“Lugar de gay é na igreja sim”, dizem fieis campo-grandenses
Após cantora gospel Ana Paula Valadão dizer que ser gay é pecado e que Aids é uma espécie de punição, alguns fiéis se manifestam
Há pouco mais de uma semana, a cantora gospel Ana Paula Valadão causou polêmica nas redes sociais ao afirmar durante um evento religioso que homossexualidade é pecado e que o vírus HIV, que transmite a Aids, seria uma forma de punição natural a esse pecado.
“Muita gente acha que isso é normal. Isso não é normal. Deus criou o homem e a mulher e é assim que nós cremos. Qualquer outra opção sexual é uma escolha do livre arbítrio do ser humano. E qualquer escolha leva a consequências”, opinou a cantora sop aplausos da plateia.
Ela complementou dizendo que “a Bíblia chama qualquer escolha contrária ao que Deus determinou, de pecado. E o pecado tem uma consequência que é a morte. Taí a Aids para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte e contamina as mulheres, enfim… Não é o ideal de Deus”.
A colocação da cantora mexe com um dos temas mais caros às religiões cristãs ocidentais: a aceitação ou não dos gays nas igrejas e como, afinal, a Bíblia enxerga a orientação sexual das pessoas. Essa é uma discussão ainda embrionária, mas que começa a surgir em muitas partes do mundo, inclusive aqui em Campo Grande.
Levantando a bandeira que sim, que as religiões deveriam aceitar e respeitar os gays, o zelador e líder religioso Everson Pires, de 35 anos, criou um projeto em Campo Grande chamado Porta de Amor, que busca acolher pessoas da comunidade LGBTQIA+ e rediscutir o evangelho sob a ótica dessa comunidade.
“Temos como finalidade acolher, amar, desconstruir esse evangelho opressor, ditador, que nos foi imposto todos esses anos. Jesus nos ama, Jesus nos aceita. Gay não é uma escolha. Ser gay não é uma opção. Ser gay é uma condição, eu nasci negro, eu nasci gay”, defende Everson.
Convertido aos 13 anos de idade, Everson, que hoje é noivo de outro homem, o contador Marcio Aquino, nasceu e cresceu em um lar religioso. Ele já foi casado uma mulher na juventude e diz que apesar de ter tido uma vida relativamente tranquila, se sentia incompleto.
“Aos 18 anos me casei. Eu vivia como se fosse dentro de uma bolha. Eu não sabia o que era ter sentimentos e nem sensações. Era como se fosse um robô comandado pelas pessoas que se diziam ser de Deus. O casamento seguia bem, eu cumpria com todos os ritos que um homem (marido) deveria fazer e ser. Porém, dentro de mim era como se eu não me reconhecesse”, lembra.
A autodescoberta e aceitação vieram depois de muitos anos de conflito, quanto Everson se envolveu com outro homem em uma boate gay de Campo Grande.
“Foi quando comecei a reler a bíblia sagrada e procurar por contexto bíblico em estudos. Então conheci pela internet as igrejas inclusivas. Tive a oportunidade de conhecer em São Paulo a igreja Cidade de Refúgio e no Rio de Janeiro a igreja Cristã Contemporânea. E ali o Senhor trouxe ao meu entendimento que ele já me conhecia. Ele me escolheu e Ele sabe quem eu sou desde o princípio.”
Sobre tratar a homossexualidade como pecado, Everson acha que é uma forma errada de interpretar a Bíblia.
"A igreja infelizmente prefere se calar do que ter que reconhecer que errou assim como erraram com meus irmãos negros em não deixá-los entrar dentro do templo. Lugar de gay é na igreja sim, Jesus disse aos discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Eu sou a igreja,o sacrifício de Jesus na cruz do calvário foi para remição dos nossos pecados.”
Por fim, o zelador diz que hoje sua relação com Deus é bem melhor. “Hoje eu sou livre, porque Jesus me libertou da opressão da religião e me resgatou com seu amor. O Projeto Porta de Amor é para evangelizar, abraçar e mostrar que Jesus Cristo nos ama com amor incondicional.”
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