Passada de mãe para filha, sopa paraguaia tem gosto da saudade de Zilá
Há dois anos e sete meses que da casa no bairro Recanto dos Pássaros, em Campo Grande, não sai mais o cheiro da sopa paraguaia do forno de Zilá. A receita vem sendo passada de mãe para a filha há três gerações e hoje, o gosto do prato tem sabor de saudade para a família Nantes.
"Tem uns quatro anos mais ou menos que ela me ensinou. Tudo o que eu aprendi, foi receita dela", conta a filha, Eliane Nantes Vasques Cânepa, de 52 anos. Mais do que o modo de fazer da sopa, Zilá passou à filha um amor incondicional e uma simplicidade de quem pensava primeiro na família, antes de si mesma.
Pequenina, o mesmo carinho que passava aos familiares e amigos, reproduzia na cozinha. Zilá fazia mágica com os limões que a vida lhe deu ao longo do caminho, fazendo-os carregarem em si um pouco da doçura que ela tinha no peito.
Criou filhos e netos e volta e meia dava abrigo em casa, para quem precisasse de um espaço temporário para morar. Nunca reclamou e nem baixou a cabeça diante das dificuldades financeiras que surgiram, assim como nunca deixou de ser amável. Até mesmo quando na velhice, cuidou anos a fio do marido com Alzheimer.
Voltando à receita de família, aprendida com a mãe, "vó Teteza", como era chamada, de ingredientes, a sopa leva: milharina, queijo, cebola, manteiga e leite. Mesmo sendo criada comendo o prato, Eliane, a filha de Zilá, só aprendeu a fazê-lo quando dedicou um tempo maior à mãe. "Eu nunca tinha tempo de ficar perto dela, aí nestes quatro anos nós ficamos um tempo lá e aprendi a fazer pão caseiro, sopa paraguaia, os salgados dela: esfirra e coxinha. Mas o carro-chefe mesmo, era a sopa", descreve Eliane.
Aos domingos, ela e a mãe saíam pelo Recanto dos Pássaros, em carrinhos de feira, vendendo de casa em casa. A clientela já era fixa e fazia os pedidos por telefone. Hoje, quando o cheiro sai do forno, Eliane precisa segurar as lágrimas.
"Muita saudade, muita saudade da minha mãe. Ela era muito, muito boa. Não tem o que reclamar dela e do meu pai, foram muito bons", conta a filha. Zilá infartou em janeiro de 2014, um ano e sete meses depois de enterrar o marido, Luiz, deixando três filhos, oito netos e dezenas de bisnetos.
O segredo da receita está na discrição da cebola. "É que quase não aparece, tem umas que a gente come por aí que aparece a cebola", diferencia. O modo de fazer, Eliane sabe de cabeça:
"Coloco uma colher de manteiga, óleo e a cebola bem picadinha. Frito, frito e deixo bem desidratada. Depois coloco 1litro de leite, espero abrir fervura e vou mexendo com a milharina. É tipo um bolo", explica.
A massa é posta para enfriar numa bacia, depois recebe queijo ralado, seis ovos, uma colher de pó royal e mais leite. No total, são 2l da bebida. "Eu bato normal mesmo, na mão, depois que ponho na forma, jogo queijo por cima e uma gema para ficar essa corzinha", completa.
O tempo no forno vai variar, mas em média são 40 minutos. "A hora que começa a assar, já dá um cheirinho. Tem uns que falam que sai igual a dela, outros não, que sai parecido. Da minha mãe? Só tenho coisas boas a falar dela, ensinou a respeitar, viveu mais de 60 anos com meu pai", resume a filha.
Era de praxe que Zilá fosse almoçar aos domingos na casa da filha, na região do Noroeste, depois da missa. A última vez que ela veio, foi um final de semana antes de partir.