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Diversão

No ritmo das ladainhas, Folia de Reis desce vilarejo de Piraputanga

Paula Maciulevicius | 05/01/2014 07:39
Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta. (Fotos: Marcos Ermínio)
Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta. (Fotos: Marcos Ermínio)

As ruas não asfaltadas do vilarejo de Piraputanga é palco da Folia de Reis neste final de semana. Ao som das ladainhas, o grupo de artistas de Campo Grande e Dourados resgataram o costume de Chica Baiana que já estava ficando esquecido.

Neste sábado, quem ouvia o batuque na rua e as vozes “cheguei meu povo, cheguei pra vadiar...” podia esperar que a folia bateria à porta, com a bandeira de Reis e as ladainhas na ponta da língua.

A primeira casa a receber Reis foi a de Chica Baiana. Na porta ela esperava sentada na cadeira de rodas e não teve como segurar as lágrimas. Foi surpresa, emoção, alegria e saudade. Um misto de tudo que transbordou no coração da baiana que para Piraputanga trouxe a tradição. “Viva Chica Baiana, viva Folia de Reis, viva Boi Bumbá”, entoava o grupo. Ela perguntou o que eles faziam ali, já que o combinado era passar por outras casas e terminar com ela. O produtor cultural e herdeiro do boi, Rony Petersom, de 29 anos, respondeu “viemos aqui pegar primeiro a benção. Puxa o Reis aí Chica”.

A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. Pelo movimento se perde as contas, mas era bem provável que estivessem umas 40 pessoas acompanhando a folia. “Vocês descem cantando essa que vocês chegaram, se perguntarem por mim, fala que eu estou dormindo e na segunda eu vou”, orientou.

A Folia começou na casa de Chica Baiana e só seguiu depois da benção dela.
A Folia começou na casa de Chica Baiana e só seguiu depois da benção dela.

Chica Baiana é Francisca Lopes da Silva. Dos 61 anos de vida, as últimas quatro décadas foram passadas ali, em Piraputanga. Vinda com a família para o Estado à época do início dos trilhos de trem na região e do escoamento da produção de café, a tradição de Reis e Boi Bumbá veio junto na bagagem.

Há dois anos a festa deixou de ser feita. Por conta da diabetes, Chica amputou um pé depois o outro e até que Rony tomasse à frente, o boi não fez a festa. O jovem é de família baiana e criado na comunidade, quando soube da intenção de levarem a bandeira e o boi de Piraputanga sem fazer a festa, ele deu o primeiro passo para trazer de volta o folgueto para o vilarejo.

Na avaliação de Chica, tudo correu bem. Ladainha certinha e até mais gente do que ela esperava. A emoção veio só à noite, quando ela ouvir os versos. “Por causa que a gente senta falta da festa, da saúde, dos pés. É folclore né? Eu entendo como tradição de santo e trouxe meu boi lá da Bahia”, explica.

Depois da prosa e da benção de Chica Baiana é hora de voltar à folia no vilarejo. A festa neste domingo era nas comunidades quilombolas, de furna dos baianos I e II. O encerramento é amanhã, com a Festa do Boi Bumbá.

O projeto tomou forma este ano, de voltar às ruas, depois de ser contemplado por dois editais de cultura. Do registro de fotos e imagens, ainda sai um documentário da folia. “A gente tinha esperança de que a festa não morresse e despertasse de vez e está aí a manifestação”, resume Rony.

A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. "Quando nessa casa entrei boa noite pessoa, boa noite gente boa".
A ladainha começa e a alegria se espalha pela casa. "Quando nessa casa entrei boa noite pessoa, boa noite gente boa".
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