Tetraplégica da noite para o dia, Monic viveu o caos, mas agora volta a andar
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A sensação começou nos pés e subiu até o peito. Em 2013, o formigamento que Monic sentia fez com que ela caísse ao chão quando se levantou para ir da cama até o banheiro. Era feriado, dia 1º de maio, e só o começo da história.
"Começou no pé, de repente subiu até o peito e não saía de jeito nenhum. Estava formigando para andar, até que um dia levantei, caí e já me colocaram na cadeira de rodas. Eu não podia mais ficar caindo. Só descobri que estava doente, quando parei de andar", lembra.
É por telefone que o Lado B conversa com ela. Moradora de Dourados, jornalista, assistente administrativo na Unigran, Monic Abdalla Moitinho tem 28 anos e há dois vê a vida se mexendo devagar. Um passo e depois o outro. Em São Paulo, ela espera os últimos exames para confirmar se o transplante de medula realizado no fim do ano passado foi como ela e os médicos esperavam.
O primeiro diagnóstico passado à ela e à família era de uma síndrome que apresentava sintomas parecidos. Foram mais de 60 dias assim até que uma segunda opinião médica revelou: um tumor estava comprimindo a medula de Monic. As vértebras estavam "moídas" por conta do tumor. A vida normal que ela tinha até então, foi interrompida. A jovem saiu da sala do médico para uma internação de urgência. "O médico disse que não sabia como eu estava viva ainda", completa.
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A cirurgia foi realizada em Dourados, cidade onde ela vive com a família. Na mesa de operação foi feita uma descompressão muscular, a retirada do tumor e a artodrese, colocação de placas e pinos na coluna. "A medula é uma incógnita. O perigo de ter a atingido... Ninguém sabia com o que estava lidando", recorda Monic.
Os médicos levantaram a hipótese de não andar mais e indicaram, ainda no meio da cirurgia, que os pais procurassem por psicólogos.
"Saí tetraplégica. Os braços se enfraqueceram, não conseguia mexer e nem sentir as mãos", lembra. Era a mãe que dava comida na boca dela e a família que a levava da cama até o banheiro e ajudava no banho. Só com colar cervical, Monic ficou por três meses.
"Eu sentava uma vez por dia, não me mexia, era uma posição só o dia todo". O aparato tanto logístico quanto emocional dos pais, irmãos, cunhados, avós e amigos, fez com que Monic não se sentisse sozinha em nenhum momento. Ao mesmo tempo, ela fala que não dá para negar o desespero que foi perder tudo. "Toda a minha liberdade, foi tudo embora. Eu não fazia mais nada sozinha".
A irmã, fisioterapeuta, quem iniciou os trabalhos em casa mesmo. Meses depois da cirurgia, Monic mexeu pela primeira vez o dedão do pé. Foi motivo de comemoração e festa da família. "Foi fazendo muita força até mexer. Naquele dia a minha irmã me falou: pode ficar tranquila, você vai andar".
De maio até novembro daquele ano, Monic fala que foi carregada por algo maior a ponto de se lembrar de tudo, mas como se não fosse ela a protagonista daquele episódio.
"Parece que não fui eu. Eu sinto como se tivesse sido carregada por Deus. Não lembro como era não mexer nada, não andar. Eu fiquei muito agoniada, mas tinha a certeza que ia voltar a andar. Nunca me vi o resto da vida numa cadeira de rodas".
Antes que o ano terminasse, ela conseguiu ficar em pé sozinha e também caminhar com o andador. Contrariando a opinião dos médicos, ela estava determinada em dar os próprios passos. Foram três protocolos de quimioterapia, ou seja, três tentativas com drogas diferentes para combater o tumor.
Ao todo, enfrentou mais de 30 sessões entre quimio e radioterapia até chegar ao ano de 2015: no autotransplante de medula que consolidaria o tratamento. "Era a garantia de que ele não voltaria mais", descreve Monic. O autotransplante é a doação dela para si mesma e foi realizado em São Paulo, em novembro do ano passado.
"É como se você tivesse doando sangue, é feito no quarto mesmo", explica. A grosso modo, Monic resume que primeiro é feito um tratamento para estimular as células do osso que passam para o sangue, para então ser coletada a medula "boa" e armazenada. "Eles fazem como se fosse uma transfusão de sangue. Alguns dias depois vão refundir essa célula e colocam novamente a boa que eu tinha". A medula "pegou", em outras palavras: vitória para Monic.
E quanto aos passos? Na saída de Dourados para São Paulo, as muletas acabaram ficando em casa. "Tive que me virar", brinca Monic. A jovem caminha com liberdade, mas relata ainda ter alguns desequilíbrios.
"Voltar a andar foi maravilhoso. Me faz esquecer o que é o câncer diante de andar. É tão bom fazer as coisas sozinha. O tratamento para mim, foi um detalhe no meu do caminho". Desde setembro, Monic e parte da família transferiu a vida de Dourados para São Paulo.
Agora faltam dois exames para garantir o sucesso do transplante. A volta para o Estado está prevista para mês que vem. No Facebook e no Instagram, Monic escrevia passo a passo do tratamento. Do que viveu e sobreviveu nos últimos dois anos.
Os próximos planos consistem em se superar, cada vez mais. "É superar. Tenho muita coisa para fazer ainda. É recomeçar. A oportunidade que Deus te dá, tem que aproveitar".
Essa é uma sugestão de pauta do colega de redação, Filipe Prado.