Chimia é doce gaúcho que carrega memória afetiva e muito gosto de frutas
Bem doce, o gosto do açúcar é marcante na massa pastosa de fruta, a "chimia", doce que gaúcho aprende a gostar na infância, usado como geléia, sobre o pão feito em casa. É uma das tantas heranças culturais da colonização europeia e também um gostinho de nostalgia para quem cresceu comendo a receita da bisavó, que resiste ao tempo até chegar na geração de hoje.
A diferença com a geléia tradicional é que a massa da fruta é a base, não só o caldo. O potinho, além do sabor da estação, tem muita história guardada da família Sudbrack, que é um exemplo de muitas outras imigrantes do sul.
O termo chimia vem do alemão Schmier, que significa “algo pastoso”. Com as condições climáticas dos países europeus, algumas frutas aparecem uma vez ao ano rapidamente. Então, para conservar, e poder saborear por mais tempo, na Alemanha surgiram as compotas, geléias e chimias.
A fruta apurada com açúcar, mesmo sem conservantes, ganha a duração de até seis meses. O segredo da chimia não está nos ingredientes, que envolve apenas a polpa da fruta e o açúcar, mas sim na maneira de apurar. O quitute só fica pronto depois de muitas horas de tacho no fogo.
Quando os imigrantes vieram para o Brasil, se encantaram com a quantidade de frutas no país tropical e o doce ganhou um pouco do gosto tupiniquim, com sabores como goiaba, abacaxi e outras frutas comuns por aqui.
“Quando eu era criança, meus avós moravam na fazenda, sempre trabalharam com lida no campo. Então, todos os dias, minha avó preparava uma merenda para levar para a roça. Ela fazia uma chimia com sustância, então eles juntavam abóbora, chuchu, batata doce e, ao invés de açúcar, colocava melado”. Essa é apenas um das lembranças de Cynthya Sudbrack, de 57 anos, dona do Atêlie Charmosa, que produz o doce artesanal, caseiro e natural, para venda em Campo Grande.
As produções dependem muito da época e das encomendas. “No mercado tem fruta o ano inteiro, mas senão é dá época, ela não tem sabor, não serve para fazer chimia”, pontua. Falar do doce feito com tanto carinho despertou na empresária e artesã lembranças da infância.
“Lá na vó, no inverno, quando não dava para brincar na rua, a gente ajudava a costurar sacos de papel. Na floração do pomar, toda a família trabalhava para ensacar as frutas, uma por uma. Não se usava nenhum produto químico, os saquinhos de papel manteiga protegiam as frutas dos bichos e na hora da colheita a fruta estava perfeita. As mais bonitas viravam compotas, com a casca era feita a geleia e as que já estavam um pouco amassadas viravam chima. Aproveitava 100% da fruta, não dispersávamos nada”, lembra.
Cynthya mudou-se para a Capital há 28 anos. Depois, a mãe Reny Graeff Sudbrack, de 83 anos, também veio morar por aqui, além de construir uma carreira como musicista, ajuda a filha nas produções do ateliê.
As tradições alemãs trazidas na mala por mãe e filha hoje servem as mesas, levando cultura gastronômica para quem aprecia a herança gaúcha.