“Tudo bem ser LGBT, desde que você seja hétero”, diz Rita von Hunty
Drag queen ministrou palestra em evento do MPT-MS e Subsecretaria de Políticas Públicas LGBTQIA+
“Tudo bem ser LGBT, desde que você seja hétero e não fale sobre sua sexualidade aqui”, exemplifica a drag queen Rita von Hunty sobre como pessoas LGBTQIA+ costumam ser incorporadas no mercado de trabalho. Em Campo Grande nesta sexta-feira (21), a artista, professora e youtuber palestrou sobre “Diversidade e Trabalho” em evento realizado pelo MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul) e Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT+.
Unindo falas teóricas com bom humor, Rita conta que um de seus principais propósitos é munir as pessoas para que sejam capazes de tomar dimensão das discussões que cercam a comunidade LGBTQIA+. Durante o evento, a drag queen discutiu sobre microagressões cotidianas que são vividas pela comunidade LGBTQIA+ e como isso é estendido ao mercado de trabalho.
“Pesquisas feitas por organizações da sociedade civil e setores intelectuais vão falar que pessoas que responderam questionários sobre o quão confortáveis podem estar no ambiente de trabalho, cerca de 50% das pessoas LGBT, falam que é impossível que pudessem se assumir na empresa”, diz Rita.
Considerando a liderança do Brasil em rankings de assassinatos de pessoas LGBTQIA+, a professora pontua que essa comunidade é forçada a deixar para trás muito de si para conseguir integrar a sociedade. “É como se eu falasse para você, de forma jocosa, tudo bem você ser preto desde que você seja branco. Abra mão da sua música, do seu esporte, da sua religião. Tudo bem você ser mulher, desde que você seja homem”.
Ainda sobre a inserção no mercado de trabalho, Rita explica que as pessoas não são permitidas de existirem enquanto sujeitos, apenas como mão de obra a ser usada. A partir dessas percepções, a youtuber conta que seu trabalho é focado em mostrar que é necessário educar para, antes de tudo, se dar conta de que o mundo é repleto de agressões.
Tomando o conceito de “microagressões”, ou seja, situações com injúrias clichês que podem ser tanto verbais ou comportamentais, que geram desrespeito e depreciação, ela comenta que sua estratégia é pensar sobre o que é perceptível ou não.
“Minha estratégia é pensar de qual forma a gente consegue olhar para a história do mundo e perceber que a humanidade é conceito que nunca foi estendido para todos os corpos. As mulheres não eram seres humanos, mas eram vistas como o sexto que deu errado, por exemplo”, detalha a drag queen.
Hoje, olhando para a comunidade LGBTQIA+, Rita vê que a sociedade entende essas pessoas como corpos a serem explorados. A partir de suas considerações, ela completa que o objetivo é que a exploração seja superada, não que a comunidade seja incluída como parte desse processo do capital.
Denunciando agressões
Procuradora-chefe do MPT-MS, Simone Beatriz Assis de Rezende explica que diversas ações podem ser tomadas contra agressões praticadas no mercado de trabalho, mas para isso é necessário que haja denúncia. “Nós não conseguimos fazer uma busca ativa, então precisamos que as pessoas denunciem. Em nosso site, temos um espaço dedicado às denúncias que podem ser feitas de forma totalmente sigilosa”, diz.
Através do site www.prt24.mpt.mp.br qualquer pessoa pode realizar as denúncias, sendo indicado pela procuradora que um contato seja vinculado. De acordo com Simone, apenas o MPT terá acesso, mantendo o sigilo.
Subsecretário de Estado de Políticas Públicas LGBTQIA+, Leonardo Bastos destaca que as denúncias são o caminho para que os direitos sejam cada vez mais respeitados. Além disso, ele comenta que a subsecretaria irá lançar um selo social LGBTQIA+ como forma de premiar empresas e organizações com projetos de empregabilidade.
De acordo com Leonardo, esse será mais uma forma de garantir o acesso da comunidade ao mercado de trabalho de forma adequada.
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