Celular virou produto descartável, mas há quem preserve suas “relíquias”
Há 5 anos Helena Gonçalves tem o mesmo celular, uma exceção diante das tentações de aparelhos lançados dia e noite pelas empresas de tecnologia.
O modelo Nokia, branco, de tão antigo, já está todo descascado. “Mas liga e recebe, isso é o que interessa. Esse negócio de beleza para mim é indiferente”, comenta Helena.
Vendedora de roupas, o equipamento é indispensável para o contato com as clientes e nunca deixou a dona na mão, desde que ela encontrou o celular na rua. “Achei jogado, novinho, quando caminhava no Santo Amaro. Ninguém ligou em busca, então acabei ficando com ele”, lembra.
Do outro lado da moeda, o estudante David da Silva conta que troca de celular todos os anos. Como sabe que modelos novos serão lançados, ele diz reservar entre R$ 500 e R$ 600 por ano para comprar um aparelho novo.
“A tecnologia é assim, supera a outra muito rápido, e não dá pra gente ficar com coisa velha”, justifica o rapaz que inaugurou o novo celular há 3 meses.
O professor aposentado Auro Camargo reclama do consumo exagerado e da forma como a “juventude” vai produzindo lixo eletrônico. “Onde tudo isso vai parar? Em um desses lixões da vida, poluindo o meio ambiente. O pior é que não é só a carcaça do parelho, tem a bateria.”
Mesmo assim, ele admite não ficar com um celular por mais de 2 anos. “Outro problema é que a fábrica já faz tudo para estragar logo. No último aparelho que eu tinha, as teclas não funcionavam mais”.
Para o militar aposentado Miguel Honorato, de 65 anos, as operadoras têm uma parcela de culpa. “É só completar um ano e elas começam a mandar mensagem para trocar de aparelho. E olha que eu só pago 35 reais por mês”, argumenta mostrando o aparelho mais recente, com ele há 6 meses.
Grávida de 8 meses, Rosimeire Galão acha é bom a facilidade de trocar de aparelho em Campo Grande. “Aqui mais do que qualquer lugar porque lá no Camelódromo pago 100 reais e levo o aparelho novo”.
O mototaxista Moisés das Neves acha que esse “troca, troca de celular é coisa de adolescente”. Com um modelo básico nas mãos, diz que não usa nenhum aplicativo disponível. “Não tenho paciência. Só uso para ligações. Não é para isso que serve?”, brinca.
Os aplicativos são a dor de cabeça da mãe moderna, avalia Isabela Roman. A filha de 15 anos já trocou 5 vezes de aparelho ao longo da vida, um luxo, confessa. “Não tem jeito. Quando era pequena, era necessidade para localizar em qualquer caso. Mas agora, é só as colegas aparecerem com um novo e o tormento começa”.
Sobre a relíquia que a vendedora Helena tem há 5 anos, hoje o filho também usa o aparelho, e lembra que é uma herança com muitas vantagens. “É bom porque ninguém rouba e quando acha devolve”, brinca.