Reunião sugere “separar públicos” e incluir música eletrônica no Carnaval 2020
Para evitar erros e esvaziar Esplanada Ferroviária, Sectur quer retomar plano de ação sugerido em 2018
Unir o trabalho de todos os seguimentos do Carnaval para um plano de ação abriu a primeira reunião entre a Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), músicos, representantes de blocos e escolas de samba. A ideia foi aceita em “partes” e a discussão de uma hora e meia só repetiu problemas do passado. Entre separar o público e retomar a festa popular, o lançamento de um bloco com música eletrônica foi a única novidade da noite.
O encontro pontuou problemas, como os repasses de recursos para a Lienca (Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande) e Blocos Oficiais da Ablanc (Associação dos Blocos, Bandas, Cordões e Corso Carnavalesco Cultural de Campo Grande), falta de segurança, banheiros aos blocos independentes e a necessidade da volta do Carnaval popular para esvaziar a Esplanada Ferroviária.
Titular da Sectur, a publicitária Melissa Tamaciro esclareceu que a proposta inicial é de um trabalho em conjunto, mas com produção de atrações separadas. A divisão desafogaria a região histórica, que já não suporta a “carga” de público dos últimos anos.
“Eu, olhando como público vejo que temos espaços para evitar uma multidão em um só espaço. É legal que as atrações sejam separadas. A ideia é criar um cardápio de possibilidades para que as pessoas queiram fazer esse giro e não ficarem concentradas em um único espaço”, explicou.
Um dos interessados em incluir novidade para o ano que vem, foi o Dj André Garde, de 37 anos. No ramo há 18 anos, ele quer levar o público que curte eletrônico para a Praça São Chico.
“A ideia é um bloco que já está acontecendo há um bom tempo, em São Paulo, Rio Brasília. O primeiro bloco oficial de música eletrônica em São Paulo começou em 2016, que é o Unidos do BPM, também tem o Bloco D.Rrete e a ideia é trazer essa galera que gosta da música eletrônica e não tem para onde ir no Carnaval. A gente fazia um evento gratuito na Praça São Chico, e queremos fazer a mesma coisa, só que no Carnaval. Ainda é um nome de brincadeira, mas acho que deverá se chamar Eletric Sucuri”, disse.
A ideia se encaixa com uma das propostas de Melissa, que é o de incluir todos, nos cinco dias de folia, até quem não gosta do Carnaval. “Se conseguirmos olhar além e entender o que cada grupo atrai de público, acho que um seguimento vai cooperar com o outro. Eu acredito no trabalho coletivo. Se a gente conseguir fincar a bandeira de diversidade, nós podemos envolver pessoas que também não gostam especificamente do carnaval”, defendeu a publicitária Melissa Tamaciro, titular da Sectur.
Para evitar erros, a secretária apontou que bloquinhos, escolas de samba, clubes, comércio (14 de Julho e corredores, gastronomia, shoppings), entidades representantes e imprensa poderiam se unir para fazer da festa um marco na história.
Vítor Samúdio e Angela Monteavão, do Bloco Capivara Blasé, admitiram que há possibilidade de um trabalho em conjunto, mas esclareceram sobre a diferença de cada seguimento e os reflexos com o público.
“Temos as escolas de samba, que se movimentam junto a Lienca, a Ablanc que inclui a competição e o terceiro que sãos os blocos de rua, como a Valu, Capivara Blasé e Evoé Baco que é uma espontaneidade do movimento popular e que no ano passado levou mais 40 mil pessoas para a Esplanada”, pontuou.
“Na Liga das Escolas de samba se insere como contemplativo, no caso das famílias que vão até a Praça do Papa a assistir. Depois a Ablanc que junta o contemplativo e participativo e por último os blocos de rua, que não têm disputa e são 100% participativos”, completou Angela.
Para o presidente da Lienca, Eduardo de Souza Neto, a mistura de ritmos e públicos já está presente no Rio de Janeiro e poderia ser copiado aqui. “Essa diversificação de público já ocorre muito no Rio de Janeiro. Quando se faz um evento rola de tudo e isso agrega. A questão do DJ acho muito importante, o público já vem pedindo a inclusão nos camarotes do desfile”, frisou.
Problemas diferentes – Enquanto os blocos independentes enfrentam problemas com o espaço. O problema das escolas e blocos de associação é o recurso tardio. A diretora financeira da Escola Catedráticos do Samba há 16 anos, a investigadora da Polícia Civil Maria Campos garantiu que o trabalho de escolas e blocos já anda lado a lado.
“As escolas e blocos se unem. Os blocos não tem bateria e nos tocamos para eles. Nosso grande problema é o recurso não vir em tempo hábil. Nós fazemos nossos eventos, a gente não espera só o dinheiro do poder público, é que nós temos de vestir mais de 700 pessoas da cabeça aos pés, não posso levar o pessoal para a avenida sem sapatilha. Se fosse depender só do dinheiro público a gente colocava 100 pessoas”, pontuou.
Melissa adiantou que pediu a antecipação da prestação de contas, mas que a reunião tinha outro foco. “Nos ainda não vamos discutir finanças, mas a dúvida é: como podemos atender a todos? qual a adesão? Como trazer o privado, já que muitas empresas poderiam contribuir”, indagou Melissa.
Segurança e banheiros – Silvana Valu ressaltou que os blocos independentes não recebem verba pública, custeia a própria estrutura e, inclusive possui os próprios patrocinadores. O problema é a burocracia para se conseguir segurança e banheiros.
“Nós éramos cinco blocos e esse ano nós passamos a ser só dois, por conta da burocracia. E isso é o que pesa para nós. Antes nós mandávamos ofício para a Sectur e a própria secretaria encaminhava para a PM. Agora eles não aceitam que nós façamos a entrega, é necessário um ofício da prefeitura solicitando isso. Nós precisamos de banheiro e segurança pública”, frisou Silvana.
A individualidade – Vitor ressaltou que é preciso chegar a um entendimento da complexidade do Carnaval e de cada manifestação. Principalmente, porque, hoje, o Carnaval dos blocos é o mais barato para o poder público e ao mesmo tempo o que arrasta multidões.
“Eu acho que a gente precisa separar o que cada um dos grupos precisa para depois incluir novidades, no caso, desse ano incluir clubes. Não vemos a necessidade de um patrocínio para que aconteça o Carnaval, mas precisamos de banheiro químico e de outras questões que tem a ver com a população”, pontuou.
Interlagos? A volta do Carnaval popular – nos moldes do que acontecia na Fernando Corrêa da Costa - foi apontado novamente como uma solução para desafogar a Esplanada. Mas nada foi confirmado com relação a Interlagos.
“A área da Esplanada não aguenta uma carga de 40 mil pessoas e a gente está a um ponto de ter a exclusão da Esplanada do Carnaval. O MP não quer mais que aconteça. Eu acho que o Carnaval é estratégico para ocupar a área, mas a gente tem de achar um jeito”, repetiu Melissa.
Vitor defendeu a permanência dos blocos independentes e reiterou que o fluxo só aumentou por falta de opção. “Os blocos se tornaram o cartão postal da Esplanada. Se tirar dali e colocar em outro lugar as pessoas não vão. No ano passado seria na Interlagos, mas a volta do Carnaval popular é importante. Muitas pessoas vão para Esplanada por não ter aonde ir e a gente não pode privar o cidadão, principalmente de um lugar público. Enxergar essas questões é fundamental”.
No mesmo raciocínio, o músico Bugalu completou com sua experiência em carnavais populares. “Quando acabou o carnaval da Fernando Corrêa, os cordões foram afogados. Muita gente nem gosta da música dos blocos populares, mas vão por não ter aonde ir”, disse.
Diante de uma discussão sem evolução, os representantes decidiram otimizar o trabalho entregando um documento com dados à Sectur. Além disso, escolheram se reunir separadamente com a secretária, antes de uma segunda reunião conjunta.