Levada pelo pai até a sala, noiva troca aliança na casa onde morava
Noiva, Adriana se arrumou junto com a mãe no quarto de solteira, na última casa onde morou antes de conhecer Lucas
De um jantar de comemoração, a noite do dia 19 de maio se tornou uma cerimônia cheia de história e significados. Depois de ver o casamento no civil adiado por conta da pandemia e a festa também, os planos da dentista Adriana Raphael Magalhães e do veterinário Lucas Corrêa Lau diminuíram no número de pessoas, mas alcançaram uma proporção de sentimentos infinita.
Juntos já há dois anos e meio, o casamento estava programado para acontecer em etapas. O civil seria em abril e a festa, em setembro. Quando deram entrada no cartório, a data disponível foi 4 de abril, dia do aniversário do pai de Adriana e também quando os pais da noiva se casaram. Emocionada, a dentista planejava uma recepção para os pais, irmãos e padrinhos no salão de festas do condomínio da família. Os pais do noivo, que são do Rio Grande do Sul, e parte dos padrinhos viajariam até Campo Grande para participar.
Chegando em março, o coronavírus que até então estava distante, virou ameaça concreta, e eles tiveram de adiar para maio, já que a família do noivo viria toda de fora e faria escala em São Paulo, onde os números da doença estavam elevadíssimos.
"Decidimos não fazer naquela data, apesar de termos criado apego, porque não iriamos colocar os pais dele em risco", recorda Adriana, de 30 anos.
Com o vestido de noiva já sendo costurado e parte da louça encomendada para a data, os noivos mantiveram a recepção, mas mudando de local e restringindo o jantar apenas aos pais.
"Meus sogros alugaram um carro, vieram e fizeram quarentena aqui. A gente tomou muito mais cuidado, parei de atender procedimentos, apesar de toda a paramentação, ficamos uns dias sem trabalhar e em observação", conta a noiva.
Passado os dias de quarentena e como ninguém manifestou nenhum sintoma, os noivos confirmaram o jantar para o dia 19 de maio, uma pequena comemoração em família depois do cartório.
"E foi super emocionante no cartório. Pensei que eu não fosse chorar", recorda a noiva. Isso porque, em meio à pandemia, o juiz de paz avisou que teria de ser breve, para não manter ninguém ali por muito tempo.
"Achei que seria uma coisa protocolar, mas foi me dando uma emoção a hora que ele perguntou se eu aceitava, meu olho encheu d'água, já que tudo isso estava acontecendo num momento histórico, de pandemia, a gente tudo de máscara, mas foi emocionante", lembra.
Depois de assinados os papéis, Adriana passou a se chamar Adriana Raphael Magalhães Lau. Já casados, cada um saiu do cartório em um carro, porque a noiva iria para o salão se arrumar para o jantar e o noivo ainda tinha que resolver pendências de trabalho. "A gente deixou passar batida a troca das alianças, esquecemos e quando fui entrar no carro que me lembrei: 'Lucas do céu, a gente não trocou a aliança'. Mas escolhemos deixar esse momento para fazer junto com os nossos pais, porque seria muito mais significativo".
A mãe da noiva, Dayse, foi quem fez o jantar e, com a filha, arrumou a decoração da mesa. De dentro do quarto de solteira, Adriana se arrumava para sair dali, encontrar o pai no corredor e ser levada por ele até a sala, entregue ao noivo.
Enquanto se arrumava, Adriana relembrava todo o cuidado que a família inteira tomou e os preparativos para aquele dia.
"Tirei foto com a minha mãe me arrumando, num momento só eu e ela. Tirei foto com meus cachorros, com o gato. Se eu soubesse que era tão bom casar em casa, talvez nem faria festa", diz.
Sem se preocupar com convidados ou se estava tudo certo, Adriana abriu a porta do quarto à procura do pai. "Ele foi me pegar e, no corredor, tiramos fotos. Ele chorou muito e fez questão de me levar e me entregou para o Lucas. Aquela coisa bem clássica de casamento. Minha mãe queria colocar marcha nupcial, mas eu fiz questão de não colocar".
O momento seguinte foi marcado pela troca de alianças, quando Adriana explicou que eles haviam esquecido de fazer isso no cartório, mas escolheram reservar o momento perante os olhos e as bençãos dos pais. "Abrimos espaço para eles, se alguém quisesse passar uma mensagem, falar alguma coisa, dar conselho, rezar e todos falaram coisas lindas da experiência deles e a gente fez uma oração".
A mãe da noiva preparou a casa com cadeiras afastadas para que cada núcleo familiar, agora formado, sentasse junto. Os noivos em uma mesa, os sogros em outras. "A única pessoa diferente ali foi a fotógrafa que ficou o tempo todo de máscara. O bolo eu já tinha encomendado, fizemos alguns doces e nos mantivemos com bastante cuidado. Na casa da minha mãe tinha espaço para ninguém ficar grudado um no outro", pontua a noiva.
Para servir, era preciso colocar a máscara e ainda usar álcool em gel nas mãos.
Com os irmãos e padrinhos de fora da cerimônia, o jeito foi chamada de vídeo. "Era para ser tudo muito simples, de um jeito que não seria o casamento em si, mas acabou que se reconfigurou por todo o contexto. A gente já não sabia se ia fazer festa este ano", explica.
As palavras seguintes se misturam à emoção de se ter casado com a casa da mãe de cenário, cercada das pessoas mais importantes em sua vida.
"Não tinha como ser pouca a emoção, dá até vontade de chorar. Foi um casamento com a certeza de que só tinha amor ali. Não tinha como ter nada além disso, são pessoas que amam muito a gente e que obviamente nós amamos muito, foi um casamento com tudo o que é nosso de essência. Por isso que eu falo, se eu tivesse a experiência de fazer uma festa só, de estar sofrendo e sonhando com a data, não sei se teria o mesmo significado. Lógico que eu sempre quis, quero e a festa vai acontecer, mas o significado de me casar em casa é diferente".
Tem uma história de casamento que pode inspirar? Mande para o Lado B pelo Facebook, Instagram, e-mail: ladob@news.com.br ou pelo Direto das Ruas, o WhatsApp do Campo Grande News: 99669-9563.
Confira a galeria de imagens: