Tragédia que deixou Reginaldo sem andar, fortalece amor de 33 anos
Reginaldo levou quatro tiros após reagir a um assalto e sua esposa deixou o emprego para cuidá-lo
Após reagir a um assalto e levar quatro tiros, o ex-pedreiro Reginaldo Gonçalves da Silva, 55 anos, perdeu o equilíbrio das pernas e hoje não consegue andar. Mas a tragédia fortaleceu a relação com Rosa Leia, 52 anos. Ela é doméstica e prova que o amor por ali vale na saúde e na doença. O casal está junto há 33 anos, mora no bairro Guanandi de Campo Grande e sobrevive também com valor de auxílio-doença.
“Ela é minha guerreira, temos um filho de 31 anos. Fica comigo aqui e ajuda muito, por isso faço o que for por ela. Deixo de comprar coisas que gostaria para que a madame tenha o que deseja. Recebo apenas o benefício que é salário mínimo, não dá pra muita, mas serve”, relata Reginaldo.
A tragédia que mudou a vida do ex-pedreiro aconteceu em 2016, quando ele seguia para pagar as contas. “Naquele dia, sai do meu trabalho e voltei pra casa. Mas precisava pagar as contas, então sai de novo. Fui andando até o local, que estava a quatro quadras. No caminho, dois caras estavam em uma moto chegaram por trás e anunciaram o assalto, pensei que fosse brincadeira e ao me virar já levei dois tiros”, disse. “Foi horrível, dei uns passos pra frente, mas perdi o movimento das pernas e cai”, recorda.
Os disparos acertaram a coluna de Reginaldo que caiu de bruços no chão e levou mais dois tiros no ombro e nas costas. “Estava caído e mesmo assim eles atiraram mais. Depois fugiram, mas não me levaram um centavo”, lembra o ex-pedreiro chorando ao se recordar do ocorrido. No dia, Rosa Leia estava no trabalho e quando recebeu a notícia que o marido havia sido baleado, entrou em desespero.
“Fiquei desesperada, meu filho pediu pra eu manter a calma. Corri para a Santa Casa, queria saber como ele estava, fiquei pensando que fosse morrer e chorei. Depois o médico me chamou e falou que o Reginaldo estava fora de risco, que faria a cirurgia para ficarei tudo bem”, conta Rosa.
Reginaldo ficou quase dois meses internado e ao receber a notícia de que não poderia mais andar, teve que se conformar. “Tive que aceitar a minha condição quando o médico me disse isso. No momento que levei os dois primeiros tiros foi na coluna, perdi os movimentos e imaginei”, conta o pintor com lágrimas nos olhos. Apesar de ter perdido o equilíbrio das pernas, ele ainda tem uma muleta que usa para se apoiar quando precisa ficar em pé.
Depois que retornou para a casa, o pintor passa os dias em uma rede pendurada em um canto do quintal onde mora. É ali agora o passatempo, brincando com seu cachorro “neguinho”. “É ele que me acalma. Não tenho condições de fazer nada, não posso mais trabalhar fui obrigado a pedir o benefício do auxílio-doença, porque não tinha tempo de trabalho suficiente para entrar pelo INSS”, afirma.
A casa onde mora com a esposa é simples e pequena, feita de tijolos, mas sem reboco. O banheiro fica para o lado e fora, e o quintal tem várias árvores que foram plantadas pelo padrasto de Reginaldo. Enquanto passa o dia na rede, Rosa cuida da casa. Para não deixar o esposo solitário, no período da tarde prepara um café e senta-se com ele. A mulher olha para o ex-pedreiro com carinho e sorridente, e o amor é recíproco. “Não largo dela jamais. O nosso segredo é confiança e respeito. Vamos longe juntos”, se declara Reginaldo.
A esposa comenta da rotina em casa. “Tenho que ficar em casa. Trabalhei dez anos como doméstica, queria voltar a trabalhar por conta do dinheiro, mas não dá pra sair e deixá-lo aqui, sem condições. Ele não vai nem ao banheiro sozinho”, diz
Rosa faz questão de realizar almoço de domingo e reunir a família, para não deixar o esposo se sentir sozinho. “Nosso filho vai se formar em assistência social, é nosso orgulho. Então chamamos ele pra passar um dia com a gente e ver o pai”, explica.
À primeira vista - Reginaldo e Rosa Leia se conheceram na juventude, na época ela tinha 18 anos e ele 22, mas o amor foi à primeira vista. “Gosto muito dele, é meu amigo, parceiro, acostumamos viver juntos. Nos conhecemos em 1984, sempre moramos aqui no Guanandi. Naquele tempo, esperava dar 16h, que era o horário que eu retornava do serviço de ônibus, para me acompanhar até o portão de casa. Quando o vi me apaixonei”, lembra Rosa.
Ela conta que foi Reginaldo quem deu o primeiro passo. “Ele que teve iniciativa, depois passamos a namorar. Encontrávamos nos finais de semana, às vezes vinha na casa dele, ficamos namorando no quintal. No começo brigava bastante, não queria me levar para o futebol e tinha ciúmes porque usava shorts curtos, mas fomos entendemos. Hoje minha vida é ele”, afirma.