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Comportamento

Sou mulher mecânica e a sociedade que aceite: sou dona do castelo e mato dragão

Paula Maciulevicius | 23/05/2017 07:25
Em primeira pessoa, Deny narra a vivência na faculdade e a convivência com os colegas de trabalho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em primeira pessoa, Deny narra a vivência na faculdade e a convivência com os colegas de trabalho. (Foto: Arquivo Pessoal)

No 5º semestre de Engenharia Mecânica, Deny Loubet desabafa como é viver o machismo diariamente. Mecânica com curso de motores a diesel, ela foi a única mulher presente nas aulas. A vontade de trabalhar nesta área já vem de muito tempo. Desde menina ver o pai mexendo em motor de carro despertava curiosidade. A primeira barreira foi em casa mesmo. A criação dela dizia muito bem que aquilo "era coisa de menino". Em primeira pessoa ela narra a vivência na faculdade e a convivência com os colegas de trabalho. Machistas não passarão. 

"Quero ser mecânica!

Entre apoios, desencorajamentos, risos e a mesma pergunta de sempre: “E os homens como te tratam?”, nunca precisei mudar a minha resposta: “Eles me veem como uma colega de trabalho!”, ou assim eu imaginava até surgirem os primeiros e terríveis comentários, percebi então, que estava deixando de ser somente a colega de trabalho.

Doeu-me ver que arrancavam de mim a oportunidade de me aperfeiçoar quando eu me propunha a aprender e era obrigada a ouvir as cantadas, as investidas e as indiretas, me incomodaram os olhares, os risinhos, as maledicências e, sobretudo a malícia, doeu ver a conivência de quem trabalha comigo e me incomodou ver a chefia ao invés de combater as piadinhas, fazer parte de tudo.

Eu não deveria ter de pedir respeito por que esse é um direito meu, não deveria me sentir acuada por causa dos olhares, mas a cultura predominante ainda é regradora, massacrante e machista.

Nesse mundo onde as mulheres podem se tornar o que quiserem esqueceram de avisar aos homens que elas concorreriam com igualdade, que eles teriam de parar de vê-las somente com seus batons coloridos e seus cabelos soltos e passar a perceber a boa profissional que são, esqueceram de avisar que elas aguentariam três turnos, que pagariam suas contas e que já não seriam obrigadas a nada, esqueceram de avisar que elas podem pintar seus cabelos, passar perfume e apertar parafusos, que sairiam para dividir o mesmo local de trabalho, a mesma mesa de cerveja, e que não estariam mais dispostas a serem vistas como objetos.

A sociedade vibra e empodera a mulher brasileira, mas não se lembra do respeito necessário e é por isso que tantas vezes ainda ouvimos queixas daquelas que saem dispostas a serem melhores a cada dia reclamarem do assédio, seja na rua, no local de trabalho, dentro do ônibus, ou no barzinho num simples Happy Hour.

Prepararam-nos durante anos para sermos melhores que a geração passada, nos ensinaram a lutar por nossos direitos, mas não prepararam o mundo para isso, quando uma mulher é assediada direta ou indiretamente, todas as outras também são.

Esqueceram de contar os contos de Fadas das princesas que são donas do castelo, e matam dragões, esqueceram de falar que elas mudariam a história, que seriam as donas dos seus destinos e já não estariam dispostas a tolerar uma cultura medíocre que as fez pensar durante muito tempo serem somente a parte frágil da sociedade.

Cobraram as boas notas das alunas, o bom desempenho da mocinha, a luta para se tornar uma boa profissional e esqueceram de ensinar aos seus meninos, moços e homens que o lugar de mulher é onde ela quiser e que elas devem ser respeitadas independente da posição ou profissão.

Nesses novos tempos, nós já aprendemos a conquistar o nosso espaço, agora precisamos ensinar a sociedade a respeitar isso."

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