná-lo vivo, a partir de hoje é um gole para o santo e outro gole para meu pai”.

Leveza e amor pelos detalhes completam a descrição de quem Roberto era. (Foto: Marithê do Céu)
Leveza e amor pelos detalhes completam a descrição de quem Roberto era. (Foto: Marithê do Céu)

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