Padre defende armas, contrariando discursos do bispo e até do Papa
Marcelo Tenório tem uma postura polêmica e publicou até foto reproduzindo o principal gesto dos apoiadores de Jair Bolsonaro
Depois de virar meme nacional, ao dizer que beber não é pecado e que bom mesmo para saúde é cuidar da própria vida, o padre Marcelo Tenório, da Paróquia São Sebastião, em Campo Grande, voltou a criar polêmica nas redes sociais. Ele resolveu usar a internet para fazer campanha política e defender o uso de armas.
Em um País tão dividido pelas brigas políticas, a atitude do sacerdote acende luz de alerta na Arquidiocese em Campo Grande. O discurso dele contraria, inclusive, orientação do Papa Francisco, que no início deste ano chegou a dizer que fabricantes de armas não podem ser considerados cristãos. "Nós realmente queremos a paz? Então, vamos banir as armas...Pessoas que fabricam armas ou investem na indústria armamentista estão sendo hipócritas se chamarem a si próprias de cristãs", postou o pontífice em seu perfil do Twitter.
Por aqui, no dia 17 de setembro, Marcelo Tenório publicou no Facebook uma fotografia ao lado de fieis, reproduzindo gesto de revólver em punho, símbolo da campanha de Jair Bolsonaro (PSL). A publicação foi excluída, depois da reação dos seguidores do padre. Mas na página ainda estão diversos conteúdos de defesa ao armamento.
Apesar de ser uma figura pública e como padre exercer a função de conselheiro da comunidade, ele diz que não entende a postura como algo de maior influência. “O meu apoio é pessoal, não tem nada com igreja. Tenho passaporte e sou brasileiro”, justificou ao Lado B.
Embora diga que não tem uma arma em casa, ele reforça que “usaria tranquilamente", porque "o uso de arma nunca foi proibido, é licito. As pessoas podem discordar, mas qualquer um pode usar. E isso não está na questão da fé. Agora imagina se a guarda suíça usasse flores ao invés de armas?".
Sobre os projetos de desarmamento, Marcelo ataca com força. “Sou a favor do porte de arma para o cidadão de bem. Essa história de desarmamento civil é manobra dos comunistas”.
O padre ainda afirma que não está sozinho nessa, inclusive, que tem o apoio da comunicade católica em geral. “Eu falo em meu nome e em nome da esmagadora quantidade de pessoas que votam nele (Bolsonaro). Na igreja, muita gente também o apoia”.
Sobre as críticas de movimentos de defesa das minorias em relação a declarações consideradas homofóbicas, racistas e machistas durante a campanha, o padre desvia. “O que acontece é que pegam uma frase fora do contexto e compartilham. “Se ele não prestar, a gente tira, já fizemos isso antes”, completa.
Alerta - O Lado B pediu a opinião do arcebispo da Arquidiocese de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa. Em viagem, ele diz que pretende conversar com o padre no próximo domingo quando voltar a Campo Grande. “Vou falar das repercussões e ouvir o que ele tem a dizer", explica.
Mas antes do encontro, ele adianta que o discurso contraria a doutrina cristã. “Eu já vi que vou precisar deixar mais claro a doutrina da igreja. Por exemplo, o Papa reafirmou a ilegitimidade da pena de morte, ou seja, são coisas que a gente tem que se debruçar mais. Temos esclarecer qual é o pensamento oficial da igreja”.
O arcebispo diz que os padres têm liberdade para atuar nas eleições, sem usar o nome da igreja, e diz que Arquidiocese não tem um candidato. Mas até sobre o uso das redes sociais ele alerta que é preciso cuidado. “Porque se eu saio a público defendendo um partido, vou encontrar paroquianos que são militantes de outros partidos. E, de repente, me torno partidário, e isso não é bom”.
Quando alguém pergunta em quem vai votar, Dom Dimas afirma que prefere não responder. Para ele, a posição do padre Marcelo tem sido uma exceção dentro da Igreja. “Eu não vejo que haja extremos nas posições, os padres são muito cautelosos ao falar de política. Um ou outro que se anima a apoiar determinado candidato”, comenta.
Ele também não tem dúvidas que defender a paz seria a melhor escolha para um País dividido. “Que o diálogo seja sempre a melhor solução”.
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