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Comportamento

Músico de mercado faz vários serviços para não deixar de tocar

De garçom a entregador, "Cabernê" fez de tudo para conseguir o sustento e não deixar de tocar na pandemia

Bárbara Cavalcanti | 27/05/2021 07:43
"Cabernê" em frente ao mercado Santa RIta. Na região, ele aposta em um MPB para animar as pessoas. (Foto:Thailla Torres)
"Cabernê" em frente ao mercado Santa RIta. Na região, ele aposta em um MPB para animar as pessoas. (Foto:Thailla Torres)

Quem passa em frente ao Hortifrúti Santa Rita, no bairro São Francisco, pode se deparar com Rosimiro Ferreira de Souza Neto, de 30 anos, mais conhecido como “Cabernê”. Com sua caixa de som e pandeiro, ele canta e anima as pessoas que entram e saem do supermercado e passam pela rua. Mas quem curte o som, nem pensa que para conseguir continuar tocando, Cabernê já foi de garçom a entregador. “É difícil, mas é por amor”, declarou Cabernê ao Lado B.

A paixão pela música, especificamente o pagode, começou desde criança. “E aqui era mais sertanejão, né, e eu sempre gostei mais de pagode”, lembra. Quando criança, ganhou da mãe pandeiro, cavaco e tantan, a combinação perfeita para um pagodinho. Depois, vieram as aulas com o professor Luizinho, até que nos anos 2000, ele e a família se mudaram para o Rio de Janeio.

“Lá, eu tive aulas de cavaquinho e comecei a frequentar muitos grupos de pagode”, explica. E em 2018 foi quando estreou oficialmente como músico. “Foi quando começou minha correria solo”, brinca. “E eu não tinha nada, só o pandeiro e o tantan em Copacabana”, complementa.

No Rio, Cabernê diz que a luta para os músicos de rua é grande. “Tem gente fumando do lado, é muita distração. Então é difícil, mas aí é manter a concentração e saber porquê está ali: para divertir e emocionar”, explica.

Assim, ele foi “tomando cascudo”, como ele próprio diz, no sentido de que foi adquirindo experiência e aprimorando seu trabalho nas ruas. Mas a vida carioca veio ao fim, quando sua mãe faleceu e ele precisou voltar para Campo Grande. Porém, o sonho de tocar não foi adiado. Nem mesmo com a pandemia e com um desânimo que bateu por causa da quantidade de mortes por causa da Covid-19.

“No começo, lá em março do ano passado eu ainda tocava em frente ao Santa Rita, mas era como que remando contra a maré, porque não tinha clima. Duas mil mortes por dia e eu cantando pra quê? Não tinha como eu ir em um barzinho e chamar as pessoas pra vir me ouvir, não tinha clima pra isso”, detalha. Nesse tempo, ele passou a fazer entregas com a bicicleta pela cidade para ter o sustento.

“Mas depois eu voltei a cantar”, comenta. “Porque entretenimento é pra isso mesmo. Às vezes eu preciso ouvir as músicas que eu estou cantando. E às vezes eu nem estou legal, mas aí vem uma pessoa e me diz que eu fiz o dia dela quando ela me ouviu cantando”, detalha.

Em frente ao Santa Rita, Cabernê canta para as pessoas e também para si. "Às vezes eu preciso ouvir minhas músicas", declara. (Foto: Thailla Torres)
Em frente ao Santa Rita, Cabernê canta para as pessoas e também para si. "Às vezes eu preciso ouvir minhas músicas", declara. (Foto: Thailla Torres)

“Então, quando vou tocar, venho orando e aquecendo a voz. O violão que eu uso nunca vai estar desafinado, porque é em uma caixa de som, então eu dependo da minha voz. Assim eu vou, orando e aquecendo a voz”

Hoje, Cabernê toca em frente ao Santa Rita e também ao Mercado Alemão, no Centro de Campo Grande. Ele diz inclusive que adapta o repertório ao público. “Lá no Centro o pessoal gosta mais de um sertanejo. Aqui no São Francisco dá pra colocar um MPB também, então assim eu vou fazendo”, explica.

O nome Cabernê inclusive veio de um outro serviço que ele fez para conseguir se sustentar. “Eu era garçom na época. Uma dia no mercado, eu olhei ao redor e procurei um nome artístico. E aí vi o vinho Cabernnet. Um colega meu deu a ideia de dar uma “brasileirada” e então nasceu “Carbernê””, detalha.

E também declara que, entre serviços aleatórios e uma pandemia, seu sonho de músico continua firme e forte. “Agora tá difícil, mas o que eu gosto. Acho que pra quem faz uma coisa bem feita, tem espaço sim, e a pessoa tem que querer bastante. O que eu quero é estar bem estruturado. Eu sou músico, quero ser um bom músico”.

Para entrar em contato com Cabernê basta segui-lo no Instagram (clique aqui) @cantorcabernê.

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