Moda do rodízio toma conta da cidade e tem gente pagando caro pelo desperdício
Taxa é alternativa, encontrada por muitos restaurantes, para não permitir que clientes exagerem na dose e comida no prato.
Primeiro era só de churrasco, depois veio a pizza, o sushi, o hambúrguer, o açaí e hoje o que não falta em Campo Grande é rodízio, com tudo ao mesmo tempo, preço fixo e porções à vontade. É tanta comida, que o olho cresce e a fartura faz muita gente exagerar. Por isso, os donos de rodízios instituem cada vez mais a taxa de desperdício, para evitar que os clientes joguem comida fora. Mas será que os empresários têm coragem de cobrar e se indispor com a clientela? A gente saiu a campo para verificar.
De saída, percebemos que o aviso em placa na parede nem sempre adianta. Tem restaurante que chega a cobrar o desperdício duas vezes em uma semana e não falta cliente folgado.
O alerta da cobrança existe em qualquer casa para conscientizar quem 'tem olho maior que a barriga'.
No Império do Sushi, o sistema de bandeja diminui o desperdício porque o cliente acaba tendo o bom senso de só pegar aquilo que realmente tem vontade, mas há sempre aqueles que chegam a deixar mais de 10 de sushis no prato.
Há 8 anos no comércio, o proprietário Bruno Henrique Nascimento tenta ser maleável, usa a placa como aviso, mas nem sempre chega a cobrar, exceto quando vê o que cliente está realmente desperdiçando. "Se houver 3 pessoas na mesa e for deixado 6 sushis no prato, não considero isso desperdício. Mas quando essa quantidade é por pessoa, isso é considerado, porque equivale a metade de um à la carte, por exemplo", explica.
Na cobrança, cada sushi desperdiçado sai a R$ 2,00 e tem gente que até reconhece que exagerou. "Hoje, a maioria dos clientes tem bom senso, sabe que os garçons também estão atentos e quando desperdiçam, são eles mesmos que na maioria das vezes pedem para cobrar", afirma.
A dificuldade é cobrar o cliente, sem parecer abusivo e acabar detonado nas redes sociais. O método é deixar um aviso como forma de educar. É assim no Mini Delícias, rodízio de lanches e pizzas que abriu há dois meses na cidade.
"Hoje, eu tento conscientizar o meu cliente, por isso a plaquinha é para alertar. E se eu vejo que o cliente está desperdiçando, vou até a mesa, pergunto se a comida está boa ou se desejam alguma mudança, isso também ajuda", explica o sócio-proprietário Adilson Almeida dos Santos.
Ali nunca houve cobrança para não perder o cliente. "Os casos também são muito esporádicos, mas não tenho como cobrar. Eu prefiro perder um pedaço de massa do que perder o nosso cliente", afirma.
O problema é que, se não cobrar, muitas vezes o valor do desperdício já é embutido no preço geral da casa, para a empresa não ter prejuízo.
Por isso, com 37 anos de experiência, um dos proprietário do Canto Gastronômico, Armando Costa de Oliveira, é do tipo que não tem medo de cobrar de quem realmente é responsável pelo problema. "Sempre adotei esse critério. Com tanta gente passando fome no mundo, questiono como é possível jogar fora uma comida que poderia servir outra pessoa", questiona.
O lado bom é que o rodízio na Avenida Bom Pastor é um dos mais baratos da cidade, só R$ 29,90, com 42 pratos, porque o valor "jogado fora" não é rateado no preço geral do restaurante. A conta fica realmente para quem pisa na bola.
Com avisos por toda parte, na hora da cobrança a casa calcula por peso e a taxa extra começa em R$ 5,00. "A gente vê que há desperdício quando o cliente deixa acima de 400 gramas no prato, alimento suficiente para uma pessoa", explica.
Mas esse é sempre o último recurso. "A gente também precisa trabalhar com o bom senso. Se apenas uma pessoa desperdiçou em uma mesa com 9 pessoas, por exemplo, não consideramos isso um desperdício. Mas se há uma dupla e cada uma 400 gramas no prato, essa dupla deu prejuízo", afirma.
Muitas vezes a cobrança afasta o cliente, mas ele não abre mão do critério. "Às vezes o cliente acha ruim. mas o mais importante é que ele não faça de novo. Corro o risco de perder o cliente? Sim. Mas por outro lado eu acho que a nossa empresa está contribuindo, porque a próxima vez que ele for em um restaurante, ele não vai desperdiçar porque já sentiu o peso no bolso".
Tradicional na cidade, dos 16 anos de Pizzaria Giuseppe a casa só cobrou uma vez pelo desperdício. É o que diz o gerente Everton Cândido que trabalha ali desde o começo do estabelecimento.
Segundo ele, chegou a ser surreal o desperdício de um casal de clientes. "Parecia que toda pizza estava ruim. O garçom servia um pedaço, eles mordiam a pontinha e jogavam todo o restante no pratinho. Aquilo chegou a ser um desaforo pra gente, por isso o desperdício foi cobrado".
Muitos clientes têm dúvidas sobre a borda, mas o gerente adianta que não é considerado um desperdício. "A borda ninguém é obrigado a comer, isso a gente entende. Tanto que deixamos um prato especialmente para o descarte delas. Mas a pizza temos um pedaço padronizado, pequeno, para que o cliente experimente de tudo e não deixe no prato".
Everton reforça que a tática mais recorrente é diminuir a passada de pizza na mesa. "Se a gente vê que o cliente está deixando muitos pedaços de lado, o garçom passa menos vezes".
Outra dificuldade dos restaurantes é com relação as crianças que ficam brincando com a comida.
Na Pizzaria Splendore, o sócio-proprietário Julio César da Silva considera absurdo quando os pais não advertem os filhos. "Não uso placa e nem cobro, mas observo. Tem cliente que deixa o filho pegar todos os sabores e não comer nenhum, acho que absurdo. Adulto não conscientizar o filho que o desperdício é feio. Educação vem de casa", ensina.