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Diversão

Bares e músicos acusam Justiça e prefeitura de deixar a cidade sem graça

Anny Malagolini | 12/08/2013 09:55
Sem música ao vivo, o jeito foi improvisar com "Telão" (Foto: Cleber Gelio)
Sem música ao vivo, o jeito foi improvisar com "Telão" (Foto: Cleber Gelio)

A simpatia dos bares com músicas ao vivo, na maioria das vezes na base da voz e violão, é cada vez mais rara em Campo Grande. A cidade é quente, não tem praia ou outro tipo de atração certa e ultimamente tem perdido a graça na noite por conta de ações do MInistério Público, determinações judiciais e fiscalização da prefeitura. Quem é contra, considera a música "barulho", quem defende acha que estão "sufocando" a cultura, impondo uma burocracia desnecessária.

Três bares no bairro Tiradentes, por exemplo, tiveram que acabar com a música “voz o violão” que animava os happy-hours por determinação da Justiça. Além de menos opções de lazer para o campo-grandense e menos trabalhos aos músicos, a proibição das apresentações afeta também os comerciantes não conseguem concorrer com os grandes e adaptar os espaços para continuar com o ao vivo. O pedido é por flexibilização.

No bar “Nova Lisboa”, na rua Marquês de Lavradio, em menos de 3 meses com música ao vivo, foi preciso reforçar o atendimento, com mais garçons, além de ampliar o espaço. Mas por conta da reclamação de vizinhos, o som teve que ser desligado e o entretimento do local voltou a ser o telão.

O proprietário do bar, Emanuel Junior da Silva, de 45 anos, conta a cobrança dos clientes é frequente, mas nem assim ele pensa em voltar com a música, "Era uma opção a mais para o freguês, sem cobrar nada. Fui notificado e acabei com tudo. São muitas exigências que não tenho como custear", justifica.

Frequentadoras do local, as amigas Vera Bento, 37 anos, e a advogada Karen Bernadoni, 45 anos, dizem que escolheram o bar que fica distante da "modinha", justamente pela tranquilidade, mesmo com música ao vivo. "No fim de semana, o fator principal é um ambiente que tenha música, e agora, onde ir?", questiona Vera. 

A advogada não entende a reclamação do som, mas concorda com o respeito que deve haver por ser um bairro residencial. “É preciso respeitar, mas não vejo necessidade de acabar, as pessoas reclamam de tudo”.

“Bar com música tem outra energia”. A avaliação é de quem quer ir para o badalo e se depara com bares fechando após a meia-noite. “Campo Grande não tem noite”, reclama o cabeleireiro, Guilherme Araujo, de 25 anos, que diz estar cansado de sair tarde do trabalho a procura de algum lugar para relaxar na companhia dos amigos e não encontrar nada interessante, "não se tem nada para fazer, e até os locais que fecham cedo já não tem muitos atrativos, sem música onde que fica a graça de sair?". 

Para bateirista, o que falta é respeito ao trabalho profissional dos músicos em Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)
Para bateirista, o que falta é respeito ao trabalho profissional dos músicos em Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)

Próximo ao bar, o Rota 16, espaço conhecido como o reduto do blues em Campo Grande, também teve que ser fechado, por conta de adequações que deviam ser feitas no espaço, mas como o custo é alto, o jeito foi fechar as portas.

Em outro bairro da Capital, a Vila Carvalho, o bar da "Madah", conhecido pela feijoada e o samba de todo sábado, conseguiu na Justiça uma liminar para que o espaço tivesse permissão de continuar as apresentações no fim de semana, após a reclamação de um vizinho.

A lei do silêncio implica que casas noturnas e bares devem restringir seus ruídos a no máximo de 60 decibéis e caso esse número seja excedido, são expedidas notificações, multas e até cassação de alvara. Para que isso não ocorra,é preciso então readaptar o local com isolamento acústico, como casas noturas. As regras servem, principalmente, para que bares não fiquem com o som alto perturbando moradores da região.

Os donos de bares e artistas garantem que não pretendem criar transtornos, sem "fazer som" de madrugada, mas querem  um debate para garantir o ao vivo também na periferia e em  bares menores.

Para o músico Raimundo Galvão, de 45 anos, não consta na lei a diferenciação entre um barulho de uma britadeira para o som de um piano, por exemplo, e por isso ela se torna injusta. “Cultura não é barulho. A lei deve ser executada, mas com discernimento".

Além da restrição, a reclamação de Galvão é pelas formas com que a cidade vem ganhando com a burocracia. "Estão mudando a visão arquitetônica da cidade, ela está triste com ambientes fechados, climatizados, perdeu a simplicidade”.

Na semana passada, Galvão publicou um artigo “Em defesa do som ao vivo nos bares de Campo Grande”. A reclamação é que “um tribunal de inquisição moderno e ao mesmo tempo retrógrado está instalado em Campo Grande pra impedir que bares disponibilizem música ao vivo aos seus clientes: o Ministério Público Ambiental e seu braço armado, a Semadur”.

Na avaliação do músico, “uma única denúncia formal de um vizinho incomodado com um som vai gerar um inferno astral no dono do bar, e consequentemente o fechamento do seu estabelecimento se ele não tiver condições de investir em média uns 70 mil reais com tratamentos acústicos, engenheiros ambientais, projetos pra poder assim adquirir sua licença ambiental".

Ele prevê que em pouco tempo os bares na varanda, com shows mais próximo das serenatas, desaparecerão por completo da cidade e fala em segregação econômica. “Só grandes empresários poderão disponibilizar música ao vivo em seus botecos. Por exemplo, conversando com o dono do Tábua Bar e ele me falou que gastou 130 mil reais pra fazer as adequações exigidas pela Semadur pra continuar tendo música ao vivo no seu bar”, escreveu.

Há 12 anos na noite, o bateirista Deivy Dener, de 31 anos, vê a dificuldade em se produzir diversão em Campo Grande como como falta de respeito com a profissão. "O músico é visto como baderneiro, nós também temos família em casa, não queremos incomodar, somos profissionais, é o nosso trabalho, parece que querem colocar empecilhos"

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