Lésbica e mãe de 5 homens, Josão chegou aos 40 aliviada e sem culpa
Em Três Lagoas, abandonou "casamento falido" e se dedicou a ser feliz enquanto mulher lésbica que realmente é
Quase tudo nessa vida é um processo, e ser quem realmente é requer um ato de coragem. Demorou algumas décadas para cair a ficha de Josi Silva, mas uma hora foi. "Minha mãe questionou porque eu não havia conversado antes. Disse que me aceitaria de qualquer jeito". Assumida, a lésbica quarentona é a mãe de 5 homens orgulhosos pela sua decisão. Agora, vive um dos sentimentos mais felizes do mundo: o de estar aliviada.
"Eu me amo muito. Hoje posso dizer com toda segurança que sou feliz. Vivia um tumulto mental muito grande dentro de mim durantes todos esses anos. Agora, consegui transformar minha vida de forma completa", reflete.
O sair do armário dessa paulista que já mora há 7 anos em Três Lagoas aconteceu em 2015. Antes disso, casou-se muito cedo com o ex-marido, aos 18. "Foi meu único relacionamento masculino que tive até hoje". Viveram na região de São Paulo, pelos lados de São Bernardo do Campo, até chegar em MS por oportunidades de trabalho.
Nessa época, Josão avalia que também foi feliz, mas que não vivia isso de forma plena e, principalmente, livre. Por conta de desacertos e descobertas de infidelidades, o casamento faliu. Foi o trampolim que tanto precisava.
"Estava na hora de acabar com aquele relacionamento. Não voltaria jamais. Falei para ele que a partir de então eu só iria deitar com mulher, e que os únicos homens permitidos a entrar dentro de casa seriam os meus filhos", afirmou com firmeza.
Como da água pro vinho, a decisão de Josi também incluiu uma "nova" aparência: foi ao cabeleireiro, colocou alargador, piercing e tudo mais. Até cuecas comprou. "Inclusive são muitos mais confortáveis", brinca.
Quando menina, só jogava bola e bete com os garotos. Já mulher feita, sempre se identificou de forma mais masculina – nunca usou uma saia, passar batom nem se fala. Ao chegar em casa naquele dia, porém, deu um baita susto na família. Mas isso só foi a primeira vista. A aceitação veio do amor, que falou mais alto.
"Contei primeiro para minha irmã Joyce. Minha mãe não sabia mesmo. Mas antes de ser lésbica, sou filha dela e mãe dos meus filhos. Todos moram comigo, me respeitam e amam do jeito que eu sou, inclusive as companheiras que já tive no caminho. Meus meninos são meus melhores amigos", admite.
E sobre o preconceito das ruas? "Sou duplamente julgada, enquanto negra e lésbica. A gente bem sabe como a sociedade é, mas prefiro não me importar e desviar dos olhares de julgamento", considera.
Corintiana apaixonada, Josão também integra outro "clube" de importância: a ATGLT (Associação Três-lagoense de Gays Lésbicas e Travestis) promove debates, informação, aconselhamento e amparo de pessoas com gênero e sexualidade não-normativas.
"Sou conhecida aqui no município pela minha história. Quero mostrar que é possível ainda buscar ser feliz, ser livre, onde quer que esteja, independente de idade ou dos outros. Na associação, ajudamos para que cada vez mais pessoas consigam sair do armário, sempre de forma corajosa mas com toda a segurança necessária".
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