Menino pediu para ser adotado por santa que hoje vive na fachada
Abandonado pelos pais, João mantém o quadro no lugar por amor à quem vê como mãe desde os 11 anos
O quadro da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é parte da casa de João Batista da Costa desde 1998. No Bairro Coronel Antonino, a imagem fica exposta na fachada onde todos possam ver. O morador, de 62 anos, colocou a imagem ali por devoção e garante ter ouvido de estranhos relatos milagrosos.
O vendedor de salgado, que teve sua história de luta contra o álcool contada no Lado B, relata que diversas pessoas já o abordaram e vieram prestar agradecimento. “Já aconteceu das pessoas pararem o carro, fazerem as orações e depois chegarem aqui para agradecer por terem recebido a graça. Já conseguiram arranjar emprego, ganhar processo na Justiça”, diz.
Por trabalhar na rua e ser morador na região desde 1995, João é conhecido na região por ter a figura da santa em casa. “Tem pessoas que chamam aqui de casa da santa, eu vendo salgado na rua e falam: ‘Ele mora lá na casa da Santa’. Uma das coisas de eu ter colocado o quadro aqui é porque na cidade onde eu morava era comum. Nas ruas, nas casas, ter imagem de Nossa Senhora, São Benedito e outros santos”, explica.
Aos 8 anos, João saiu de Campo Grande para viver em Pindamonhangaba (SP). A infância não foi nada fácil para quem foi abandonado pela mãe, separado dos seis irmãos, criado por estranhos e obrigado a trabalhar desde cedo.
João morou em diversas cidades, sendo uma delas São José do Rio Preto. No Bairro da Redentora, a casa dele ficava próximo à igreja de Nossa Senhora da Redentora. Aos 11 anos, João teve a primeira das experiências que o fez ver a santa de forma especial.
“Eu fui lá (na igreja) e tinha a imagem da Redentora e pedi para ela, falei: 'Nossa Senhora eu não tenho mais mãe e vim aqui pedir para a senhora ser minha mãe’. Só que ela já era e eu não sabia. Mas, a partir daquele momento, ela se tornou”, comenta.
É com a voz serena que João relata a própria história e explica o significado que o quadro carrega. Em certa ocasião, ele recorda que um homem parou na casa só para perguntar onde estava a imagem.
Na época, ele tinha retirado o quadro para não desgastar ainda mais a ilustração. Ao explicar isso para o homem, o mesmo retornou após alguns dias com uma tela de vidro. O quadro retornou ao seu posto com a proteção de onde nunca mais saiu.
Cuidadoso, João faz questão de limpar as teias de aranha em volta do quadro para ele não sair feio na foto. Ele entra na casa e retorna em seguida segurando uma vassoura. Aos poucos, João vai limpando a parede.
Dentro da casa, João tem outros elementos que denunciam sua fé, como a folha de palmeira do domingo de ramos e a representação do sagrado coração de Jesus. Ele destaca que o lar onde reside com a mulher Maria das Graças e o casal de filhos João Lucas e Maria Rita é abençoado.
“Tudo aqui é consagrado ao sagrado coração de Jesus. Essa sala aqui, por exemplo, veio o padre e fez a entronização do sagrado coração. A vida toda enquanto tiver essa casa tem que ficar aquela imagem ali, é o lugar de Jesus”, conclui.
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