Com o famoso “tazo”, jogo mostra a força da literatura indígena
Livro de escritora indígena de MS ganhou versão dinâmica para ensinar e divertir a garotada
Jogando tazo ou brincando de mímica, Talin é o tabuleiro da literatura indígena no qual os jogadores podem se divertir e aprender sobre cultura. O jogo pedagógico leva 20 nomes de livros de escritores indígenas de vários estados, inclusive da sul-mato-grossense Gleycielli Nonato.
“O tabuleiro é um tanto para incentivar a leitura quanto o conhecimento da cultura indígena”, explica a escritora.
Aos 34 anos, ela mora em Coxim, 259 quilômetros de Campo Grande, e é a única escritora indígena do Estado a ter um livro publicado. “Sou originária guató, meu povo era nômade, mas fomos expulsos da nossa própria terra para o pantanal ser latifundiário pelos fazendeiros”.
Para falar sobre o jogo, a escritora volta no tempo e relata parte da história sofrida pelo povo guató, que a fez entrar na busca incessante por visibilidade e até lançar livros para mostrar que indígena também merece respeito.
“Nosso povo chegou a ser considerado extinto na década de 60 pela Funai [Fundação Nacional do Índio], mas em 1974 uma missionária católica viu que tinha mais guató e chamou para se reorganizarem. No entanto, só em 2012 isso ocorreu, em um local entre o rio Paraguai e São Lourenço, a quase 160 quilômetros do porto de Corumbá”.
Também na tentativa de incentivar outros indígenas escritores a lançarem obras, ela publicou o livro “Vila Pequena, causas, contos e lorotas” que hoje faz parte do jogo de tabuleiro. “É uma obra folclórica sobre a região do pantanal, tem lendas antigas, conta a história do pé de garrafa”.
Até mesmo uma lenda de Coxim foi parar nas páginas do livro. “É sobre um padre enterrado de cabeça pra baixo na época da ditadura. A história diz que ele amaldiçoou a cidade, que só teria politico bom quando o desenterrasse e o enterrasse novamente como cristão”.
São mais de 100 páginas de histórias e foi por meio dessa obra que o Comin (Conselho de Missão entre Povos Indígenas) de São Paulo e do Rio Grande do sul entraram em contato com a escritora pedindo para participar do jogo. Foi cerca de dois anos em desenvolvimento até ser lançado no dia 26 deste mês.
Jogo – O Talin tem um manual de instrução, tabuleiro que tem traços da pintura indígena e foto dos escritores, além dos tazos dos livros selecionados.
A jogada começa quando o tabuleiro é posto na mesa e os tazos empilhados na lateral.
O primeiro jogador pega um tazo e começa a fazer mímica correspondente ao nome do livro escrito que está na peça. Após a adivinhação, coloca a peça encima da foto do autor da obra.
Dessa forma a brincadeira vai longe e durante a diversão, o jogo vai despertando a curiosidade do jogador em buscar mais informações sobre o assunto e conhecer melhor toda a história por trás do Talin. “Jogo de mímica e memória”, diz a escritora.
O jogo está disponível pelo site do Comin e pode ser visto em no formato digital através desse link.
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