Gastando bem menos do que imaginava, enfermeira passa 29 dias na Índia
Lição maior, na opinião dela, é que desigualdade social não anula o amor e a fé dos indianos
Para a enfermeira Priscila Vidal toda viagem tem um sentido. Nas férias deste ano, ela decidiu conhecer um destino desafiantes da Índia. Há 29 dias mergulhou em uma cultura totalmente diferente junto a dois amigos, e na segunda-feira volta pra Campo Grande. "A viagem nunca termina porque pra cada lugar que vou trago muito comigo", diz ela.
Experiente, ela aprendeu a economizar durante o ano para conhecer o mundo. O valor dessa vez, segundo Priscila, foi uma boa surpresa. No total, ela gastou cerca de R$ 7.3 mil. "Paguei R$ 3.500 ida e volta e trouxe U$$ 1.200, deu tranquilo", finaliza.
Pri é viciada em mudanças. Para ela, "sair zona de conforto transforma a gente, cada um da sua forma". Mesmo com muitos perrengues durante a aventura, "tem sido maravilhoso", comenta.
Das dificuldades, a comida, sem dúvida, foi a maior delas. "Cada prato aqui varia de 15 a 20 temperos diferentes e pimentas, muita pimenta. Mesmo que você peça sem, isso não existe. Eu quase chorei de emoção quando encontrei uma churrascaria brasileira", brinca ela.
O idioma também foi um desafio, já que na Índia existem mais de 20 dialetos. "Aqui tem o hindi e o inglês como língua oficial mas a maioria das pessoas não falam inglês. Isso sem contar que nosso nível nessa língua é bem básico, então ficamos craques em mímica", diz.
Mas o carinho com que foi recebida superou qualquer dificuldade. Priscila se encantou com a fé dos indianos, "é algo inigualável". Ela explica: "eles falam muito em amor ao próximo e a família. Abençoam o dinheiro quando recebem. É seguro demais vir pra cá, não é nada do que as pessoas falam".
Eles passaram por 13 cidades até agora. Em cada translado, uma surpresa, já que não é comum rodoviárias no país. "Nesse ponto não tem nada a ver com o Brasil. A gente até encontrou um site chamado Red Bus mas, na prática, tem trocentas linhas a mais. Rodoviária só vimos uma, então era auma luta descobrir o local de saída dos ônibus", disse.
A viagem começou em Delhi e seguiu por Amritsar, Pathankot, Dharamsala, Mcleodganj, Dehradun, Rishikesh, Jaipur, Agra, Varanasi, Mumbai, Goa, Bangalore e Addis Ababa (Etiopia).
Uma das cenas mais marcantes foi vivenciada no destino mais esperado por Pri, em Varanasi. Lá, eles caminharam entre corpos sendo cremados a beira do rio Gange. "A região é uma das mais antigas do mundo, e a mais sagrada pro hinduísmo. Todos os mortos são cremados ali exceto crianças com menos de dez anos, grávidas e gurus, já que esses são considerados puros e têm amarrados em seus pés pedras e são jogados direto no rio", explica
Já para os "não puros" a coisa é diferente: os mais ricos têm mais madeira para a cremação, os mais pobres demoram para ser carbonizados. "O nosso guia, que era um morador da região, notou minha tristeza ao ver a cena. Ele disse que aquele era um momento de alegria, que eu não deveria ficar assim. Ele explicou que as pessoas estavam sendo cremadas na beira de um rio sagrado e por isso estavam atingindo o nirvana", completa.
Para a enfermeira, a Índia tem muito a ver com o Brasil no que diz respeito a desigualdade social. "Existem várias Índias dentro daqui sabe. Por exemplo, estou em Banglore e aqui é um luxo, é o Vale do Silicio da Índia", diz.
"O choque pra mim talvez não tenha sido grande porque sou de São Paulo e fazia trabalha em ONG com comunidades no Rio. Por isso sempre uso as duas cidades como exemplo de comparação, quando se fala em pobreza. Eu não acho tão distante a realidade do Brasil e da Índia", completa.
Existe a Índia religiosa, a Índia da extrema pobreza, a Índia milionária e a Índia em guerra, na fronteira com o Paquistão, área visitada pelo trio de brasileiros. "Diariamente eles fecham os portões da fronteira em uma cerimônia", lembra ela.
O povo de lá teme muito o terrorismo, principalmente depois dos atentados em Mumbai em 2008. "Você é revistado pra entrar nos shoppings e em cada estação de metrô. Aeroporto só entra quem tem ticket, por exemplo".
A cultura dos indianos permitiram que Pri visse coisas inimagináveis. Macacos andam pelas ruas, junto a vacas, camelos e elefantes. Ratos são tidos como animais sagrados em muitas cidades, por isso é comum enquanto se está dormindo no Hostel, encontrar um roedor passeando por ali.
"Vimos muita coisa nesses dias. Pessoas fazendo coco na rua, aos montes, enfileirados e batendo papo", relembra ela, meio chocada. A política local tenta combater esse ato mas é muito difícil porque a população acha higiênico: "as autoridades querem construir banheiros em todas as residências até 2019 mas é cultural".
Esses costumes acabaram proporcionando situações únicas na vida da viajante. Ela se viu andando de moto, numa cena típica de filme indiano. "Saí pelas ruas buzinando, e pilotando a moto por uma ponte, passando ao lado das vacas e macacos, foi incrível", se diverte ela.
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